A diretora Sofia Coppola de “On the Rocks” fez do limão, uma limonada. Ela adaptou o livro de Pricilla Presley sobre seu relacionamento com o icônico Elvis, o qual o retrata como machista e misógino. Por conta disso o espólio do cantor, encabeçado pela filha de Priscilla, Lisa Marie Presley, filha de Priscilla, não só se posicionou contra a materialização da obra, como também proibiu Coppola de usar qualquer música de Elvis no filme. Então ela decidiu fazer algo completamente diferente onde quase não se mostra o Elvis como cantor, mas sempre sua vida caseira com Priscilla.
É interessante porque há menos de 2 anos, tivemos o musical biográfico “Elvis” de Baz Luhrmann, o qual parece ser o outro lado da moeda, visto que retrata mais especificamente a carreira do cantor e sua relação com o Coronel, interpretado por Tom Hanks. Em “Priscilla” o Coronel nunca aparece, a não ser pelo telefone falando com Elvis. É como se cada filme retratasse aspectos mutuamente excludentes de sua vida.
Mas aqui, o personagem central é Priscilla, interpretada pela apaixonante Cailee Spaeny do remake de “Jovens Bruxas”, enquanto quem veste a “camisa” de Elvis é Jacob Elordi de “Águas Profundas”.
O que torna a produção muito boa (mas não sensacional) é o equilíbrio: a diretora poderia ter retratado o cantor como um mostro (que não foi), dependendo de sua abordagem, mas preferiu fincar o pé um pouco mais na realidade e passou, quase de forma episódica, pelos momentos bons e ruins de um relacionamento duradouro que pelo comportamento errático e muitas vezes tóxico do cantor e também pelo contexto de seu sucesso, foi se desgastando até o limite.
Claro que fazer uma escolha de equilibrar os pratos, pode gerar um ritmo mais lento, ou melhor, mais calmo e por isso o espectador vai gostar do resultado na medida em que entra e se aprofunda no psicológico dos personagens.
Este, por fim, é o ponto alto: a dupla Spaeny e Elordi está excelente. Cailee Spaeny consegue passar suas emoções de uma forma singela e certeira e Jacob Elordi fez o Elvis dos sonhos, como na diretriz da diretora, equilibrando momentos de amor, com puro machismo e ódio. Aliás a diferença de altura entre os artistas, Spaeny baixinha e Elordi muito alto, traz uma atmosfera de ameaça física que por si só consegue mexer com o psicológico de quem é mais fraco.
O final ao som da emblemática “I Will Always Love You” de Dolly Parton (veja nas curiosidades porque emblemática) é a cereja do bolo de um drama cativante, mesmo que com uma narrativa mais branda, sobre um relacionamento de amor e abusos, o que pode criar afinidade com o espectador por ser a realidade de tantos outros. A arte como a vida é.
Curiosidades:
- A música “I Will Always Love You” havia sido escrita por Dolly Parton para que Elvis cantasse. Só que o Coronel destratou a cantora e fez exigências tão absurdas que Parton ficou inconsolável e retirou a oferta a Elvis, e cantou ela mesma a música, o que se tornou um sucesso tão grande que na década de 90 foi regravada por Whitney Houston, repetindo o sucesso. É emblemática no final, pois a história é análoga ao fato de que o espólio de Elvis não deixou a diretora Sofia Coppola usar nenhuma de suas músicas no filme.
- Lisa Marie Presley, filha de Elvis, morreu antes do filme ser exibido.
- Elvis e Priscilla tinham 10 anos de diferença. Os artistas Cailee Spaeny e Jacob Elordi tem apenas 1 ano de diferença.
- O prima diretora Sofia Coppola é ninguém menos que Nicolas Cage e ele já namorou com Lisa Marie Presley.
Ficha Técnica:
Elenco:
Cailee Spaeny
Jacob Elordi
Ari Cohen
Dagmara Dominczyk
Tim Post
Lynne Griffin
Dan Beirne
Rodrigo Fernandez-Stoll
Dan Abramovici
Matthew Shaw
Tim Dowler-Coltman
R Austin Ball
Olivia Barrett
Stephanie Moore
Luke Humphrey
Deanna Jarvis
Jorja Cadence
Josette Halpert
Evan Annisette
Direção:
Sofia Coppola
História e Roteiro:
Sofia Coppola
Produção:
Sofia Coppola
Youree Henley
Lorenzo Mieli
Fotografia:
Philippe Le Sourd
Trilha Sonora:
Phoenix
