“3 anos…” – Foi o que Christopher disse para Wikus sobre tempo que demoraria para ele voltar com a cura para sua metamorfose depois de conseguir escapar na grande nave. Isso aconteceu na fantástica ficção científica “Distrito 9” em 2009 e que lançou o diretor Neill Blomkamp ao estrelato.
De lá para cá, pouquíssimas notícias sobre uma possível continuação, sendo que o diretor até mesmo já deu entrevista dizendo que nem pensou numa continuação quando fez o filme. Focando mais em curta-metragens e séries, seu trabalho no cinema é raro e coleciona apenas os muito bons “Elysium” e “Chappie”.
Em 2021 fez um obscuro filme de terror e agora, chega a ser uma surpresa, lança uma produção “meio que” propaganda da Sony (estúdio que produz o filme) / Playstation (videogame da Sony) baseado em fatos sobre um jovem que era craque em Gran Turismo e foi selecionado para correr numa pista de verdade.
Por incrível que pareça o filme supera as expectativas. Blomkamp faz o seu jeito de filmagem crua mostrando a realidade de Yann (Archie Madekwe de “Espírito Jovem”) aficionado em carros de corrida e que encontra em Gran Turismo um possível caminho para seu sonho, mesmo sendo reprovado pelo pai (Djimon Hounsou de “Shazam!”). Então ele ganha um concurso para ser piloto da equipe Nissan e deve provar para todos que não é um mero gamer.
A história ao mesmo tempo é intrigante, tem algumas boas reviravoltas, mas também aqueles clichês básicos do gênero: sempre na véspera de uma corrida importante, algo acontece para atrapalhara vida do nosso herói.
Entretanto, não é isso que define a obra. O que a define é a essência dos eventos pelos quais Yann passa (inclusive um bastante traumático) e como ele responde a isso.
O diretor faz o óbvio em comparar o filme visualmente a um jogo e, mesmo com algumas inconsistências, funciona. O elenco está equilibrado: o que talvez falte de carisma em Archie Madekwe (talvez pelo personagem dele ser introspectivo), sobra em David Harbour (“Noite Infeliz”) como o treinador de Yann. Até o sumido Orlando Bloom de “Smart Chase” desempenha bem o papel de empresário e foge dos estereótipos de vilão demais ou bonzinho e paternalista demais. Mas é Djimon Hounsou que aproveita cada segundo das suas poucas cenas como pai de Yann e consegue arrancar, de longe, a melhor e mais emocionante performance sem nunca apelar para sentimentalismo barato.
Finalmente chegamos às cenas de corrida, as quais são excelentes em todos os aspectos e refletem ao espectador todas as emoções do ponto de vista do piloto e do público.
“Gran Turismo” é uma ótima surpresa para um produto de celebração puramente capitalista, mas que combina uma boa história de vida, equilibrando o comercial com o propósito.
Curiosidades:
- O único dos personagens principais que não existiu de verdade foi o de David Harbour, já que ele representa um amalgama dos vários treinadores que estavam ao lado de Yann durante o processo.
- O Jann Mardenborough verdadeiro é o dublê do ator Archie Madekwe nas cenas de corrida!
- O sushi chef do restaurante japonês que sorri para Yann é o verdadeiro Kazunori Yamauchi, inventor do jogo Gran Turismo.
- Caso vocês não tenham percebido, a mãe de Yann no filme, é interpretada por ninguém menos que a ex Spice Girl Geri Halliwell, aqui usando seu sobrenome de casada, Horner. Detalhe, o marido dela é Christian Horner, um dos diretores da Fórmula Red Bull de corrida, que é onde Yann começa a sua carreira.
- As duas músicas que Yann escuta antes das corridas: Kenny G – Songbird (1987) e Enya – Orinoco Flow (Sail Away) (1988).
- Na vida real Jann não foi o primeiro vencedor da GT Academy e se tornou piloto profissional, mas sim o terceiro em 2011, pois o projeto começou 2 anos antes. Mas foi o primeiro e levar o podium do circuito de Le Mans.
- Não é mencionado no filme, mas o projeto da GT Academy (que pegava gamers e transformava em pilotos) foi descontinuado em 2016.
Ficha Técnica:
Elenco:
David Harbour
Orlando Bloom
Archie Madekwe
Takehiro Hira
Darren Barnet
Geri Horner
Djimon Hounsou
Josha Stradowski
Daniel Puig
Maeve Courtier-Lilley
Pepe Barroso
Niall McShea
Nikhil Parmar
Thomas Kretschmann
Direção:
Neill Blomkamp
História e Roteiro:
Jason Hall
Zach Baylin
Jason Hall
Alex Tse
Produção:
Doug Belgrad
Dana Brunetti
Asad Qizilbash
Carter Swan
Fotografia:
Jacques Jouffret
Trilha Sonora:
Lorne Balfe
Andrew Kawczynski
