Com a polêmica do aborto nas mídias, “Disque Jane” surge como uma ótima reflexão baseada numa história real e como um excelente trabalho cinematográfico.
Em 1968 a lei nos EUA era bem mais dura (quase como é o Brasil em 2024), sendo que a mulher só poderia fazer aborto com real risco de vida. Elizabeth Banks (“As Panteras”) é Joy, mãe de família que engravida novamente, mas quando descobre que há uma chance de ela ter complicações fatais e o hospital não quer fazer o aborto, fica desesperada.
Então ela acha um número de telefone com o nome de “Jane” e então ela descobre um grupo de mulheres lideradas por Virgínia (Sigourney Weaver de “Avatar”) que ajudam mulheres com gravidez indesejadas a realizar o aborto. Joy então passa a ajudar o grupo secretamente.
Importante esclarecer que a obra tem um claro posicionamento de que a mulher é dona de seu próprio corpo, apesar de citar que todas tem um prazo limite – as 22 semanas – para poderem realizar o procedimento. Dessa forma o roteiro é claro em exaltar a evolução das leis americanas que em 1973 passaram a legalizar aborto (saiba mais em curiosidades).
Banks e Weaver fazem trazem uma química sensacional para a tela com a personagem Joy como aquele tipo de conservadora que no início se mostra hipócrita, mas que depois se converte à causa, versus a eterna ativista Virgínia. Ambas têm camadas complexas que vão muito além dos estereótipos da época e tratam o tema como uma discussão cheia de nuances, além de ter ótimas pequenas subtramas orbitando em torno da linha principal que vai desde o racismo estrutural, até mesmo a relação de confiança com a família.
O design de produção e reconstituição de época estão impecáveis, enquanto Isabella Summers que já tinha marcado um golaço na trilha sonora de “Lisa Frankestein”, acerta mais uma vez.
“Disque Jane” é cinema de gente grande onde o cunho artístico e discussão crítica se alinham para um ótimo resultado.
Curiosidades:
- Uma decisão da corte americana de 2022 reverteu a lei de 1973 que estabelecia o direito constitucional ao aborto, sendo que agora cada Estado Americano pode legislar sobre o tema. Muitos estados implementaram ou reforçaram leis que restringem severamente o aborto, enquanto outros estados mantiveram ou expandiram o acesso ao aborto.
- A parte real da história é a existência desse grupo de mulheres que auxiliavam aquelas com problemas e que se autodenominavam Jane. Jane nunca foi uma pessoa apenas, mas o grupo.
- A maioria da equipe – diretora, roteirista, diretora de fotografia, compositora – são todas compostas por mulheres.
Ficha Técnica:
Elenco:
Elizabeth Banks
Sigourney Weaver
Chris Messina
Kate Mara
Wunmi Mosaku
Cory Michael Smith
Grace Edwards
Kristina Harrison
Rebecca Henderson
Aida Turturro
Evangeline Young
John Magaro
Geoffrey Cantor
Alison Jaye
Bianca D’Ambrosio
Direção:
Phyllis Nagy
História e Roteiro:
Hayley Schore
Roshan Sethi
Produção:
Claude Amadeo
Robbie Brenner
Lee Broda
Michael D’Alto
Kevin McKeon
David M. Wulf
Fotografia:
Greta Zozula
Trilha Sonora:
Isabella Summers