A Sociedade da Neve (“La sociedad de la nieve”)

Foram os mortos que nos permitiram sobreviver”- essa frase tão profunda e impactante é a essência dessa produção espanhola dirigida por J.A. Bayone, do também excelente “O Impossível”, que foi indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, sobre a tragédia de 1972 quando um avião uruguaio que levava um time de Rugby e seus acompanhantes para uma partida no Chile, caiu no meio da Cordilheira dos Andes, onde parte dos passageiros tiveram que sobreviver por 71 dias até serem resgatados, passando por horrores inimagináveis.

Esses eventos já foram adaptados para o cinema em 2 ocasiões, na década de 70 e, na mais conhecida, o ótimo “Vivos” de 1993 com Ethan Hawke ainda bem jovem e estranhamente falado em inglês. Apesar de cada filme ter sido um produto do seu tempo – e “Vivos” realmente vale a pena – dá para dizer com tranquilidade que “A Sociedade da Neve” não só é melhor, como é o mais completo, seja em termos documentais, como também na jornada emocional dos sobreviventes e daqueles que não conseguiram.

E talvez o maior trunfo do filme foi dar uma atenção especial aos mortos, colocando-os como os verdadeiros heróis. Inclusive há uma reviravolta narrativa no início do último ato que consegue ser sutil, singela, mas ao mesmo tempo acachapante e sensacional.

O diretor faz tudo com muito equilíbrio, mostrando a violência gráfica do que acontece na medida certa para causar impacto, mas ainda preservar a memória dos que se foram e de suas famílias que permanecem. Ele chega no ponto certo para comover o espectador, inclusive o final, por mais que se saiba o que acontece, vira uma poesia emocionante recitada em palavras e ao som belíssimo do compositor Michael Giacchino (“Quem Fizer Ganha”).

Os aspectos técnicos são impecáveis, desde a reconstrução do cenário, reconstituição de época, até a engenharia de som que imita com quase perfeição o silêncio do isolamento da neve, além da brilhante fotografia de Pedro Luque (“Extinção”).

Baseado no livro de Pablo Vierci , “A Sociedade da Neve” é a referência para um dos eventos mais marcantes da história da aviação e mostra uma verdadeira jornada humana pela sobrevivência e finalmente presta o devido respeito a quem não voltou.

Curiosidades:

  • Filmado em ordem cronológica para permitir que o elenco fizesse a dieta para emagrecer e os efeitos aparecessem ao longo do tempo.
  • O filme passa a impressão de que o vôo caiu pouco depois de ter saído do Uruguai. Na verdade, o vôo fez uma parada em Mendonza, na Argentina devido ao mal tempo reportado nos Andes, fazendo os passageiros dormirem lá. No dia seguinte, o tempo ainda estava ruim, mas melhor, e os pilotos acreditaram que era possível atravessar. Apesar do filme ter passado essa impressão, há uma cena no meio do vôo em que um personagem explica o trajeto num mapa e seu dedo faz exatamente a rota Montevidéo (Uruguai) à Mendonza (Argentina) à Santiago (Chile).
  • O filme também mostra que o resgate foi feito de uma fez só. Na verdade, o resgate foi feito em 2 dias, portanto parte dos sobreviventes ainda tiveram que passar uma noite no avião. Só que dois membros do resgate dormiram junto e cuidaram dos doentes.
  • O filme passa a impressão que logo após os dois personagens encontrarem o índio dono da chácara, eles foram diretamente para lá. Mas a verdade é que o dono foi buscar as autoridades primeiro (que quase não acreditaram na história dele), enquanto os dois tiveram que dormir ainda ao relento por mais 1 noite.
  • Atualmente há excursões turísticas para o lugar do acidente que levam 3 dias ida e volta. Por causa do aquecimento global, quase não há mais neve no local, onde em 1972 era totalmente coberto pela neve.
  • Uma das grandes diferenças deste filme para “Vivos” é que a produção de 1993 já começa na cena do acidente e termina logo que eles encontram socorro e ocorre o resgate, cortando a jornada de antes e de depois do acidente.
  • Outra diferença é que em “Vivos” os sobreviventes só sabem que serão resgatados quando os helicópteros aparecem. Em “A Sociedade da Neve” é mostrada a verdade: eles tinham um rádio e foi noticiado que dois sobreviventes chegaram até uma chácara depois de atravessarem as montanhas por 10 dias.
  • Para compor a história, além do livro, os realizadores gravaram mais de 100 horas de entrevistas com os sobreviventes que ainda estão vivos até hoje.
  • Um dos sobreviventes, Carlitos Páez, está no filme interpretando o pai dele mesmo na cena em que ele fala o nome dos sobreviventes pelo telefone, repetindo duas vezes cada um. Mais dois sobreviventes fazem aparições no filme: Nando Parrado, abrindo uma porta no aeroporto no começo do filme; e Roberto Canessa, que acompanha um dos sobreviventes entrando no hospital no último ato.
  • No final, o hospital visto no filme é na verdade a Academia Naval de Montevidéo.
  • Há uma mala cheia de cigarros achada numa cena que pertencia a Pancho Abal que também era representante do negócio da família, a marca de cigarro “Abal Hermanos”. Por isso parece que há uma reserva interminável de cigarros no filme.
  • Ironia do destino: como os sobreviventes achavam que já estavam no Chile, eles caminharam para oeste, 61 Km, até achar alguém. Só que eles ainda estavam na Argentina. Se caminhassem a leste, em apenas 21 Km (1/3 do trajeto feito), eles iriam dar de cara com um hotel abandonado que se conectava com uma estrada, ficando muito mais fácil encontrar ajuda.
  • Logo antes do resgate, tanto em “Vivos” quando “A Sociedade da Neve”, aparece o rádio tocando “Ave Maria”. Não há nenhum registro de que foi tocada essa música, mas em entrevistas separadas na época, vários dos sobreviventes tem a lembrança de que era essa a música que estava tocando.

Ficha Técnica:

Elenco:
Enzo Vogrincic
Agustín Pardella
Matías Recalt
Esteban Bigliardi
Diego Vegezzi
Fernando Contingiani
Esteban Kukuriczka
Francisco Romero
Rafael Federman
Valentino Alonso
Tomas Wolf
Agustín Della Corte
Felipe Gonzalez Otaño
Andy Pruss
Blas Polidori
Felipe Ramusio
Simon Hempe
Luciano Chatton
Rocco Posca
Paula Baldini
Emanuel Parga
Juan Caruso
Benjamín Segura
Santiago Vaca Narvaja

Direção:
J.A. Bayona

História e Roteiro:
Jaime Marques
Nicolás Casariego

Produção:
Belén Atienza
J.A. Bayona
Philip Bolus
Sandra Hermida

Fotografia:
Pedro Luque

Trilha Sonora:
Michael Giacchino

DIREÇÃO

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