Amy Winehouse tem os principais predicados para ter uma cinebiografia de altíssima qualidade:
- Foi uma cantora talentosíssima.
- Músicas sensacionais e de sucesso.
- Vida conturbada.
- Fim trágico e precoce.
O diretor Sam Taylor-Johnson, visto pela última vez envergonhando geral em “50 Tons de Cinza”, muda o tom (desculpe o trocadilho) e abraça a vida da cantora filmando praticamente tudo nas locações reais ou construindo sets exatamente fiéis, acertando no que é o principal: o casting da atriz com a até então desconhecida Marisa Abela, que com diferenças de fisionomia à parte, encarna perfeitamente a cantora, desde que cantava em barzinhos, passando pelo sucesso de seu segundo álbum, o casamento com o polêmico Blake (Jack O’Connell de “Seberg Contra Todos”), o relacionamento com seu pai (o ótimo Eddie Marsan de “Esquema de Risco”) até sua derrocada pelas drogas o que levaria à sua morte em 23 de julho de 2011.
Os pontos altos da produção são as músicas, cantadas em alto em bom som na maioria das vezes pela própria Abela, mas também com algumas participações das gravações de Amy, além da reconstituição de época com a fidelidade já citada.
Por outro lado o filme tem dois problemas que se interligam: o primeiro é que na maioria das vezes ele é superficial, com muitos eventos passando rápido e outros que foram omitidos, claramente para não alongar as cerca de 2 horas de filme, mas que seriam importantes para a jornada da protagonista. Tanto a escalada do sucesso quanto a trajetória ao fundo do poço (inclusive o desfecho) parecem ser apenas pontuados rapidamente sem que o espectador consiga absorver o trabalho ou as motivações para se chegar lá.
Finalmente o ponto mais polêmico e que vem causando acaloradas discussões entre fãs e críticos é que, talvez para tentar “respeitar” o legado de Amy Winehouse e aqueles que sofreram a perda, seu pai e seu ex-esposo são retratados quase como vítimas, ao passo que, através de documentários como “Amy” e uma série de recortes de sua vida, fica bastante evidente que eles de certa forma contribuíram para o seu problema de dependência emocional e de drogas.
Na visão da obra, é como se praticamente tivesse havido uma força sobrenatural e inevitável que tivesse levado Amy ao seu destino final, sem que ninguém tomasse parte da responsabilidade. É claro que a arte aceita tudo, até a distorção da realidade ou glamourização, como muitos filmes fazem, e não deve ser levado tanto em conta na hora de uma avaliação, mas fica difícil passar por cima de algo que tem vastas informações à disposição.
“Back to Black” vira uma fábula chapa branca de acensão e queda com a inesquecível trilha sonora de Amy Winehouse e com destaque para a cena de seu Grammy, filmado quase à perfeição e, principalmente para os fãs, é ponto de parada obrigatório.
Ficha Técnica:
Elenco:
Marisa Abela
Jack O’Connell
Eddie Marsan
Lesley Manville
Juliet Cowan
Sam Buchanan
Pete Lee-Wilson
Thelma Ruby
Michael S. Siegel
Matilda Thorpe
Anna Darvas
Tracey Lushington
Ryan O’Doherty
Spike Fearn
Harley Bird
Direção:
Sam Taylor-Johnson
História e Roteiro:
Matt Greenhalgh
Produção:
Nicky Kentish Barnes
Debra Hayward
Alison Owen
Fotografia:
Polly Morgan
Trilha Sonora:
Nick Cave
Warren Ellis