Enquanto nos EUA, Antonio Banderas faz aquelas participações especiais ou protagonista filmes B e C, tipo “Codenome Banshee” e “Perdido na Fama”; e Penelope Cruz se sai um pouquinho melhor em filmes um pouco mais conhecidos como “As Agentes 355” e “Rede de Espiões”; nos principais países do cinema em espanhol – Argentina e Espanha – eles são rei e rainha. E merecem tudo isso pelo enorme talento que têm. Juntaram-se com o grande ator Oscar Martinez do sensacional “O Cidadão Ilustre” para fazer uma das comédias mais inteligentes do ano.
Cruz é a excêntrica diretora Lola que assume o desafio de realizar uma adaptação literária para tela contanto um conflito entre dois irmãos diametralmente opostos. Para isso, ela contrata os atores Félix (Banderas) e Ivan (Martinez). Enquanto o primeiro é daqueles que não tem método artístico, é pegador de mulheres e seu sonho é participar de produções americanas, o segundo é acadêmico, profundamente arrogante, irritantemente contra o sistema e acha que todos são inferiores a ele. Inevitavelmente essa diferença vai causar uma batalha de egos engraçadíssima com um desfecho surpreendente.
Uma das grandes sacadas do filme é que ironicamente os personagens nada mais refletem do que uma versão caricatural dos próprios atores, já que Banderas realmente se preocupa com a exposição internacional e comercial, enquanto Martinez faz excelentes trabalhos no eixo espanhol e realmente é um grande acadêmico das artes.
A dupla de diretores Gastón Duprat e Mariano Cohn, os mesmos de “O Cidadão Ilustre”, conseguiram um feito de transformar um filme praticamente teatral – longos diálogos e poucos cenários – numa incrível dinâmica entre personagens através de um roteiro inteligente, diálogos afiados e, é claro, atuações irretocáveis do trio de protagonistas, inclusive com uma quase completa falta de trilha sonora, o que tornaria a proeza mais difícil.
O mais interessante é que nenhum dos personagens é normal, cada um com suas idiossincrasias malucas, mas nenhum chega perto de algum estereótipo fácil, sendo complexos às suas maneiras. Por isso fica fácil conduzir o humor com tão poucos elementos de cenário e ainda dar uma virada dramática no desfecho digno de Woody Allen.
“Concorrência Oficial” tem a mira certa no humor inteligente e performances de cair o queixo. Deveria concorrer a vários prêmios desde já.
Curiosidade:
- O livro que está sendo adaptado se baseia numa obra de ninguém menos que Daniel Mantovani, o personagem principal de “O Cidadão Ilustre”, interpretado pelo próprio Oscar Martinez. Inclusive no filme, Mantovani cita esse livro logo no início.
Ficha Técnica:
Elenco:
Penélope Cruz
Antonio Banderas
Oscar Martínez
José Luis Gómez
Manolo Solo
Nagore Aranburu
Irene Escolar
Pilar Castro
Koldo Olabarri
Juan Grandinetti
Direção:
Mariano Cohn
Gastón Duprat
Roteiro:
Mariano Cohn
Andrés Duprat
Gastón Duprat
Produção:
Jaume Roures
Fotografia:
Arnau Valls Colomer
Trilha Sonora:
Eduardo Cruz