Poucas coisas seriam mais desnecessárias do que uma continuação da franquia “Jogos Mortais”. Ela funcionou maravilhosamente bem quando era uma trilogia, mas depois continuaram com praticamente a mesmíssima fórmula por mais 5 filmes e ainda teve direito a um spin-off nonsense, “Espiral: O Legado de Jogos Mortais” que virou o nono filme da série. Espremeu-se tudo e mais um pouco até não sobrar praticamente nada de originalidade.
Mas já que é para ser desnecessário, é com muita surpresa constatar que “Jogos Mortais X” supera as expectativas dos mais céticos. Começa pegando carona no artifício manjado de voltar ao passado, mas subverte tudo o que conhecíamos até então.
O filme se passa entre o primeiro “Jogos Mortais” e o segundo, e é focado no próprio John Kramer, trazendo de volta o ator Tobin Bell que, após 19 anos desde original está obviamente bem mais velho e a produção não faz a menor questão de esconder isso.
Muito diferente de toda a franquia, que mostrava ele como um vilão soturno e sempre escondido (como a maior parte dos psicopatas de cinema), aqui ele é mostrado já como um anti-herói (parecido com a guinada dada em “O Homem das Trevas 2”), uma abordagem completamente diferente daquela feita na saga.
Lembram que no original, o motivo de um dos personagens estar aprisionado é porque ele trabalhava na empresa de seguro saúde que não dar a autorização para um tratamento inovador? Apesar disso não ser citado no filme, aparentemente esse tratamento inovador é o que ele vai fazer no México depois de conseguir dinheiro (não se sabe como). Quando ele descobre que foi enganado por médicos falsos, vai com tudo para a sua vingança.
É aqui que as coisas ficam mais disruptivas e podem dividir opiniões: pela primeira vez ele faz seu jogo às claras para os participantes, conversando com eles, e ainda mostrando sua ajudante Amanda, interpretada por Shawnee Smith também visivelmente mais velha o que chega a ser incoerente, pois ela ainda vai aparecer bem jovem cronologicamente depois dos eventos deste filme em “Jogos Mortais 2”.
Para os produtores nada disso importa. O impasse de opiniões, fica por conta de que, como parte da franquia, essas incoerências de modus operandi podem incomodar os puristas. É claro que se pode argumentar – com certa razão – de que por ele estar no México, Jigsaw precisou fazer as coisas mais de improviso e, por não ter uma polícia atrás dele (aliás primeiro filme em que ele não é perseguido), também não precisou esconder sua identidade.
De qualquer forma, a questão é que como um filme solo (mesmo que parte de um todo), essas subversões são muito bem vindas e não só dão um ar de originalidade na trama, como também mostra a jornada emocional do protagonista, juntamente com o código de ética que ele implanta para o resto das suas participações futuras (ou passadas, como queira).
E ninguém pode reclamar da quantidade de sangue e tripas, pois o diretor Kevin Greutert (“A Última Premonição“) garantiu que seja tão exemplar ou mais do que muitos filmes da saga (sempre poderia ser melhor, mas enfim).
Com direito a uma ótima cena pós-créditos, “Jogos Mortais X” prova que ainda há criatividade, mesmo se valendo de alguns absurdos, e coloca Jigsaw como o queridinho dos serial killers, surpreendendo o público. Mas vamos torcer para ter ficado por aí.
Curiosidades:
- Com 1h58min é o filme mais longo de toda a franquia.
- Segundo filme em que no título a continuação é em números romanos (X = 10). O primeiro foi “Jogos Mortais VI”.
- Terceiro filme da série onde sua abertura não se dá com uma armadilha.
***SPOILER – SÓ LEIA DEPOIS DE TER ASSISTIDO AO FILME***
- Primeiro filme em que Jigsaw constrói uma máquina que mutila, mas não mata mesmo se o participante perder o jogo. Só que essa armadilha na verdade foi só na imaginação dele, então tecnicamente não conta.
- Segundo filme em que uma armadilha aparece apenas na imaginação do personagem.
- Na cena pós créditos, cronologicamente é a primeira aparição do personagem de Hoffman que vai ser o principal discípulo de Jigsaw até o final da saga. Por sinal essa aparição se dá na mesma sala do primeiro “Jogos Mortais”.
Ficha Técnica:
Elenco:
Tobin Bell
Shawnee Smith
Synnøve Macody Lund
Steven Brand
Renata Vaca
Joshua Okamoto
Octavio Hinojosa
Paulette Hernandez
Jorge Briseño
Costas Mandylor
Michael Beach
Direção:
Kevin Greutert
História e Roteiro:
Josh Stolberg
Pete Goldfinger
Produção:
Mark Burg
Oren Koules
Ulrich Maier
Fotografia:
Nick Matthews
Trilha Sonora:
Charlie Clouser
