Som da Liberdade (“Sound of Freedom”)

Primeiro vamos falar da polêmica: o filme foi feito em 2018 através de crowdfunding e foi boicotado por praticamente todos os estúdios por trazer um tema extremamente delicado num momento ainda pior, no auge das investigações de Jeffrey Epstein empresário multimilionário de Hollywood que tinha acabado de ser preso por comandar uma rede de tráfico de menores que funcionava numa ilha e que, pasmem, ainda era grande amigo de nomes famosíssimos da política americana, Hollywood, e outros bilionários como Naomi Campbell, Bill Gates, Bill Clinton, entre outros.

Como uma parte do filme é coincidentemente se passa numa ilha análoga a de Epstein, o medo da correlação e retaliação eram enormes dentro do show business americano.

Em 2019 Jeffrey Epstein é encontrado morto em sua cela, com o laudo de suicídio, coisa que ninguém acreditou, creditando-se sua morte a um suposto assassinato para proteger os frequentadores bilionários da ilha. Isso ainda reforçou uma teoria de conspiração dos republicanos (tipo a direita dos EUA) chamada QAnon que é uma espécie de seita mundial de tráfico de menores, adoradores de Satanás, entre outras maluquices.

Eis que Donald Trump na presidência dos EUA, toma conhecimento do filme através do protagonista Jim Caviezel (“A Vingança de Lefty Brown”), que também é de direita, e gostou tanto do filme que fez dele o símbolo da caça contra o tráfico sexual, isso sem mesmo ele estar lançado.

Segundo a teoria QAnon, Trump seria o grande herói que acabaria com o tráfico. Maluquices à parte, o combate ao tráfico de menores é (ou deveria ser) algo universal, sem precisar ter um determinado lado, seja republicano ou democrata, seja direita ou esquerda.

Quando isso começou a transbordar para outros países, a esquerda de lá (e a daqui também) deu o tiro no pé de atacar o filme ao invés de atacar a teoria QAnon que em momento algum é citada no filme, muito menos da existência de uma seita ou rede mundial do mal.

Daí a esquerda começa o processo de assassinato de reputação, o que só deu mais força ao filme.

Falaram que o filme prejudica a investigação do real combate a pedofilia. Bobagem. É como falar que “Sicário” prejudica a investigação sobre o combate as drogas.

Falaram que o filme contém uma série de inverdades. Idiotice. Todo filme baseado em fatos reais contém glamourização e licenças artísticas e este não é diferente, o que não interfere em nada com a realidade.

Pegaram um fato amplamente conhecido que uma das milhares de pessoas que ajudaram no crowndfunding fazia parte de um esquema de tráfico e foi preso como cumplice e jogaram no formato de fake News “aquilo que não querem que você saiba sobre O Som da Liberdade”. Besteira, pois está em qualquer veículo, inclusive no IMDB na trivia do filme.

Falaram que tem elementos fascistas por exaltar muito a religião cristã e a família, correlacionando com o lema de origem fascista “Deus, Pátria e Família”, e ainda colocaram o Mel Gibson no fogo, pois ele dirigiu Caviezel em “Paixão de Cristo”, fora que o ator ainda foi um dos protagonistas em outro filme de cunho religioso, “Paulo – O Apóstolo de Cristo”. Nem é preciso dizer a completa falta de senso que isso é: no filme se fala em Deus duas ou três vezes, mas pegaram num dos slogans “As crianças de Deus não estão à venda” e distorceram para ficar com a cara de fascismo (detalhe que o lema fascista só seria de conhecimento geral no governo Bolsonaro depois que o filme foi feito). O fato do agente Ballard ser conservador e ter uma família tradicional contribuiu para considerarem isso um pecado ainda maior.

A esquerda acusou o diretor mexicano Alejandro Monteverde (quem nem é de direita) de expor atores mirins a um contexto traumático e sexual. Fake News: eles foram acompanhados por autoridades pedagógicas e em momento algum souberam o contexto em que se passavam as cenas.

Daí a direita foi esperta e acusou a esquerda de não se preocupar com a luta contra a pedofilia (indireta de “ser a favor”). E o pau vem comendo desde então.

Assim, entre teorias de conspiração malucas, fake news e más intenções, o filme foi inflamado e impulsionado a ser lançado nos EUA sendo que em dois dias de exibição já se pagou e é considerado um fenômeno de bilheteria.

