Por um lado, que bom ver Liam Neeson saindo daquela zona de conforto de filmes de ação B como os medianos “Missão Resgate”, “Na Mira do Perigo” e “Agente das Sombras” (ok, “Assassino Sem Rastro” foi legal).
Por outro lado, que pena que ele saiu dessa zona justamente para fazer um filme (seu centésimo, por sinal) surpreendentemente ruim. O surpreendente fica por conta que o diretor é ninguém menos que Neil Jordan, que na década de 90 redefiniu os filmes de vampiro adaptando a obra de Anne Rice “Entrevista com o Vampiro”, sendo este um dos melhores filmes do gênero, além de feito obras excelentes como “Ondine” e “Café da Manhã em Plutão”.
Esse suspense noir passado na década de 30 na Hollywood decadente começa com pressa com Neeson sendo o estereótipo do detetive veterano e cansado que quebra as regras chamado Marlowe que recebe em seu escritório surrado a donzela Clare (Diane Kruger de “As Agentes 355”) que procura seu amante que aparentemente morreu atropelado, mas que ela tem certeza que não.
Esse é o pretexto para uma história sem pé bem cabeça e que tem personagens soltos para todos os lados e que no fim das contas só fazem preencher espaço para que o verdadeiro mistério seja como dois roteiristas (um deles o próprio Jordan) conseguiram conceber essa adaptação.
Falando nisso, “Marlowe” é uma série de livros de aventuras desse detetive escrito por Raymond Chandler e o filme é baseado num spin-off deles, “A Loira de Olhos Negros”, já pelas mãos de Benjamin Black.
Ao invés do filme se desenrolar, ele se enrola: o protagonista consegue atrair uma gama de suspeitos que só servem de disfarce para a verdadeira trama. Mas como essa não tem praticamente nada a ver com a linha principal, não soa mais que um engodo. Inclusive os personagens são meio bipolares, mudando de personalidade quando o roteiro os convém.
O diretor vai no sentido contrário de uma boa narrativa e fragmenta o desenvolvimento em momentos que se conectam mais pela linha temporal do que pela continuidade com nenhuma preocupação em fazer sentido, mantendo uma burocracia de clichês que passam a irritar.
“Sombras de um Crime” é um desperdício do que poderia ser uma boa história num gênero que carece tanto delas e nem o bom elenco salva o desastre.
Curiosidades:
- O título do livro no qual o filme se baseia (citado na crítica) aparece num cartaz de um filme numa das últimas cenas.
- Há uma cena em que Marlowe passa uma nota de 20 dólares para conseguir uma informação, o que seria um absurdo, já que com a inflação, ela equivaleria nos tempos de hoje a 440 dólares.
- Pacific Studios, o nome do estúdio de cinema onde parte do filme se passa é fictício, porém baseado no Estúdio RKO, pois todos os cartazes de filmes dele são filmes da RKO.
- Nos livros Marlowe está na casa dos 40 anos, mas Liam Neeson estava com 70 anos na época das filmagens.
- Liam Neeson tinha parado de fumar há anos, mas teve que voltar só para fazer o personagem.
- Já houve outros 11 filmes retratando o detetive Marlowe.
Ficha Técnica:
Elenco:
Liam Neeson
Diane Kruger
Jessica Lange
Daniela Melchior
Danny Huston
Adewale Akinnuoye-Agbaje
Alan Cumming
Colm Meaney
Stella Stocker
François Arnaud
Ian Hart
Mitchell Mullen
Patrick Muldoon
David Lifschitz
Anton Antoniadis
Seána Kerslake
Michael Strelow
Lauren O’Leary
Direção:
Neil Jordan
História e Roteiro:
William Monahan
Neil Jordan
Produção:
Colette Aguilar
Mark Fasano
Victor Hadida
Patrick Hibler
Billy Hines
Philip Kim
Gary Levinsohn
Alan Moloney
Fotografia:
Xavi Giménez
Trilha Sonora:
David Holmes