Talvez o melhor musical já feito nos últimos tempos é um retrato contemporâneo de todos os grandes clássicos das décadas de 40 a 60, mas se passando numa realidade alternativa de sonhos em Hollywood.
O próprio início no meio do trânsito feito praticamente numa só tomada com ótimos e imperceptíveis efeitos especiais e edições já é uma ode musical que vai pautar grande parte da narrativa, onde a música nasce orgânica e, ao invés de escapar da trama, ela a agrega e a complementa. Emma Stone de “Sob o Mesmo Céu” é Mia, uma garçonete aspirante a atriz de Hollywood (como muitas). Ryan Gosling de “Dois Caras Legais” é Sebastian, um músico de jazz cujo sonho é ter seu próprio clube. Em meio a encontros, desencontros e muitas cações, os dois se encontram, se apaixonam, mas descobrem que nem todos os sonhos são possíveis ao mesmo tempo.
“La La Land” é dirigido com maestria por Damien Chazelle que já havia brilhado em sua estréia com o premiadíssimo “Whiplash: Em Busca da Perfeição” que por sinal também fala sobre música. O que mais chama atenção são os recursos de ponta usados para recriar uma atmosfera retrô num conto contemporâneo. E daí tudo conta: tanto cenografia quando figurino expelem cores vibrantes e superlativas, bem como seus números musicais. Melhor do que isso porém, é que o design de produção segue o momentum do filme e, no fim do segundo ato quando a produção assume um tom mais dramático, as cores são mais escuras e dessaturadas.
E se alguém tinha alguma dúvida do talento de Stone e Gosling, eles dão um show, não só de interpretação como de carisma, dança e até música (Gosling passou meses aprendendo as músicas que tocou sem dublê no piano).
Para uma obra com tantos pontos altos, é impossível não falar dos números musicais que revezam entre travellings épicos e irrepreensíveis, como por exemplo a abertura, a sequência da piscina e a retrospectiva final, até aqueles simples que são puro talento dos atores como o sapateado que evoca os grandes clássicos de Fred Astaire ou o vocal solo de Emma Stone em uma de suas audições. Isso sem nem contar as composições fantásticas de Justin Hurwitz (também de “Whiplash”) que muito mais que encantar, ficam grudadas na cabeça do espectador, não por serem fáceis como os medíocres funks, sertanejos e pagodes da vida. Pelo contrário, tem melodias cativantes que o público pode até se pegar despercebido assobiando depois da sessão e letras que só fazem engradecer a trama e ao mesmo tempo são poéticas e acessíveis.
O desfecho é de ficar com coração na mão e faz “La La Land” o filme mais premiado do Globo de Ouro de todos os tempos até o dia de hoje ser uma das fortes apostas do Oscar 2017, por um conjunto onde cada elemento parece se encaixar perfeitamente na proposta, como se o gênero musical nunca estivesse saído da moda, tornando-se uma experiência inesquecível.
Curiosidades:
– O título La La Land vem de L.A. = Los Angeles (onde se passa a história) e Land de Wonderland (País das Maravilhas, analogia à Alice), como se Los Angeles fosse vista como a cidade dos sonhos, já que de certa forma também é para onde Alice foi.
– Emma Watson recusou o papel principal de La La Land pra fazer A Bela e a Fera da Disney. Ryan Gosling recusou o papel de Fera em A Bela e a Fera pra fazer La La Land.
– A cena onde Mia tem sua audição interrompida por uma ligação telefônica foi inspirada num fato real que ocorreu com Ryan Gosling antes da fama.
– A estrada do número de abertura é a mesma onde foi filmada a sequência de Velocidade Máxima onde o ônibus salta de uma falha no viaduto.
– A mulher que pede estorno do café no início do filme é a esposa do diretor.
– Ryan Gosling e Emma Stone já trabalharam outras duas vezes em filmes como pares românticos: em Amor a Toda Prova e Caça Aos Gangsteres. Todos esses filmes se passam em Los Angeles.
– (Quase Spoiler): La La Land termina exatamente como Whiplash. Os entendedores entenderão.
– Há uma homenagem a Woody Allen no número de retrospecto final que mostra um relógio em Paris marcando meia noite. É por conta do filme Meia Noite em Paris cujo contexto é o mesmo do número musical (os entendedores entenderão).
– O compositor Justin Hurwitz e o diretor Damien Chazelle são amigos de faculdade.
Ficha Técnica
Elenco:
Ryan Gosling
Emma Stone
Amiée Conn
Terry Walters
Thom Shelton
Cinda Adams
Callie Hernandez
Jessica Rothe
Sonoya Mizuno
Rosemarie DeWitt
J.K. Simmons
Claudine Claudio
Jason Fuchs
Direção:
Damien Chazelle
Produção:
Fred Berger
Gary Gilbert
Jordan Horowitz
Marc Platt
Fotografia:
Linus Sandgren
Trilha Sonora:
Justin Hurwitz