Eles ainda inventaram um modelo de negócios onde após assistir o filme é exibido um QR-Code para que os espectadores possam comprar ingressos para aqueles que não podem ver o filme. Como aqui no Brasil, a direita está apoiando, então a esquerda está contra. Um dos propagadores do filme é o site de direita até a alma Brasil Paralelo, enquanto a esquerda em peso acusa o filme de fazer um esquema para inflar os números de bilheteria através desse modelo de negócio. Será? Esse é o resultado de uma polarização burra e irracional onde só quem se prejudica é o povo.

Agora vamos ao filme: é um filme B com orçamento de filme B, sendo Jim Caviezel há muito tempo parte do time B de Hollywood que topou mais um trabalho para pagar o aluguel.

Ele é Tim Ballard, agente que trabalha há mais de uma década no departamento que luta contra a pedofilia e que já levou para a cadeia vários pedófilos, mas nunca havia resgatado uma criança. Quando confrontado com essa realidade, ele resgata Miguel, mas a irmã ainda está de posse de uma rede de tráfico. Então ele arma um plano para tentar libertar várias crianças de uma só vez e por tabela, achar Rocio, a irmã de Miguel, o que pode custar a sua vida e a dos envolvidos.

O diretor Alejandro Monteverde fez duas proezas: a primeira foi conseguir fazer um filme de qualidade com pouco dinheiro. Para isso, ele jogou mais drama do que ação e funcionou, já que as cenas de ação são mais custosas e assim, ele manteve essas sequências num nível mínimo desejável, mantendo sempre um nível de tensão mesmo em momentos mais parados.

Também foi criativo em algumas das cenas como no duelo entre Ballard e um vilão que é visto pelos olhos de uma criança, sendo que a cada vez que ela fecha os olhos, a cena fica preto total, o que ajuda a economizar nas filmagens.

A segunda qualidade foi o quão próximo o diretor deixa o espectador do espectro da pedofilia, onde ele chega no limite sem mostrar praticamente nada, trabalhando apenas com palavras, olhares, uma janela fechada ou uma aberta, inclusive, fazendo uma ótima rima áudio visual com o elemento janela e a sonoplastia que corrobora com o título.

Caviezel nunca foi um grande ator, mas entrega o mínimo necessário para não passar vergonha, mesmo que às vezes o roteiro exagere um pouco no dramalhão da relação dele com a família.

Mas a mensagem da obra é clara e emocionante com fatos e dados ao final sobre escravidão infantil e pedofilia, o quanto esse assunto é propositalmente ignorado por tanta gente.

O Som da Liberdade” é um excelente filme B que trata de um tema delicado com seriedade e cuidado, seja com a equipe, seja com o espectador, conta uma boa história nunca esquecendo que é apenas um filme. E agora embarca na polêmica para se promover, mostrando que dá para ter boas intenções, mas que o capitalismo ainda é a intenção principal.

Mesmo com vários filmes que tratam sobre escravidão ou tráfico de pessoas, esse foi feito na hora errada, mas que num golpe de sorte e num golpe de políticos inescrupulosos de ambos os lados, acabou surfando uma onda muito maior do que os outros. Inclusive que há uma bela mensagem durante os créditos. Bela, mas com aquele toque de marketing.

Ficha Técnica:

Elenco:
Jim Caviezel
Bill Camp
Mira Sorvino
Scott Haze
Cristal Aparicio
Javier Godino
Lucás Ávila
Yessica Borroto Perryman
Manny Perez
Eduardo Verástegui
Samuel Livingston
Gustavo Sánchez Parra
Kris Avedisian
José Zúñiga
Carlos Gutiérrez
Hector Lucumi
Mauricio Cujar
Gary Basaraba
Gerardo Taracena
Valerie Domínguez
Kurt Fuller

Direção:
Alejandro Monteverde

História e Roteiro:
Rod Barr
Alejandro Monteverde

Produção:
Eduardo Verástegui

Fotografia:
Gorka Gómez Andreu

Trilha Sonora:
Javier Navarrete

Avaliações dos usuários

Espetacular! Nota 10

Rated 5,0 out of 5
31/03/2024

Intenso, baseado em fatos reais, nos trás a indignação em saber que em muitos lugares crianças são abusadas , praticamente com a permissão do sistema, que lucra com isso, de alguma forma, com alguns favores! O filma é impactante e nos deixa ansiosos do começo ao fim, vontade de entrar na tela e ajudar a salvar as crianças!

Por mais pessoas como o agente Tim !

Anonymous

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