“Divertidamente 2” é mais que uma animação para a família. Também é um serviço de utilidade pública.
Quem mora no planeta Terra já sabe que surgirão novas emoções com a puberdade da jovem Riley. Do lado de cá da tela, somos uma população que passou (e passa) por uma pandemia, um desequilíbrio e afastamento social por conta da internet e tudo o que veio junto como a polarização política. Então os transtornos psicológicos não têm idade para surgirem. Nesse momento “Divertidamente 2” brilha emulando com muito bom humor e emoção, a inteiração de todas essas emoções juntas.
Analisando somente como um filme, é importante ultrapassarmos um obstáculo narrativo: no seu antecessor, vimos que tanto as crianças, quanto os adultos continuam a ser “comandados” (sim, entre aspas) pelos seus cinco sentimentos primais: alegria, tristeza, raiva, medo e… nojinho (minha favorita). Isso conflita com os novos sentimentos que chegam nesta continuação. Porque eles não estavam na cabeça dos adultos no primeiro filme? Acalmem-se que o desfecho, ou melhor, uma cena no meio dos créditos traz uma explicação… pelo menos OK (nas curiosidades você sabe mais).
A Pixar acerta em cheio, dessa vez, em dar mais espaço para todas as demais emoções, pois no primeiro a Alegria e a Tristeza foram as protagonistas. Além disso, introduzem um importante conceito – e que existe de verdade – que é o senso de si, que é a nossa autopercepção e como ela se relaciona com os outros a nossa volta. Aliás, o cerne do filme está em como as novas emoções moldam o senso de si que, até então, era algo próprio da Alegria.
Dentre as novas emoções, o claro destaque vai para a Ansiedade que, apesar de não ser uma antagonista (vilã), ela antagoniza com o ponto de vista da Alegria, o que justamente vai causar toda a confusão emocional na cabecinha de Riley. O fato de que todas as emoções querem o bem da jovem e justamente por isso podem prejudicá-la é talvez a mais emocionante mensagem do filme sobre autocuidado e de como precisamos conversar mais com nossos próximos.
Os roteiristas brilham fazendo com que cada subjetividade tenha sua representação “física” no mundo da mente de Riley, como o caso do sarcasmo que se abre como um buraco que distorce tudo o que se fala.
Se por um lado há uma profundidade filosófica fascinante que vai encantar adultos e ser acessível para crianças e adolescentes, por outro também há bastante espaço para boas piadas rasteiras como a paródia que fazem de um personagem de “Final Fantasy” ou de um mascote com sua pochete animado em 2D.
A partir do clímax, é segurar para não jorrar um rio de lágrimas, pois a direção do estreante Kelsey Mann capricha em decodificar a mensagem de tudo o que acontece, provocando a empatia imediata do público.
Apesar do primeiro “Divertidamente” ainda ser melhor e um dos melhores filmes da Pixar, esta sua continuação tem uma contrapartida narrativa sensacional, faz com que retornemos ao mundo das nossas mentes com coesão e emociona sem ser apelativo.
O filme certo na hora certa. Também há uma cena depois de todos os créditos finais. Bobinha, mas tá valendo.
Curiosidades:
- A Ansiedade é a única emoção cuja cor dos olhos é diferente de seu corpo (a Alegria tem olhos azuis, mas combinam com o cabelo). Isso já gerou algumas “teorias de conspiração” sendo a mais ouvida é que os olhos da ansiedade são verdes porque o nojo (a repulsa) é uma das premissas para alguém ter ansiedade e como a Nojinho é verde, assim são os olhos da Ansiedade.
- Os binóculos que a Alegria e Tristeza usam são os mesmos de “Toy Story”.
- Ennui é o nome do tédio, que é uma palavra francesa que combina tédio com cansaço.
- O teto da cama da Alegria é decorada com as mesmas estrelas brilhantes do quarto de Riley (que ela adquire no primeiro filme).
- Apesar de ter ido lançado 9 anos depois do primeiro filme, na cronologia da história só se passaram 2 anos.
- O easter egg do caminhão da Pizza Planet pode ser visto como um origami perto da cama da Alegria.
- O outro easter egg, A113 (o quarto da universidade dos fundadores da Pixar) aparece como número romano ACXIII numa das portas do calabouço.
- A lâmpada do escritório da técnica de hockey é a mesma da logomarca da Pixar, Luxo Jr.
***SPOILER – SÓ LEIA APÓS ASSISTIR AO FILME***
- A pergunta que nos atormenta é: onde estão as novas emoções nos adultos? Nas cenas no meio do crédito, vemos que nos pais de Riley, a Ansiedade aparece por de trás dos panos e logo as outras emoções a colocam para descansar. Apesar da explicação não ser explícita, isso sugere que quando ficamos maduros (e normais) as novas emoções tem tão pouca relevância que não ocupam o Painel de Controle da mente, provavelmente apenas passeando pelo mundo mental e só sendo chamadas em caso de algum distúrbio.
Ficha Técnica:
Elenco:
Amy Poehler
Maya Hawke
Kensington Tallman
Liza Lapira
Tony Hale
Lewis Black
Phyllis Smith
Ayo Edebiri
Lilimar
Grace Lu
Sumayyah Nuriddin-Green
Adèle Exarchopoulos
Diane Lane
Kyle MacLachlan
Paul Walter Hauser
Yvette Nicole Brown
Ron Funches
James Austin Johnson
Yong Yea
Steve Purcell
Dave Goelz
Kirk R. Thatcher
Frank Oz
Paula Pell
June Squibb
Pete Docter
Paula Poundstone
John Ratzenberger
Sarayu Blue
Flea
Direção:
Kelsey Mann
História e Roteiro:
Meg LeFauve
Dave Holstein
Kelsey Mann
Meg LeFauve
Produção:
Mark Nielsen
Fotografia:
Adam Habib
Jonathan Pytko
Trilha Sonora:
Andrea Datzman