Beau Tem Medo (“Beau Is Afraid”)

Houve duas revoluções no gênero terror na última década: uma comercial e outra artística.

A primeira foi a comercial e capitaneada por James Wan. O cara sozinho conseguiu criar as três maiores franquias de sucesso da atualidade: “Jogos Mortais”, “Invocação do Mal” e “Sobrenatural”. Com a carta branca de Hollywood ele ainda teve êxito em outros gêneros, dirigindo o ótimo “Aquaman” e “Velozes e Furiosos 7”, a melhor parte da franquia.

A outra revolução foi artística, onde o estúdio A24 despontou nas mãos do diretor Ari Aster que fez no mínimo um dos filmes mais assustadores de todos os tempos, “Hereditário”. Para provar que não era chuva de verão, subverteu o gênero em outro triunfo artístico, “Midsommar”. Só que aí, o estúdio deu carta branca para se aventurar em outros gêneros e ele afundou com esse pavoroso “Beau Tem medo”.

As 3 piores horas na vida de um espectador se resume numa pretensa jornada Kafkaniana de Beau, um personagem cheio de distúrbios mentais que embarca numa interminável viagem para ir ao enterro de sua mãe.

Antes de continuar, o termo Kafkaniano é elativo a Franz Kafka (1883-1924), escritor de língua alemã nascido em Praga, à sua obra ou ao seu estilo que é confuso, ilógico ou absurdo. Só que o diretor confundiu os três adjetivos citados com sem propósito e é nessa confusão que ele fez o seu pior filme e uma das grandes bombas do ano.

Joaquin Phoenix de “Sempre em Frente”, coitado, fez o que pôde. E pôde muito pouco. Seu personagem é constantemente miserável e parece estar num constante estado de topor. Até aí tudo bem, não fossem as inúmeras situações que, muito além de absurdas, não trazem nenhum propósito à história. Aliás, nem há sequer um fiapo de história, pois o roteiro se debruça em tudo, menos no protagonista, que parece à margem de tudo que acontece, com poucas exceções.

Todos os simbolismos são mal acabados (você vai conhecer uma bolsa escrotal gigante), as analogias ou rimas narrativas sempre ficam pela metade, sem nenhuma espécie de desfecho, nem mesmo o subjetivo. É como se no meio do filme, histórias que nada tem a ver com a trama que nem existe, começassem e não terminassem somente para abrir as portas para outras histórias inacabadas sem nenhuma relação entre si ou com a sua essência.

O final só existe para fazer o público passar raiva ou tentar achar alguma explicação impossível de existir.

Muito pior que apenas um filme ruim, “Beau Tem Medo” promete algo que já se queima na largada e apenas os muito esperançosos vão chegar até o final, só para descobrirem que a esperança é a única que morre.

Curiosidades:

  • O filme foi baseado num curta metragem chamado “Beau” do próprio diretor Ari Aster feito em 2011 com uma história muito semelhante. Com carta branca de Hollywood ele conseguiu revisitá-la e fazer esse filme de 3 horas de duração.
  • Detalhe: o primeiro corte do filme tinha 4 horas de duração.
  • Joaquin Phoenix colocou pequenos pins nas suas bandagens para que na hora das cenas isso fizesse com que ele sentisse dor de verdade e assim melhorasse sua performance.
  • Ao ver o trailer, muita gente pensava que a versão jovem de Beau era o ator Joaquin Phoenix com efeitos especiais. Mas na verdade é o ator Armen Nahapetian que tem uma assustadora semelhança com Phoenix.

Ficha Técnica:

Elenco:
Joaquin Phoenix
Patti LuPone
Amy Ryan
Nathan Lane
Kylie Rogers
Denis Ménochet
Parker Posey
Zoe Lister-Jones
Armen Nahapetian
Julia Antonelli
Stephen McKinley Henderson
Richard Kind
Hayley Squires
Julian Richings
Bill Hader
Alicia Rosario

Direção:
Ari Aster

História e Roteiro:
Ari Aster

Produção:
Ari Aster
Lars Knudsen

Fotografia:
Pawel Pogorzelski

Trilha Sonora:
The Haxan Cloak

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