Identidade (“Passing”)

É um curioso caso de uma obra que e gente entende, mas tem certa dificuldade para se conectar. Tem um grau artístico elevado que ofusca uma narrativa com lacunas que prejudicam sua continuidade.

A nossa Valquíria Tessa Thompson de “Thor” aqui é Irene, casada que na década de 50 ainda enfrenta os males do racismo, apesar de ter uma boa condição financeira. Ela reencontra com uma amiga de infância, Clare (Ruth Negga de “Uma História de Amor”), casada com um homem rico, mas muito sozinha que encontra em Irene e sua família uma “segunda casa”. Só que essa aproximação começa a mexer com Irene, causando inveja e baixa autoestima.

A atriz Rebecca Hall de “Casa Sombria” estreia na direção e ela definiu um ponto artístico e um narrativo, além da própria essência da trama. O artístico foi que o filme é em preto e branco, o que ajuda justamente no ponto narrativo: o título em inglês “Passing” nesse contexto significa “se passar por”, quando alguém que sofre algum tipo de discriminação – nesse caso racial – se passa por uma pessoa da maioria que discrimina.

Propositalmente devido à iluminação, fotografia e dos tons de preto e branco, Clare muitas das vezes se passa por branca, enquanto Irene, apenas algumas das vezes. Essa discussão que fica em cima do muro entre essa realidade que só seria possível no filme e a própria questão racial, a qual toma um rumo próprio, também ofusca, como já citado, o que seria a dinâmica entre as duas protagonistas.

O incômodo de Irene com a presença de Claire não tem um desenvolvimento nítido e fica difícil a conexão com os sentimentos de Irene, da mesma forma que também não ficam claras (desculpe o trocadilho) as intenções de Claire (não propositalmente, nome que vem de “clara”).

O próprio passado que parece ser algo misterioso é simplesmente descontinuado em determinado ponto. Tanto que o desfecho – aí sim – totalmente focado na relação entre as duas parece ter pouco impacto, apesar do evento que deveria chocar mais.

Baseado na obra de Nella Larsen , “Identidade” tem mais arte que conteúdo, ou melhor, talvez o excesso de arte atrapalhou o conteúdo que ficou pelo meio do caminho, apesar do interessante e inovador enfoque sobre a questão racial. Ainda assim, pode ser bem apreciado pelo cinéfilo.

Curiosidades:

  • Apesar de eu escrever que a maneira com que o “passing” é mostrado no filme acontece por causa da questão artística de ser preto e branco, na verdade isso acontecia sim normalmente no início do século onde pessoas de pele mais clara se passavam por brancos para driblar restrições raciais.
  • O marido de Claire apelida ela de Negg (de Negro) e que coincidentemente é praticamente o sobrenome da atriz Ruth Negga.
  • A regra para o casting era que as duas atrizes escolhidas pudessem interpretar qualquer um dos papéis, como se fossem revezar numa peça de teatro. Ruth Negga adorou a idéia, mas Tessa Thompson amou a sua personagem Irene e quis ficar com ela.
  • Rebecca Hall demorou 10 anos para escrever o roteiro.

Ficha Técnica:

Elenco:
Tessa Thompson
Ruth Negga
André Holland
Bill Camp
Gbenga Akinnagbe
Antoinette Crowe-Legacy
Alexander Skarsgård
Justus Davis Graham
Ethan Barrett
Ashley Ware Jenkins

Direção:
Rebecca Hall

História e Roteiro:
Rebecca Hall

Produção:
Nina Yang Bongiovi
Rebecca Hall
Margot Hand
Forest Whitaker

Fotografia:
Eduard Grau

Trilha Sonora:
Devonté Hynes

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