Rivais (“Challengers”)

Há uns 15 segundos daquela partida como se não fosse mais apenas tênis, mas sim uma relação, como se fôssemos um só”. – É o que diz Tashi, personagem interpretada pela deslumbrante Zendaya – que também produz o filme – num determinado momento.

Rivais” é exatamente sobre isso: o relacionamento entre pessoas e o tênis, como analogia a aquilo que as completa. Tashi é ex-tenista que se aposentou precocemente depois de uma lesão, esposa e treinadora de Art (“Amor Sublime Amor”) que passa por uma fase ruim na carreira e para tentar se reerguer participa de um torneio menor e teoricamente mais fácil. Coincidência ou não, no mesmo torneio também participa Patrick (Josh O’Connor de “Emma”) que há 13 anos atrás era o melhor amigo de Art e também foi namorado de Tashi, o qual pode jogar com o ex-melhor amigo caso chegue na final.

O filme já começa, é claro, com eles na final disputando a vitória. Mas o que está em jogo realmente? O diretor Luca Guadagino do também ótimo “Até os Ossos” usa essa analogia do tênis como uma ferramenta de relacionamento de forma brilhante.

Enquanto a partida final se desenrola, ele vai e volta no tempo para que o espectador entenda as diversas reviravoltas entre os personagens: porque Tashi ficou com Art, porque a amizade de Art e Patrick acabou e porque o casamento de Tashi e Art chegou no ponto em que está. Longe de dar respostas simples, o diretor coloca uma série de reviravoltas deliciosas, onde mostra as virtudes e defeitos de cada personagem, chegando a inevitável conclusão que todos somos falíveis, num ponto em que, dependendo de quando e como se falha, as consequências dentro de um relacionamento podem (ou não) ser irreversíveis.

A constatação mais brilhante que o roteiro mostra é como três pessoas ficam incompletas quando perdem elementos importantes em suas vidas. Art e Patrick usam o tênis para chegar em Tashi, enquanto ela usa Art e Patrick para chegar no tênis, resultando numa simbiose que muitas vezes se torna destrutiva para os entes deste quadrilátero amoroso. Sim, porque tanto o tênis se transforma num personagem de um relacionamento, como também Guadagino não se furta em tornar dúbia a amizade de Art e Patrick incitando uma relação homoerótica que percorre com leveza a narrativa, mas é pungente como argumento.

O desfecho é como o fim de uma poesia com várias referências desenvolvidas ao longo do filme, como uma mensagem codificada no meio de uma partida, um grito de vitória ao final dela e como duas pessoas se tornam quase que literalmente uma quando jogam o seu melhor, fazendo o tênis se o catalisador da relação entre dois oponentes.

Finalmente, o diretor capricha em dar uma experiência visual diferenciada nas partidas colocando a câmera em lugares inusitados: debaixo da quadra como se ela fosse de vidro, na visão da bola de tênis, na visão de cara um dos jogadores, entre outros.

Os produtores e compositores Trent Reznor e Atticus Ross, já parceiros de Guadagino em “Até os Ossos” demonstram mais uma vez sua versatilidade em usar batidas eletrônicas para ditar o ritmo da narrativa e até mesmo o seu humor.

Rivais” é filme para Oscar sim com Zendaya arrasando em todos os momentos! Se a linguagem do amor – à pessoas e ao esporte – pode ser traduzida em audiovisual, Rivais é um exemplo narrativo perfeito.

Curiosidades:

  • Patrick ao longo dos anos usa a mesma camisa que estava no dia em que terminou seu relacionamento com Tashi (a que tem a estampa “I Told Ya” (Eu te disse).
  • Os três artistas principais assistiram “Até os Ossos” do diretor, durante as filmagens.
  • O juiz da partida final é interpretado pelo assistente pessoal de Zendaya.
  • Zendaya passou 3 meses tendo aula de tênis com o ex-campeão Brad Gilbert para se preparar para o papel.
  • O filme demorou 1 desde que foi finalizado ano para estrear por causa da greve dos roteiristas em Hollywood.
  • Com “Rivais”, todas as atrizes que interpretaram o interesse amoroso das três encarnações de “Homem-Aranha” fizeram filmes como tenistas. Kirsten Dunst com “Wimbledon – O Jogo do Amor” em 2004, Emma Stone com “A Guerra dos Sexos” em 2010 e agora Zendaya com “Rivas”.

***SPOILER – SÓ LEIA APÓS ASSISTIR AO FILME***

A cena em que a filhinha de Tashi (Zendaya) diz que quer assistir ao Aranhaverso é uma piada interna sensacional com o fato de Zendaya estar na franquia de “Homem-Aranha”.

Ficha Técnica:

Elenco:
Zendaya
Mike Faist
Josh O’Connor
Darnell Appling
Bryan Doo
Shane T Harris
Nada Despotovich

Direção:
Luca Guadagnino

História e Roteiro:
Justin Kuritzkes

Produção:
Luca Guadagnino
Rachel O’Connor
Amy Pascal
Zendaya

Fotografia:
Sayombhu Mukdeeprom

Trilha Sonora:
Trent Reznor
Atticus Ross

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