Instinto Materno (“Mothers’ Instinct”)

Anne Hathaway de “Viciados em Amor” e Jessica Chastain de “O Enfermeiro da Noite” estrelam esse suspense de época como Celine e Alice, duas vizinhas muito amigas, cada uma com seu marido e filho com ambas as famílias vivendo em harmonia.

Essa relação sofre o impacto quando o filho de Celine acidentalmente morre destruindo os pais e colocando um sentimento de culpa na cada vez mais ansiosa Alice. A situação piora meses depois quando Alice começa a achar que Celine quer se vingar de sua família por conta da perda de seu filho.

O diretor de fotografia Benoît Delhomme faz sua estréia na direção através de um roteiro cuja essência já conhecemos: alguém que tem algum tipo de transtorno psicológico suspeita de uma determinada teoria da conspiração, enquanto o espectador deve antecipar se esse personagem está certo ou errado.

O melhor do filme são os dois primeiros atos, primeiro que apresenta os personagens até o evento da morte da criança que desencadeia o segundo ato. Já este é mais interessante, pois vemos uma série de atos falhos de todos os personagens que vai construindo naturalmente uma tensão sem necessariamente apontar um culpado ou mentor para a suposta vingança imaginada por Alice que, inclusive só vem à tona em sua cabeça lá pela metade do filme.

Por isso que o roteiro e direção acertam – até aí – em fazer uma espécie de duelo velado ou até mesmo involuntário entre as duas protagonistas.

O problema é que no último ato, a história retorna ao clichê e, mesmo tendo um desfecho diferente que alguns imaginariam, o impacto (ou a falta dele) é o mesmo, já que o espectador se conectaria com ambas as personagens. O próprio raciocínio que corrobora para a descoberta que leva ao clímax é meio quebrado e tenta manipular o espectador desavisado.

Não gosto de fazer isso, mas na parte de spoilers, vou comentar como o filme poderia ter uma reviravolta bem melhor.

Baseado no livro de Barbara Abel, “Instinto Materno” apresenta um intrincado jogo de intrigas e emoções com um elenco que faz o seu melhor, pelo menos o último ato quando não resiste aos lugares comuns.

***SPOILERS – SÓ LEIA APÓS ASSISTIR AO FILME***

O filme teve a oportunidade de ouro de surpreender a todos: tudo o que o espectador esperava era a resposta se Celine estava realmente planejando uma vingança e Alice estava certa ou se era tudo fruto da imaginação de Alice. Assim, em tese, o público tinha duas opções em que ambas funcionariam bem. Quando se descobre que sim (clichê desse gênero), acaba-se acertando em uma delas e com isso também se acabam as surpresas.

O que o roteirista não pensou, seria numa terceira alternativa, com o marido de Celine sendo o mentor da vingança, já que em retrospecto, ele teria todos os elementos para fazê-lo, incluindo manipular a esposa, Celine. Seria um caminho mais complexo e completo, mas acima de tudo inovador e disruptivo.

O último ato parece ter sido escrito às pressas, onde três pontos falhos chamam atenção: o primeiro diz respeito a como Alice abriu o armário de remédios da casa de Celine e concluiu que a amiga estava tramando contra a sua família. O armário estava cheio de remédios e vários frascos de clorofórmio (o que Celine usou), mas isso não quer dizer nada para um marido que trabalha na indústria farmacêutica.

Segundo que a sucessão de mortes não ter despertado na polícia nenhuma suspeita a ser investigada é, no mínimo, curioso, visto que claramente o vazamento de gás no final foi proposital e a execução do crime mostrada na tela daria vários indícios de suspeita. Nessa hora o roteiro foi preguiçoso e simplesmente pulou para o desfecho.

Finalmente outra parte mal contada foi a maneira que Celine a) Conseguiu substituir as pílulas da mãe do marido de Alice por outras idênticas de placebo (haja trabalho) b) Percebeu que Alice achou a caixa e c) Descobriu, sabe Deus como, exatamente onde Alice guardou a caixa para jogar de volta na grama para o marido de Alice achar.

Por que ela faria isso se ela poderia simplesmente dar sumiço? E se Alice voltasse e achasse de novo? Como ela sabia que Alice poderia duvidar da própria realidade? Isso se chama roteiro preguiçoso.

Ficha Técnica:

Elenco:
Anne Hathaway
Jessica Chastain
Josh Charles
Caroline Lagerfelt
Anders Danielsen Lie
Baylen D. Bielitz
Steve Routman
Alexander Blaise
Eamon Patrick O’Connell

Direção:
Benoît Delhomme

História e Roteiro:
Sarah Conradt

Produção:
Jacques-Henri Bronckart
Kelly Carmichael
Jessica Chastain
Anne Hathaway
Paul Nelson

Fotografia:
Benoît Delhomme

Trilha Sonora:
Anne Nikitin

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