Zona de Interesse (“The Zone of Interest”)

Em meio a algumas absurdas discussões que tentam relativizar o holocausto, basta ver os primeiros 10 minutos de “Zona de Interesse” de Jonathan Glazer (do estranho “Sob a Pele”) para entender o quão único foi esse momento na história.

A obra retrata a história real da vida da família Hoss, cujo chefe Rudolf (que rima com Adolf) foi ninguém menos que um dos diretores mais sanguinários do Campo de concentração de Auschwitz, um dos mais eficientes centros de extermínio, responsável por boa parte da morte de mais de 6 milhões de judeus.

E por que o filme impressiona? Porque conta o cotidiano da família que mora ao lado do campo, mas como se não houvesse nada demais. É como existisse uma realidade paralela onde eles nem pensam no terrível genocídio que ocorre.

Grande parte do filme, o horror está justamente na banalização do mal, naquilo que não se mostra, mas que fica implícito. Daí já existe uma enorme diferença: apesar de se estar dentro de uma guerra, o holocausto em sua essência ocorre, digamos, na paz, longe das frontes de batalha.

As cenas das reuniões casuais ou formais entre os oficiais, discutindo métodos de se exterminar mais rápido com a melhor logística de transporte e até com invenção de tecnologias para o extermínio se tornar mais eficiente, tudo discutido com a maior naturalidade, como se isso fosse uma meta de vendas corporativas de uma empresa, chega a chocar.

Outra cena chocante, mais para o final é a rima visual que fazem do passado e do presente, sobre a casualidade com que os funcionários do museu de Auschwitz fazem a limpeza antes dele abrir ao público.

O protagonismo do casal é excepcional e se complementam: o desconhecido Christian Friedel faz Rudolf, o operário padrão do nazismo que lá no fundo sabe de suas atrocidades, o que se mostra em momentos chave como na cena do rio com os filhos e logo no desfecho; enquanto a indicada aos prêmios desse ano Sandra Hüller, também sensacional em “Anatomia de um Crime”, é talvez a mais diabólica personagem como a esposa Hedwig, que ama a vida de luxo com uma distorção de realidade, representando o auge do sentimento antissemita.

Zona de Interesse” é o melhor filme sobre nazismo depois de “A Lista de Schindler”, pois ambos se complementam em tudo aquilo o que mostram ou deixam de mostrar.

Curiosidades:

  • O autor do livro que se baseia o filme, Martin Amis, morreu no dia da estréia do filme em Cannes.
  • Existe um constante som de motor que pode se escutar em várias cenas na casa da família alemã. É que Rudolf Höss contratou homens para colocar motores funcionando numa tentativa de abafar os gritos de horror dos judeus e assim sua família não escutar.
  • Hedwig diz que pegou seu casaco em Canadá. Nas verdade Kanadá era o nome do galpão onde os nazistas pegavam as coisas tiradas do judeus antes deles entrarem no campo de extermínio.
  • Várias câmeras eram fixas na casa para que na maioria das cenas o elenco não soubesse de qual ângulo estava sendo filmado e assim agir da forma mais natural possível. Isso gerou mais de 800 horas de filmagem.
  • O cachorro da família é o cachorro de Sandra Hüller na “vida real”.
  • A garota judia que deixa frutas durante a noite foi baseada numa pessoa real, Alexandria e pouco antes de falecer com 90 anos, ela encontrou com o diretor Jonathan Glazer para dar consultoria ao filme.

Ficha Técnica:

Elenco:
Christian Friedel
Sandra Hüller
Johann Karthaus
Luis Noah Witte
Nele Ahrensmeier
Lilli Falk
Anastazja Drobniak
Cecylia Pekala
Kalman Wilson
Medusa Knopf
Max Beck

Direção:
Jonathan Glazer

História e Roteiro:
Martin Amis
Jonathan Glazer

Produção:
Ewa Puszczynska
James Wilson

Fotografia:
Lukasz Zal

Trilha Sonora:
Mica Levi

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