Sob a Pele (“Under the Skin”)

Definição de cult segundo a Wikipedia: Filme cult ou filme de culto é um termo coloquial para filmes que agregam grupos de fãs devotos, mas que não alcançam uma fama e reconhecimento considerável.

“Sob a Pele” já chega ao Brasil com esse “selo”, só que usado de forma equivocada: muitas vezes se confunde cult com alternativo e se diz que é uma produção feita fora dos padrões convencionais de narrativa e/ou estética e é exatamente o que acontece aqui.

O diretor Jonathan Glazer foi responsável por um dos filmes mais chatos de 2004, “Reencarnação”, com Nicole Kidman: lá existia um ótima premissa, mas uma condução narrativa péssima. Curiosamente em “Sob a Pele”, ele fez o inverso: uma excelente condução através de uma estética diferenciada, mas nenhuma história. Pior: ele se exime de contar essa história sob o pretexto que o espectador deveria encarar essa obra como arte pura por si só. Leda enganação.

Uma sinopse verdadeira por si só já revela o imbróglio: Scarlett Johansson (Capitão América 2) é uma alienígena (e só temos certeza disso pelo cartaz). Ela atrai homens para a sua casa para fazer algo que não se sabe bem o que (eles morrem decerto, mas jamais é revelado o intuito). Ela também parece (digo parece) ter um parceiro que faz ou deve fazer algo semelhante que nunca ganha destaque na tela e parece ter como único objetivo preencher o espaço dos 108 minutos de projeção. Até que ela conhece um jovem com neurofibromatose (doença que deforma o rosto) e passa a se questionar sobre a vida. Do nada, ela sai de seu estado normal e articulado para um aparente estado de catatonia ambulante, algo nunca explicado pelo roteiro. E por aí vai.

O roteiro por si só é desonesto e deixa a cargo do público escrevê-lo praticamente inteiro. Entretanto, há alguns toques de genialidade na condução – como já citado – e cenas desde já emblemáticas: o início com a protagonista fazendo testes com a própria voz para parecer humana; quando seu parceiro vai a praia pegar um objeto após um homem ter sido abduzido deixando um bebê completamente desassistido enquanto a maré sobe, mostrando a total falta de compaixão dos alienígenas pela espécie humana; o olhar de uma vítima indefesa e presa quando esta finalmente descobre que fim ela vai ter; e é claro a última e mais impactante cena de todas que praticamente discute toda a questão de como aparência influi nas relações humanas. Esses são alguns de vários exemplos onde direção, montagem e trilha sonora se juntam e fazem um trabalho de harmonia quase irretocável.

É uma pena que sejam tantas cenas repletas de significado com conteúdo e concatenamento tão fracos. “Sob a Pele” é um desperdício de uma estética hipnotizante frente a um roteiro desonesto que vai resultar em dois movimentos: as palmas de pseudo intelectuais enganando a si próprios e os demais apreciadores do bom cinema que devem sair da sessão achando que esse é apenas aquele filme onde a Scarlett Johansson aparece pelada. E não dá pra tirar a razão destes.

Ficha Técnica

Elenco:
Scarlett Johansson
Jeremy McWilliams
Lynsey Taylor Mackay
Dougie McConnell
Kevin McAlinden
D. Meade
Andrew Gorman
Joe Szula
Krystof Hádek
Roy Armstrong
Alison Chand
Ben Mills
Oscar Mills
Lee Fanning
Paul Brannigan

Direção:
Jonathan Glazer

Produção:
Nick Wechsler
James Wilson

Fotografia:
Daniel Landin

Trilha Sonora:
Mica Levi

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