Saltburn

Depois do ótimo “Bela Vingança” a diretora (e atriz) Emerald Fennell faz mais um filme ousado e capricha na abordagem narrativa diferenciada.

Originalidade é a palavra de ordem aqui, pois desde o título a fonte foi feita exclusivamente para o filme, o qual fala de Oliver (Barry Keoghan de “Os Banshees de Inisherin”), um aluno nerd que começa a faculdade e começa uma amizade com o ricaço Felix (Jacob Elordi, o nosso Elvis de “Priscilla”), que habita uma bolha social completamente diferente da dele.

Eis que Felix convida Oliver para passar as férias na mansão com a sua estranha e manipuladora família, que tem como diversão fazer troça com quem é de classes mais pobres. O que eles não sabem é que por trás da inocência de Oliver, há alguém que sabe o que quer e vai fazer de tudo para conseguir.

A narrativa aqui se confunde com a linguagem audiovisual, onde cenografia e figurino denotam o quanto a riqueza consegue degradar as pessoas fisicamente e em espírito, com todos os personagens da família de Felix sendo seres sem empatia pelo próximo, ao mesmo tempo em que o próprio Felix tem uma bondade com valores subvertidos que, no fundo, é uma mera tentativa de autopiedade.

Cada cômodo do casarão e mesmo seu exterior são reflexo dessa degradação, mas também do desejo de Oliver, que parece viver numa relação intrínseca de amor homoerótico e ódio com Felix. A diretora conseguiu inclusive criar cenas chocantes sem necessariamente ter nenhum contato físico (Ex: cena da banheira e cena do cemitério).

Ela também extraiu ótimas atuações, dando um verniz de realismo a personagens a princípio caricaturais, além de se unir a uma fotografia (por Linus Sandgren de “Babilônia”) com cores e iluminação que sempre traduzem o que a cena quer passar ao espectador.

A cereja do bolo fica por conta da trilha sonora escolhida a dedo: as três principais músicas da trilha falam exatamente o que está acontecendo naquele momento-  Mr. Brightside do The Killers, Rent do Pet Shop Boys e Murder on the Dancefloor da Sophie Ellis Bextor.

O desfecho tem todos os elementos de um ótimo suspense com uma dessas trilhas sonoras que exalam sua própria ousadia.

Saltburn” é um ótimo e divertido enfoque da luta de classes com uma linguagem diferenciada, boas reviravoltas e ótimas atuações.

Curiosidades:

  • A estátua do Minotauro foi esculpida usando o corpo de Barry Keoghan como referência.
  • A atriz Rosamund Pike morou na mansão onde se passa o filme durante as filmagens.
  • A mansão Saltburn na verdade se chama Drayton House e foi construída por volta do ano 1300 na Inglaterra.
  • Os créditos iniciais foram todos feitos com a técnica stop motion e levaram meses até finalizar.
  • A música mais cara para licenciar foi a do The Killers e depois a do Pet Shop Boys, pois fazer os artistas cantarem a música no filme é mais caro do que simplesmente passar a música. É a modalidade chamada “visual vocal”.
  • Como já dito cada música tem seu significado no filme:
    • Mr. Brightside do The Killers fala sobre sair de uma traição.
    • Rent fala sobre estar numa relação por dinheiro.
    • Murder on the Dancefloor fala sobre assassinato (se bem que a música em si faz uma analogia a matar a pista de dança quando o DJ coloca uma música ruim).
  • Felix e sua irmã tem a mesma tatuagem de estrelas, e a tatuagem Carpe Diem de Felix tema tem a mesma fonte que a do brasão da família.
  • Parte do figurino foi emprestado pela própria diretora, das roupas que ela usava entre 2006 e 2007 (onde se passa o filme).
  • Há uma cena em que um professor diz que todas as leituras recomendadas pela Universidade de Oxford antes de se entrar lá são extensas e incluem a Bíblia. Isso é verdade.
  • Também há uma cena em que se reclama que os dormitórios de Oxford não têm ar-condicionado. Outra verdade.
  • Há outra cena em que se fala que a família Stopford-Sackvilles cancelou sua vinda ao evento em Saltburn. Na “vida real”, essa família é a dona da mansão.

***SPOILER – LEIA SOMENTE DEPOIS DE ASISSTIR AO FILME***

  • Há uma cena em que Oliver diz que é um vampiro. No filme ele acaba sendo um alpinista social que drena as pessoas para seus próprios fins, o que cabe no conceito de vampiro de “energia”.
  • Barry Keoghan tinha um diário de anotações para cada personalidade de Oliver, como se o personagem tivesse um transtorno de personalidade. Ao todo foram 5 diários (personalidades).
  • A diretora apelidou a personalidade “real” de Oliver de Minotauro.
  • A cena em que a mãe de Felix descobre ele morto no labirinto foi toda filmada, mas não aparece no filme. Tudo foi feito apenas para que o grito da atriz Rosamund Pike parecesse o mais real possível.
  • A idéia de se despir no túmulo de Felix foi de Barry Keoghan.
  • A fantasia de Oliver em sua festa de aniversário é de veado, pois ele aparenta ser uma presa, quando na verdade é o predador.

Ficha Técnica:

Elenco:
Barry Keoghan
Jacob Elordi
Archie Madekwe
Richard E. Grant
Rosamund Pike
Carey Mulligan
Alison Oliver
Sadie Soverall
Richie Cotterell
Millie Kent
Will Gibson
Tasha Lim
Aleah Aberdeen
Matt Carver
Ewan Mitchell
Saga Spjuth-Säll
Paul Rhys
Joshua Samuels
Julian Lloyd Patten
Lolly Adefope
Joshua McGuire
Dorothy Atkinson
Shaun Dooley

Direção:
Emerald Fennell

História e Roteiro:
Emerald Fennell

Produção:
Emerald Fennell
Josey McNamara
Margot Robbie

Fotografia:
Linus Sandgren

Trilha Sonora:
Anthony Willis

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