Carro Rei

Se o diretor David Cronenberg fosse brasileiro e sem grana, talvez tivesse dirigido a piração meia boca que é esse “Carro Rei”.

Retratado em Caruaru e apenas com elenco nordestino e quase todo desconhecido, o filme mostra Ninho (Luciano Pedro Jr.) que cresceu escutando o táxi de seu pai falar, até que descobre que não era coisa de criança e realmente o carro fala com ele. Após seu louco tio, Zé Macaco (Matheus Nachtergaele de “O Nome da Morte”), fazer algumas mudanças mecânicas, o tal carro começa a falar para todos. O que ninguém sabe são as perigosas aspirações desse veículo consciente.

O primeiro problema é logo estrutural: o filme é uma espécie de fábula urbana, mas não se coloca como tal, o que dá uma impressão de história fora do contexto ou da realidade. Inclusive demora um pouco até a gente descobrir que a produção é simplesmente malfeita e a história é um verdadeiro caos.

Chega a ser surpreendente que linhas de diálogo tão eloquentes como “Detesto que me tirem a solidão sem me dar em troca verdadeira companhia” ou uma excelente atuação como a de Nachtergaele que dá profundidade ao que deveria ser um estereótipo tenham que conviver com um roteiro que não vai a lugar nenhum e ainda tenta ser cult em vão.

A diretora, autora e produtora Renata Pinheiro faz recortes de tramas que nunca se completam ou sequer tem algum desfecho ou significado, chegando ao ponto de muitas vezes parecer meros esquetes desconectados da história, mas juntos por um mesmo tema.

Não há nenhum arco emocional que justifique a evolução dos personagens, seja dos protagonistas, Ninho, seu pai e seu tio ou até mesmo da amiga amora, que não se entende nem o nível de relacionamento dela com Ninho, seja do próprio Carro Rei que em algum momento tem uma virada de personalidade sem a menor cerimônia.

Com exceção do título do filme no primeiro ato que transmite certa grandeza, a edição é tosca e os efeitos especiais, piores ainda: a cena do bebê ou do acidente com a mãe de Ninho são risíveis e mesmo que o público tente levar esses defeitos para uma fábula, o desenvolvimento da trama vai mostrando a verdadeira natureza falha da execução. Há alguns absurdos travestidos de abstrações onde é melhor nem perguntar o como e o porquê para não termos respostas atravessadas.

Carro Rei” começou mal da concepção da idéia e só piorou a partir de sua execução, ficando difícil defendê-lo, mesmo com o propósito de uma possível subjetividade. É um atropelo (sem trocadihos).

Ficha Técnica:

Elenco:
Luciano Pedro Jr.
Matheus Nachtergaele
Clara Pinheiro
Tavinho Teixeira
Jules Elting
Adélio Lima
Ane Oliva
Alexandre Lima
Joelma Martins
Rizian
Camila Bastos
Isaar Franca

Direção:
Renata Pinheiro

Roteiro:
Sergio Oliveira
Renata Pinheiro
Leo Pyrata

Produção:
Renata Pinheiro

Fotografia:
Fernando Lockett

Trilha Sonora:
DJ Dolores

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