Essa produção francesa lançada em 2020 foi tão controversa que o título em português só foi adotado pela Netflix depois de meses numa luta para ao mesmo tempo promover e esconder o filme. Até então se usava o título em inglês “Cutties” (que praticamente é a tradução literal) para expressar o original em francês “Mignonnes” (acho que você entendeu o que significa).
Toda essa tensão foi pela acusação de sexualização da infância, já que a história é de Amy, uma menina mulçumana por volta de seus 11 anos que se junta com amigas da escola para participar de um concurso de dança – naquele ritmo sensual de Cumbia – enquanto ela passa até a prejudicar a família para se manter no concurso.
Existe essa suposta sexualização? Sim. Não que o filme deva ser algum exemplo de moral e bons costumes, já que diversas produções polêmicas tratam de assuntos delicados com forte exposição gráfica. Talvez o problema aqui seja perceber que essa sexualização funciona como apelo e não como contexto da história. Isso quer dizer que dava para desenvolver uma trama sem precisa de metade das cenas apelativas.
Na minha opinião, há uma cena emblemática onde, depois de ser pega pelo primo dias depois roubar o celular dele, Amy se esconde no banheiro, tira uma foto de sua genitália (claro que é simulado) e publica (não fica claro onde) com o intuito óbvio de incriminar o próprio primo. Só que essa cena não dá em lugar nenhum e simplesmente é esquecida pelo roteiro. Taí um exemplo de algo não só desnecessário como também que não se encaixa em lugar algum na trama.
É tanta controvérsia que às vezes não deixam espaço para falar do filme. Então lá vai: ele é chatíssimo. Nem toda apelação do mundo conseguiu transformar a obra em algo no mínimo interessante. A jornada emocional da protagonista é desconexa. O desfecho que é a única coisa bem filmada, não faz sentido algum com a construção narrativa até então (apesar de ser, digamos, edificante). O próprio concurso de dança perde o sentido no final.
As meninas que compõe o grupo não têm nenhum carisma, daquelas que chegam fazer a gente torcer contra. O roteiro propõe subtramas e cenas que nada acrescentam, como uma já citada, inclusive com comportamentos incoerentes dos personagens, seja de Amy, da família ou dos amigos.
“Lindinhas” tem uma história ruim disfarçada de drama sobre o desabrochar da inocência, mas que de tão monótona, acaba focando mais no apelo da sexualização, ou seja, viu que estava ruim, foi lá e piorou.
Ficha Técnica:
Elenco:
Fathia Youssouf
Médina El Aidi-Azouni
Esther Gohourou
Ilanah Cami-Goursolas
Myriam Hamma
Maïmouna Gueye
Mbissine Thérèse Diop
Demba Diaw
Mamadou Samaké
Bilel Chegrani
Direção:
Maïmouna Doucouré
História e Roteiro:
Maïmouna Doucouré
Produção:
Zangro
Fotografia:
Yann Maritaud
Trilha Sonora:
Nicolas Nocchi