A Primeira Profecia (“The First Omen”)

A indústria de reciclagem e extensão de franquias – principalmente de terror – anda a todo vapor em Hollywood. Logo depois do malfadado “O Exorcista – O Devoto”, dessa vez mexeram com uma das trilogias mais apavorantes dos anos 70 e 80. O clássico “A Profecia” de 1976 foi, junto de “O Exorcista” de 1973 e “O Bebê de Rosemary” de 1968, foi um dos melhores filmes de terror de todos os tempos. Foi seguido de uma continuação em 1978 quase tão boa quanto e, em 1981 o fechamento da trilogia.

A coceira na caixa registradora de Hollywood já havia feito uma continuação péssima em 1991 que nada tem à ver com a trilogia e depois um remake inferior em 2006.

A Primeira Profecia”, como o nome induz, ocorre antes dos fatos do clássico de 1976, tendo uma conexão direta e, aí sim, fazendo parte de seu universo. A produção se passa em 1971 onde a freira Margaret (Nell Tiger Free, ainda desconhecida do cinema, mas que estava em “Game of Thrones”) vai fazer seus votos num misterioso convento em Roma, chefiado pela irmã Silva (nossa brasileiríssima Sonia Braga de “Casamento Armado”) e começa a desconfiar de que uma das jovens está sendo abusada, só para descobrir uma conspiração que pode criar o filho do demônio, enquanto também deve lidar com estranhas alucinações.

Longe de ser um filme de sustos, a obra procura ao mesmo tempo se conectar com a franquia, principalmente no último ato, mas também funcionar como um filme independente para atender ao espectador que desconhece a trilogia, até pela idade (estamos falando de 47 anos atrás).

A diretora Arkasha Stevenson investe mesmo na construção de uma tensão gradativa em cima do mistério dessa conspiração, mas também mira no público que conhece a trilogia e sabe que, independente dos esforços da nossa heroína, o endiabrado Damien vai nascer, sendo a principal questão o como.

O terceiro ato deve dividir opiniões: quando o espectador descobre o que provavelmente vai acontecer, já chama atenção que os roteiristas mudaram uma parte crucial da história que se liga à trilogia, o que foi uma decisão pensada, pois só dessa maneira, o filme seria realizado (veja em Curiosidades / Spoilers). Além disso, a cena de cartase da protagonista está mal feita: erros de continuidade (Onde está o outro carro? E os outros personagens?), e uma atuação que parece caricata, até porque a cena demora muito e parece não haver significado (saiba o significado em Curiosidades / Spoilers). O clichê de que a protagonista já teve uma infância com transtornos psicológicos também não ajuda.

Finalmente o desfecho que parece querer abrir a porta para uma continuação, mas seria praticamente impossível, pois com exceção do Padre Brennan (vivido aqui por Ralph Ineson de “Resistência”), nenhuma das outras personagens aparece nos demais filmes. Por outro lado, a conexão que é feita encaixa direitinho, incluindo a foto do ator Gregory Peck.

A Primeira Profecia” funciona melhor como filme solo, desenvolve bem o suspense, dá uma escorregada próximo do clímax, conecta-se com honra à franquia, mas deixa uma ponta solta que talvez seja amarrada depois. Ou não.

Curiosidades:

  • A primeira morte do filme tem a mesma construção da primeira morte do original “A Profecia”.
  • Os protestos vistos no filme estão historicamente corretos, pois na época os estudantes estavam realmente insatisfeitos com o governo e com a igreja.
  • Quando o bebê é revelado, toca “Ave Satani”, a trilha do original feita por Jerry Goldsmith.

***SPOILER – SÓ LEIA SE JÁ TIVER ASSISTIDO AO FILME***

  • A primeira grande mudança no filme, que altera totalmente a franquia é que no primeiro “A Profecia”, descobre-se que a mãe de Demian é um chacal (demônio) que foi emprenhada por um homem da seita. Ou seja, houve uma inversão de gêneros, já que Margaret é que foi emprenhada pelo chacal. Isso está longe de ser apenas um detalhe, mas só dessa maneira que o “A Primeira Profecia” poderia existir já que a protagonista é mulher, visto que não funcionaria se fosse um homem.
  • A segunda grande mudança é que na trilogia “A Profecia” o propósito da seita era fazer o demônio reinar no mundo. Já em “A Primeira Profecia”, o propósito da seita é fazer com que se crie um anticristo capaz de fazerem as pessoas se voltarem para Deus e para a igreja novamente. Se isso será mudado numa possível continuação, não sabemos.
  • O nome Scianna (sobrenome de Carlita, a jovem) aparece em “A Profecia” de 1976: quando o pai de Damien busca a mãe real do menino num antigo cemitério, ele encontra dois túmulos escritos respectivamente Maria Scianna e Bambino (criança em italiano) Scianna.
  • Há uma cena em que Margaret reza e no plano há uma sequência de velas em volta dela como se fosse uma boca de dentes. Posteriormente ela encontra essa boca num desenho no chão de uma sala no convento.
  • Em “A Profecia”, é revelado que o Padre Brennan também tem a marca 666, juntamente com Margaret e Carlita. O que faz deles meio irmãos, visto que nasceram do mesmo chacal (dependendo do filme o chacal é masculino ou feminino).

Ficha Técnica:

Elenco:
Nell Tiger Free
Ralph Ineson
Sonia Braga
Tawfeek Barhom
Maria Caballero
Charles Dance
Bill Nighy
Nicole Sorace
Ishtar Currie-Wilson
Andrea Arcangeli

Direção:
Arkasha Stevenson

História e Roteiro:
Tim Smith
Arkasha Stevenson
Keith Thomas
Ben Jacoby

Produção:
David S. Goyer
Keith Levine

Fotografia:
Aaron Morton

Trilha Sonora:
Mark Korven

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