David O. Russell volta com uma comédia intelectual depois de um hiato de quase 8 anos quando fez o bonzinho “Joy: O Nome do Sucesso”. E voltou do jeito que ele gosta: com uma penca de artistas / amigos / parceiros com quem trabalha – todos do time A de Hollywood – e uma liberdade criativa como poucos tem, o que aqui ajuda mais que atrapalha (mas ainda atrapalha um pouquinho).
Christian Bale (o vilão do último “Thor – Amor e Trovão”), Margot Robbie (“Adeus Christopher Robin”) e John David Washington (“Beckett”) são três amigos que se conheceram no final da 1ª Guerra Mundial e passaram ótimos momentos em Amsterdã. Após a separação deles, 12 anos depois, Burt (Bale) e Harold (Washington) trabalham juntos em Londres em parceria como médico alternativo e advogado e são contratados para desvendar o mistério de um general morto em condições peculiares. Acabam sendo acusados de assassinato e devem provar sua inocência achando o verdadeiro criminoso, sem ainda saberem que todo o complô pode ter o envolvimento de sua ex-amiga Valerie (Robbie).
A narrativa é recheada de deliciosas sutilezas cômicas que fogem das gags habituais e às vezes grosseiras imprimindo um tom de sofisticação que deve agradar os cinéfilos.
Por outro lado, às vezes o diretor exagera e tenta esticar desnecessariamente algumas cenas para abraçar vários vieses diferentes e a narrativa sai dos trilhos, como por exemplo, na cena final que é hilária por conta de Bale, mas que se estica para um monólogo que pouco agrega; ou em algumas tomadas cujos ângulos de câmera pareciam revelar algo, mas que nunca se concretiza, como se a idéia tivesse parado pela metade e a fotografia de Emmanuel Lubezki “Cavaleiro de Copas”) não tivesse acompanhado, muito menos a edição.
A mesma coisa acontece com o elenco: temos Bale que comanda o espetáculo, Robbie que encanta, mas Washington parece meio morto por ali. Nos coadjuvantes tem tanta gente boa que nem sempre são bem usados.
No destaque cômico Alessandro Nivola de “Os Muitos Santos de Newark” está sensacional como o assistente de polícia, enquanto Anya Taylor-Joy de “O Homem do Norte” consegue mostrar humor e complexidade numa personagem que seria apenas um suporte para os demais. E, enquanto Robert De Niro (“Vigaristas de Hollywood”) é muito bem usado mostrando todo seu talento, temos a desperdiçada Zoe Saldana (“O Projeto Adam”) como possível interesse amoroso de Burt.
A produção ainda conta com uma reconstituição de época impecável, desde o figurino, cabelos e design que fazem uma imersão completa de personagens e público dentro de sua atmosfera noir.
A grande qualidade de Amsterdã é a inteligência com que a narrativa é desenvolvida e a atuação de grande parte do elenco, e apenas se perde um pouco justamente quando fica mais pretensioso forçando a barra dessa mesma inteligência.
Curiosidades:
- O filme foi inspirado numa conspiração real entre grandes empresários americanos que queriam dar um golpe de governo através do General Smedley Butler, que no filme se chama Gil Dillenbeck, interpretado por Robert De Niro. O golpe foi provado, mas nenhum dos empresários foi indiciado. Com exceção do personagem de De Niro, a maioria dos demais personagens são fictícios.
- Christian Bale parou de falar com Chris Rock no set do filme porque Rock era tão engraçado que Bale não conseguia ficar sério em cena.
- Todos os 10 artistas principais já interpretaram pessoas reais em outros filmes.
Ficha Técnica:
Elenco:
Christian Bale
Margot Robbie
John David Washington
Alessandro Nivola
Andrea Riseborough
Anya Taylor-Joy Anya
Chris Rock
Matthias Schoenaerts
Michael Shannon
Mike Myers
Taylor Swift
Timothy Olyphant
Zoe Saldana
Rami Malek
Robert De Niro
Mel Fair
Vaughn Page
Bonnie Hellman
Max Perlich
Direção:
David O. Russell
Roteiro:
David O. Russell
Produção:
Christian Bale
Matthew Budman
Anthony Katagas
Arnon Milchan
David O. Russell
Fotografia:
Emmanuel Lubezki
Trilha Sonora:
Daniel Pemberton
