Faz parte do panteão de filmes que revezam entre presente e passado onde um gatilho no presente disparar lembranças que fazem o protagonista aspirar pelo fechamento de um ciclo ou conclusão de uma história.
Aqui temos Laura Dern (“Parque dos Dinossauros”) como Jennyfer, uma documentarista e professora reconhecida que acha uma carta de quando ela era criança, o que a faz relembrar de um período em que ela passou o verão treinando hipismo com a mistérios professora Sra. G (Elizabeth Debicki de “Tenet”) e Bill (Jason Ritter de “A Intervenção”). Em suas obscuras memórias ela também lembra de um fato perturbador que a faz repensar toda a sua infância.
A história é o grande trunfo, sobre como Jenny, que está fazendo um documentário sobre as vítimas de estupro, começa a perceber que ela própria pode ter sido uma.
O que deixa tudo ainda mais sensível é que a produção foi dirigida pela própria Jennifer Fox: sim, é um filme baseado em eventos reais. Inclusive Jennifer é realmente uma documentarista e esse é o primeiro não documentário dela.
O primeiro ato já nos traz um soco no estômago com um artifício narrativo onde Jenny não lembra direito de algumas coisas e depois a memória vai ficando mais vívida. Talvez o maior impacto do início é a troca de atriz quando ela finalmente lembra em que período os eventos acontecem (vocês vão entender).
Laura Dern encara o papel com coragem e entendimento de contexto, jamais caindo em clichês de fragilidade fáceis, mas também deixando clara as camadas emocionais da protagonista, inclusive quando passa mentalmente entrevistas com os demais personagens.
Agora, precisamos tirar o chapéu para a atriz mirim Isabelle Nélisse que já enfrentou até a entidade sobrenatural de “Mama”. Ela consegue o equilíbrio certo como a jovem Jenny que, além de sempre se portar de forma coerente junto aos acontecimentos, reflete exatamente a personalidade da atuação de Laura Dern em sua Jenny adulta (ou vice-versa).
O roteiro só escorrega um pouquinho no final como se precisasse de algo mais simbólico fechar que acabou não encontrando.
“O Conto” é uma história pesada, contada por quem passou por tudo, sendo um drama quase obrigatório seja como arte ou como lição de vida.
Curiosidades:
- Último filme de John Heard (interpreta o Bill já velho) com sua morte em julho de 2017.
- A atriz Laura Dern estava tão atarefada que o filme foi feito em 3 momentos diferentes durante 2017, somando ao todo 29 dias.
***SPOILERS – SÓ LEIA DEPOIS DE ASSISTIR AO FILME***
- Enquanto no clímax do filme Jenny confronta Bill no presente, na realidade isso nunca aconteceu. Bill nunca quis encontrar com Jenny, mas falou com ela várias vezes ao telefone como se tivesse dando entrevistas. Bill nunca foi preso.
- Todas as cenas inapropriadas foram filmadas com um dublê de corpo adulto. A diretor fez questão de colocar esse texto ao final do filme e mesmo na execução, ficava claro para o espectador que não era a mesma atriz. Aliás a atriz Isabelle Nélisse estava em todas as cenas acompanhada da mãe, de uma psicóloga e até nas cenas sensíveis, não contracenava direto com o Jason Ritter, fazendo as cenas em tomadas separadas. O cuidado era tanto que numa cena em que ela estava na cama com ele, na verdade a cama estava na vertical e ela estava em pé.
Ficha Técnica:
Elenco:
Laura Dern
Jason Ritter
Isabelle Nélisse
Common
Elizabeth Debicki
Ellen Burstyn
John Heard
Jessica Sarah Flaum
Laura Allen
Juli Erickson
Matthew Rauch
Dana Healey
Aaron Williamson
Shay Lee Abeson
Isabella Amara
Jodi Long
Direção:
Jennifer Fox
História e Roteiro:
Jennifer Fox
Produção:
Sol Bondy
Jennifer Fox
Lawrence Inglee
Mynette Louie
Oren Moverman
Simone Pero
Reka Posta
Laura Rister
Regina K. Scully
Lynda Weinman
Fotografia:
Denis Lenoir
Ivan Strasburg
Trilha Sonora:
Ariel Marx
