Vidas Passadas (“Past Lives”)

Vidas Passadas” vai te maltratar e partir seu coração. E você vai adorar.

A trama da cineasta estreante Celine Song não poderia ser mais simples: a história é sobre o relacionamento de dois coreanos desde a infância e suas idas e vindas durante 24 anos, logo após se afastarem quando os pais de Nora migram para os EUA. É uma mistura de “Minari – Em Busca da Felicidade” com “Antes do Por do Sol”.

Há dois trunfos cruciais: o primeiro é Greta Lee (“Ruim Pra Cachorro”), Nora, que é uma força da natureza, apaixonante e um dos motores emocionais do filme ao lado do ainda desconhecido Teo Yoo que faz seu par Hae Sung, quando ambos já estão adultos. Ela consegue exprimir um caleidoscópio de emoções só com o seu olhar.

Ainda assim, Yoo é essencial e faz um complemento da relação razão e emoção que existe entre os dois personagens, onde o espectador vai descobrir que é impossível viver só de um desses elementos. Também há subestimado John Magaro de “Igualdade e Justiça” que é o terceiro elemento muito importante que tem uma singela atuação, principalmente rumo ao final.

O segundo trunfo é a direção certeira de Celine Song e seus simbolismos, como por exemplo, a primeira separação onde a tomada mostra a divisão de caminhos separada por uma porta (alusão há passagem) onde Nora sobe uma escada (alusão à evolução), enquanto Hae Sung (Yoo) continua andando no chão plano (estabilidade); ou ainda a cena final que – sem spoilers – mostra as direções entre passado e futuro (se já viu o filma, vá em curiosidades mais abaixo).

Mas não só isso: a diretora constrói muito bem os contextos que situam emocionalmente os personagens, através de ótimos diálogos, às vezes bastante duradouros, ou olhares que perduram. A cena das conversas via Internet foi primorosamente desenhada e o desfecho chega a ser arrasador, inclusive com uma música belíssima.

Vidas Passadas” é daqueles romances que ao mesmo tempo é pé no chão, mas te encanta como uma magia.

Curiosidades:

  • Greta Lee precisou de aulas de coreano. Já Teo Yoo que faz um personagem que quase não fala inglês, na verdade não só fala inglês fluente, como é poliglota, falando mais três línguas.
  • O filme é baseado vagamente na vida da própria diretora que recepcionou um antigo amigo de colégio da Coréia juntamente com seu marido americano. Ela também migrou da Coréia para os EUA e seu pai também era um cineasta.
  • Mesmo antes de se conhecerem para o filme Teo Yoo e Greta Lee moravam há poucas quadras de distância em Nova York.
  • As cenas da conversa via Skype foram feitas em tempo real em sets diferentes onde os técnicos controlavam a velocidade e os travamentos da conexão para que as reações dos dois artistas fossem autênticas.
  • A música que toca na cena do bar, próximo ao final é “Don’t Look Back” (“Não olhe para trás”) da banda Them ft. Van Morrison.

***SPOILERS – LEIA SOMENTE APÓS TER ASISSTIDO AO FILME***

  • A primeira cena filmada foi quando Hae Sung conhece o marido de Nora (Magano). Os atores só se conheceram na hora da cena, pois a diretora queria dar essa sensação de autenticidade na dinâmica entre os dois.
  • O desfecho é uma analogia ao passado e ao futuro: quando Nora e Hae Sung caminham para ele pegar o Uber, eles vão da direita para a esquerda, emulando uma volta ao passado. Então ele pega o Uber e continua indo para a esquerda, como se fosse ainda mais ao passado, enquanto Nora volta pelo mesmo caminho no sentido inverso, como se seguindo para o futuro (ou melhor, o seu presente).

Ficha Técnica:

Elenco:
Greta Lee
Teo Yoo
John Magaro
Moon Seung-ah
Leem Seung-min
Ji Hye Yoon
Choi Won-young

Direção:
Celine Song

História e Roteiro:
Celine Song

Produção:
David Hinojosa
Pamela Koffler
Christine Vachon

Fotografia:
Shabier Kirchner

Trilha Sonora:
Christopher Bear
Daniel Rossen

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