Oppenheimer

A conjunção de talentos em todas as áreas, sejam elas técnicas ou artísticas conduzidas pelo engenheiro narrativo Christopher Nolan, resulta desde já num dos melhores filmes do ano e candidato fortíssimo ao Oscar 2024. Pela primeira vez Nolan sai do seu elemento científico onde mexe com o tempo (“Tenet” ou “Dunkirk”), mágica e ciência (“O Grande Truque”, “Interestelar“), sonhos e memórias (“Inception – a Origem”, “Amnésia”). Pelo menos é o que a gente pensa. Na verdade, em sua nova empreitada, ele adiciona mais um elemento com o qual manipula com perfeição elenco e público ao mesmo tempo: o diálogo como força narrativa.

Oppenheimer”, conta a vida do criador da bomba atômica desde seu início acadêmico, passando pela grande corrida armamentista que culmina com as bombas de Hiroshima e Nagazaki, até sua tragédia de ver seu prestígio ir pelo ralo por conta de suas idéias contrárias à política de armas dos EUA.

O mais interessante é que o filme se passa no ponto de vista posterior à 2ª Guerra Mundial. Apenas para situar o espectador no início, nesse “futuro” – ou melhor no presente – ocorrem duas investigações em momentos diferentes: uma com o protagonista, interpretado magistralmente por Cillian Murphy de “Um Lugar Silencioso 2” e constante colaborador de Nolan há mais de 20 anos; e outra com o senador Lewis Strauss (Robert Downey Jr. nosso “Homem de Ferro”, dando um show), o homem que alçou Oppenheimer à posição de cientista mais famoso da época.

Para não gastar mais linhas falando da magnífica performance de ambos, é surpreendente o exército de artistas do primeiríssimo time de Hollywood que topou participar do filme, mesmo para ter apenas alguns segundos de tela, o que resulta num desfile quase que inédito da elite do cinema.

Sem dar spoilers, é impressionante o retrato realista do protagonista que, apesar de sua preocupação que causa empatia ao espectador, ele é machista, misógino, infiel, arrogante, entre outros defeitos que, fosse em outro roteiro, caberiam certinho num vilão. E esse é o nosso herói.

Nolan aposta em efeitos práticos sem CGI, os quais são mais que suficientes, mas o principal elemento técnico de sua conjunção narrativa é a engenharia de som. É com ela que ele comunica tudo aquilo que se passa na mente dos personagens. A experiência de ouvir essa turbulência de pensamentos no cinema é sensacional. O áudio visual da bomba na cabeça de Oppenheimer em seus sonhos (ou pesadelos), a figuração sonora do medo nos envolvidos, entre outras utilidades consegue materializar perfeitamente o propósito do diretor. A cena do som do grito de uma criança (você vai saber qual é) desde já é uma das mais bem feitas do ano, e uma das mais simples, que conta muito mais com a genialidade do diretor em escrevê-la do que na de materializá-la.

Voltando ao início da resenha, “Oppenheimer” é uma batalha de narrativas. Para quem pensa que não pode haver um plot twist em meros diálogos, Nolan desconserta o público com o seu brilhantismo e faz um último ato cheio de revelações ou reviravoltas (como queira), cheio de rimas narrativas mostrando o significado de tudo o que não fora dito até então, com uma sequencia de diálogos que talvez sejam os mais bem escritos do ano.

O diretor conseguiu mais uma vez: “Oppenheimer” é diferente de tudo o que já se viu, pois consegue ser um drama pessoal e político excepcional, uma experiência audiovisual única e uma bomba de emoções e discussões relevantes, com uma engenharia narrativa que só Nolan poderia desenhar. Vai dar Oscar!

Curiosidades:

  • Matt Damon tinha prometido que iria tirar férias para a sua esposa e saiu de todas as audições, com exceção da de “Oppenheimer”. Ele disse que esse seria o único motivo pelo qual ele não tiraria férias. Eis que ele foi chamado e a patroa teve que esperar mais um pouco.
  • Para as cenas em preto e branco, a kodak teve que inventar uma tecnologia especial para Imax.
  • O script entregue para cada artista foi sempre em primeira pessoa, ou seja, cada artista tinha a sua exata visão da história e tão somente ela, técnica inédita até então.

Ficha Técnica:

Elenco:
Cillian Murphy
Emily Blunt
Robert Downey Jr.
Alden Ehrenreich
Jason Clarke
Kurt Koehler
Tony Goldwyn
John Gowans
Macon Blair
James D’Arcy
Kenneth Branagh
Harry Groener
Gregory Jbara
Ted King
Tim DeKay
Steven Houska
Tom Conti
David Krumholtz
Matthias Schweighöfer
Josh Hartnett
Alex Wolff
Josh Zuckerman
Rory Keane
Michael Angarano
Dylan Arnold
Emma Dumont
Florence Pugh
Sadie Stratton
Jefferson Hall
Britt Kyle
Guy Burnet
Tom Jenkins
Matthew Modine
Louise Lombard
David Dastmalchian
Michael Andrew Baker
Matt Damon
Dane DeHaan
Olli Haaskivi
David Rysdahl
Josh Peck
Jack Quaid
Brett DelBuono
Benny Safdie
Gustaf Skarsgård
James Urbaniak
Trond Fausa
Devon Bostick
Danny Deferrari
Christopher Denham
Jessica Erin Martin
Ronald Auguste
Rami Malek
Máté Haumann
Olivia Thirlby
Jack Cutmore-Scott
Casey Affleck
Harrison Gilbertson
James Remar
Will Roberts
Pat Skipper
Steve Coulter

Direção:
Christopher Nolan

História e Roteiro:
Christopher Nolan
Kai Bird
Martin Sherwin

Produção:
Christopher Nolan
Charles Roven
Emma Thomas

Fotografia:
Hoyte Van Hoytema

Trilha Sonora:
Ludwig Göransson

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