Babilônia (“Babylon”)

Todo filme pode ser dividido em seus elementos, como atuação, história, roteiro (são coisas diferentes), fotografia, efeitos especiais, trilha sonora, sonoplastia (coisas diferentes), e muitas outras coisas. E cada elemento desses numa produção vem das mais diferentes fontes. O premiado cineasta Damien Chazelle do tão quanto premiado “La La Land” (só faltou o Oscar de Melhor Filme que foi para “Moonlight” em 2017), prova que consegue dominar cada um desses elementos como se juntasse os átomos de uma produção para que ela leve o espectador numa viagem que parece um caos, só que muito bem organizado pelo diretor.

Caos esse que começa numa festa que já toma quase meia hora de filme com muitas cenas em tomada única, travellings fantásticos, música e várias coisas acontecendo ao mesmo tempo. Esse é só o início de uma obra que é uma declaração de amor à sétima arte, mas que também é uma poesia dramática de ascensão e queda de pessoas que sempre sonharam em brilhar.

Nessa festa conhecemos o trio principal que vamos acompanhar pelos próximos anos: o galã Jack Conrad (Brad Pitt vindo de “Trem Bala”), estrela de Hollywood para o qual tudo é uma grande festa; a aspirante a atriz Nelie LaRoy (Margot Robbie de “Amsterdã”), linda de talento limitado que pode dar a sorte de chegar ao topo; e o simplório Manuel (Diego Calva só conhecido por uma participação em “Águas Rasas”), que começa a vida como garçom imigrante e sonha em pisar num set de Hollywood.

A partir daí Chazelle faz a mágica: ele guia o espectador não só pelas cenas, mas até pelos sons. Um som de um trompete um pouquinho mais alto e mais afinado que os demais captado pelo ouvido de um personagem, denota o que vai acontecer. O som lá no fundo soturno de um carro parando, mesmo que a cena em questão não mostre nada na escuridão, também serve de projeção do que virá.

As mudanças de clima atestadas pela trilha que num segundo está caótica e de repente se transforma num suave jazz e até mesmo as tradicionais transições em fade out / fade in para denotar o início de um novo capítulo ou novo momento, são apenas alguns dos talentos do diretor em contar a sua história. Para um filme de 3 horas de duração, é uma proeza e que se aproxima muito do tom do excelente “O Lobo de Wall Street”.

Brad Pitt dá um show como não se via há muito tempo e, de longe, é o melhor em cena. Aliás, há uma cena no início do terceiro ato que ele escuta um monólogo de uma jornalista de fofoca interpretada pela genial decana Jean Smart (“A Vida em Si”) que a gente fica sem saber quem está melhor, se ela falando ou se ele escutando (e é, claro, Chazelle que também é o roteirista e escreveu o texto).

Margot Robbie também está corretíssima, enquanto Diego Calva funciona como o alter ego do público, como se enxergasse todo o brilho de Hollywood pela primeira vez. Tanto é que é dele a grande cena de homenagem ao cinema no final das contas.

Babilônia” também é um filme de transição, do cinema mudo para o falado, do preto e branco para o colorido e, principalmente, dos excessos, festas selvagens, drogas, para uma tentativa de se ter um ambiente menos instável. Esse é o foco em questão pelo qual os personagens sobem e descem em suas carreiras e em suas vidas.

Talvez “Babilônia” não leve o Oscar porque seu estilo se parece muito com “La La Land” e porque “The Fabelmans” está vindo abocanhando vários prêmios, já que também é uma carta de amor ao cinema com Spielberg em sua forma mais carismática, com ele sendo o próprio cinema.

Mesmo assim, “Babilônia” é sensacional, obrigatório e uma viagem maluca pelo mundo Hollywoodiano, filmado com um nível de detalhe absurdo, um elenco que é quase um desfile de estrelas com atuações sempre acima da média, além de conseguir transitar entre a comédia e o drama sem perder a sua essência.

Curiosidades:

  • Damien Chazelle escreveu “Babilônia” antes de “La La Land”, mas os estúdios acharam que era um filme muito grande e sugeriram que ele fizesse um musical. Quando “La La Land” foi um estouro de bilheteria e crítica, aí deram o sinal verde para ele fazer “Babilônia”.
  • Durante o lockdown o diretor e Diego Calva fizeram praticamente todo filme em filmagens amadoras no quintal da casa de Chazelle com os dois interpretando todos os personagens. Como Calva era uma cara nova, o diretor quis que ele mergulhasse em todos os contextos das tramas.
  • O personagem de Brad Pitt, Jack Conrad, é baseado no ator John Gilbert, enquanto a personagem de Margot Robbie, Nelie LaRoy é baseada na atriz Clara Bow, ambos da década de 20.
  • Logo no início quando Jack (Pitt) fala em italiano, sua esposa diz que ele nasceu em Shawnee, Oklahoma. Brad Pitt realmente nasceu em Shawnee.
  • Algo que não é explicado no filme é essa transição de uma Hollywood “sem lei” e cheia de excessos para algo mais controlado. Isso foi devido ao Código Hays, implementado pelo político Will H. Hays para tentar colocar regras e cercear o comportamento caótico de Hollywood. Isso aconteceu após um incidente, onde a jovem atriz Virginia Rappe morreu após uma relação não consensual com o comediante Fatty Arbuckle. Ele, de tão gordo, provocou uma fissura na bexiga de Rape que veio a falecer de infecção. Esse evento inclusive é mostrado de forma ficcional no primeiro ato através de uma overdose.
  • Durante as filmagens, Brad Pitt tinha 59 anos, 20 anos a mais do que seu personagem.
  • No terceiro ato LaRoy diz que tem uma dívida de U$ 85mil. Se esse valor fosse transportado para os dias de hoje, sua dívida seria de U$ 1.8 milhões.

Ficha Técnica:

Elenco:
Diego Calva
Brad Pitt
Margot Robbie
Shane Powers
Phoebe Tonkin
Troy Metcalf
Jovan Adepo
Hansford Prince
Telvin Griffin
Jean Smart
Flea
Olivia Wilde
Karina Fontes
Lukas Haas
Li Jun Li
Kaia Gerber
Patrick Fugit
Eric Roberts
Cici Lau
David Lau
Olivia Hamilton
Carlos Núñez
Max Minghella
Samara Weaving
Jeff Garlin
Katherine Waterston
Yissendy Trinidad
Chloe Fineman
Pat Skipper
John Kerry
Sarah Ramos
Jennifer Grant
James Crittenden
Ethan Suplee
Tobey Maguire
Taylor Hill
Noah Reilly
John Macey
Eamon Hunt

Direção:
Damien Chazelle

História e Roteiro:
Damien Chazelle

Produção:
Olivia Hamilton
Marc Platt
Matthew Plouffe

Fotografia:
Linus Sandgren

Trilha Sonora:
Justin Hurwitz

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