O Conde (“El Conde”)

Os grandes cineastas não conseguem fazer filmes comuns por mais que tentem. Pablo Larraín que baixou um pouco seu nível de excelência com o apenas bonzinho “Spencer” volta agora numa comédia inventiva.

Imaginem que o ex-ditador chileno Augusto Pinochet (falecido em 2006) fosse um vampiro e que ele encenara a sua morte para viver pacificamente numa chácara isolada. Jaime Vadell que já trabalhou com Larraín em “Não” é o Vampiro Pinochet, deprimido com um desejo de morrer, e sua vida se torna ainda mais desagradável quando seus filhos sanguessugas o visitam cheirando a possível herança que ele pode deixar, e quando surge uma freira disfarçada de inventariante da herança (a bela e desconhecida Paula Luchsinger) com propósitos misteriosos.

O diretor filmou em preto e branco, dando aridez e decrepitude à uma história que tem como humor negro a essência o que lembra muito Tim Burton. Por outro lado, tem uma narrativa bastante similar à comédia de Wes Anderson com muita narração em off, longos diálogos, personagens caricaturais, tomadas frontais e deslocamentos de câmera horizontais. Assim, ao mesmo tempo que o amálgama de estilos cria algo novo, também não deixa de se perceber as nítidas influências, mesmo que em seu subconsciente.

Juntando à dinâmica da história, há uma crítica social excelente sobre como a ditadura e o capitalismo podem andar de mãos dadas, inclusive colocando a igreja nesse jogo, tudo com muito bom humor.

Outro acerto é a maneira com que o roteiro junta fatos históricos com ficção, especialmente com a reviravolta do novo personagem que só aparece no último ato e sobre como pessoas (e criaturas) diferentes podem ter ambições diferentes, inclusive daquelas que seriam as naturais.

Com ótimos toques de violência explícita em seu desenvolvimento, “O Conde” funciona muito bem, tanto como comédia descompromissada, quanto como uma reflexão sobre política e ideologia com um humor aviado e sempre atual.

Curiosidades:

  • No filme Paula Luchsinger que interpreta a freira e Catalina Guerra que interpreta uma das filhas de Pinochet são parentes. Na vida real elas são filha e mãe.
  • Os corações foram feitos de gelatina azul para ficarem mais nítidos em preto e branco.
  • Todas as cenas com Pinochet voando foram feitas por dublês usando uma máscara com o rosto do ator, visto que Jaime Vadell já tem 88 anos e preferiu não arriscar.
  • Em quase todas as cenas quem operava a câmera era o próprio diretor Pablo Larraín.
  • Na cena em que passa uma lancha cheia de móveis, após a tomada, a lancha virou com os móveis, mas ninguém se feriu.
  • Jaime Vadell que aqui é Pinochet, já interpretou um dos generais de PInochet em “Não“.

Ficha Técnica:

Elenco:
Jaime Vadell
Gloria Münchmeyer
Alfredo Castro
Paula Luchsinger
Stella Gonet
Catalina Guerra
Amparo Noguera
Antonia Zegers
Marcial Tagle
Diego Muñoz
Clemente Rodríguez
Rosario Zamora

Direção:
Pablo Larraín

História e Roteiro:
Guillermo Calderón
Pablo Larraín

Produção:
Rocío Jadue
Juan de Dios Larraín

Fotografia:
Edward Lachman

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