O diretor Michael Mann estava sumido desde o desastre que ele fez em 2015 chamado “Hacker”. Seu retorno às telonas foi bom: ele conta aqui um trecho da vida de Enzo Ferrari, dono de uma das escuderias automotivas mais famosas do mundo, num dos períodos mais conturbados da sua vida, quando em 1957, sua empresa estava quase para falir, juntamente com seu casamento.
A única saída seria seu time de corredores ganhar a perigosa e tradicional Mille Miglia, corrida que até então já matara mais de 1 dezena de pessoas, entre pilotos e público.
Adam Driver de “65 – Ameaça Pré Histórica” soube desenhar muito bem sua persona para passar a mensagem correta de como Enzo pensa e desenvolve suas atitudes, o que o torna um protagonista nem herói, nem vilão. O destaque no elenco, entretanto, vai para Penélope Cruz de “Concorrência Oficial”, pois rouba todas as cenas e consegue apenas com olhares passar tudo aquilo que está sentindo e tornando sua Laura Ferrari, a esposa traída de Enzo, sem dúvida a personagem mais completa.
A narrativa sofre um pouco por causa de sua compartimentação. Parece que estamos vendo dois filmes em paralelos com o mesmo protagonista: um deles fala sobre o casamento de Enzo, com uma pegada mais dramática e outro sobre a corrida que pode salvar a Ferrari da falência.
O problema aí é que uma história quase não conversa com outra, como o Enzo da vida pessoal não dividisse suas angústias com aquelas do Enzo da vida profissional. É claro que se pode alegar que, como alguém com uma enorme inteligência emocional, ele não deixaria um lado influenciar outro. Ainda assim, para o espectador, tira um pouco da coesão da história.
Eis que chegamos no clímax e lá há uma cena tão chocante que só por ela já valeria a pena ver o filme. Tão chocante quanto ela são seus desdobramentos pessoais e administrativos, o que deixa o diretor terminar a história no momento certo.
“Ferrari” tem um quase grande elenco (Shailene Woodley de “Dinheiro Fácil” está apenas no automático”), uma quase grande narrativa (não fosse o paralelismo ente as tramas) e, aí sim, um grande clímax. É quase um grande filme.
Curiosidades:
- Adam Driver foi proibido de dirigir qualquer carro de corrida da Ferrari, sejam os verdadeiros ou cópias, porque a apólice de seguro não cobria.
- Já Patrick Dempsey (“Feriado Sangrento”), que faz um dos corredores pôde dirigir as cópias dos modelos, também porque ele é um corredor profissional, sendo que sua escuderia é patrocinada por ninguém menos que a Ferrari.
- Patrick Dempsey preferiu descolorir o cabelo para viver seu personagem ao invés de usar uma peruca. Resultado: ele perdeu todo o cabelo e teve que esperar nascer de novo.
- A corrida Mille Miglia foi criada em 1927, durando até 1939, retornando em 1947 até seu fim em 1961. Nesse período foram registradas nada menos que 56 mortes entre pilotos e espectadores.
- O ator Derek Hill que interpreta um dos corredores rivais é filho de um vencedor da Mille Miglia, Phil Hill, pela Ferrari em 1961, último ano da corrida e com Hill se tornando o primeiro e único americano a vencê-la.
- Percebam que tanto os carros da Ferrari e da Maserati são vermelhos, o que torna difícil para o espectador distinguir? Só que na realidade era assim mesmo: carros do mesmo país tinham a mesma cor. Itália = vermelho; França = azul, Alemanha = branco; e Inglaterra = Verde musgo. Para ajudar o espectador, o diretor sempre focava no chassi do carro para que se percebesse a escuderia.
- Durante o filme Enzo é visto várias vezes de óculos escuros. Na realidade desde a morte de seu filho, ele só saía de casa de óculos escuros.
***SPOILERS – SÓ LEIA SE JÁ TIVER ASSISTIDO AO FILME***
- Na cena após o grande acidente, aparece um corpo partido no meio. Isso aconteceu de verdade com o co-piloto do carro de De Portago.
Ficha Técnica:
Elenco:
Adam Driver
Penélope Cruz
Shailene Woodley
Gabriel Leone
Patrick Dempsey
Giuseppe Festinese
Alessandro Cremona
Derek Hill
Leonardo Caimi
Michele Savoia
Jacopo Bruno
Domenico Fortunato
Damiano Neviani
Giuseppe Bonifati
Direção:
Michael Mann
História e Roteiro:
Troy Kennedy Martin
Brock Yates
Produção:
Monika Bacardi
John Friedberg
Thomas Hayslip
Andrea Iervolino
John Lesher
Michael Mann
Laura Rister
Marie Savare
Thorsten Schumacher
Lars Sylvest
P.J. van Sandwijk
Gareth West
Fotografia:
Erik Messerschmidt
Trilha Sonora:
Daniel Pemberton
