Pinóquio (“Pinocchio”)

Cresci vendo a adaptação de Pinóquio da Disney em 1940. Era muito mais glamourosa, e porque não dizer, carismática que o próprio livro original, ou melhor, a série de livros escritos entre 1881 e 1883 chamados “As Aventuras de Pinóquio. História de um boneco” pelo autor italiano Carlo Lorenzini (ou Carlo Collodi, seu nome artístico mais conhecido).

Eis que a Disney, seguindo a tendência de todos os antigos clássicos, faz essa versão em live action que ainda tem na direção o mago Robert Zemeckis, o qual deu uma pisada de bola no recente “Convenção das Bruxas”, o talentosíssimo Tom Hanks, que deu um show em “Elvis”, e um budget para se esbaldar.

O que poderia dar errado? Apenas TUDO.

O começo engana, ou melhor, o primeiro ato, onde se vê a chegada do Grilo Falante à casa de Gepeto (Hanks) até a fada madrinha dar vida ao boneco de madeira, é a melhor parte.

Depois parece que todo mundo teve pressa. Com exceção da belíssima “When You Wish Upon a Star” cantada pela fada e o símbolo da abertura de todos os filmes da Disney, as demais músicas são cortadas e as que sobram são reduzidas a menos de 2 minutos.

Apesar de ser 15 minutos mais longo que o original de 1940, os eventos são contados em velocidade aceleradíssima: o espectador não consegue digerir uma cena e já estamos em outra diferente, com tudo sendo resolvido a três porradas, para dar espaço para mais, o que acaba se tornando menos, numa falha de direção absurda.

Chega ao ponto que as duas grandes lições do clássico são totalmente abandonadas nesse remake: a mais importante, sobre mentir, fazendo crescer o nariz de Pinóquio, é quase um pequeno adendo na trama e é mais usado para propósitos cômicos e práticos do que como lição; e a segunda sobre mau comportamento (na Ilha do Prazer) sai de delinquência para criancice, amenizando o tom sem passar moral alguma.

Essa rapidez mal feita se reflete no próprio roteiro, onde temos erros de continuidade, como na cena em que vemos a casa de Gepeto abandonada com teias de aranha e poeira, sendo que ele deixou a casa em menos de 24 horas.

Até os efeitos especiais que deveriam ser impecáveis, balançam na tela: há belíssimos momentos de inteiração com o Pinóquio de CGI, mas há cenas onde fica claro o efeito digital e até mesmo o tratamento pobre dado a ele, como na sequencia da perseguição da baleia já no último ato.

Chegando ao seu final, o que foi aquele desfecho? É como se a equipe estivesse cansada do filme e tivesse dito “Vamos parar por aqui”. Praticamente não há clímax, fazendo a produção acabar de forma abrupta com a mensagem pela metade, disfarçada como subjetividade artística.

Pinóquio” decepciona e pelo menos mostra que a única decisão certa da Disney sobre o filme foi não o ter colocado para ser exibido nos cinemas, passando logo para o streaming. Vai poupar muitas frustrações.

Curiosidades:

  • A parede de relógios cuco de Gepeto é repleta de referências de filmes da Disney / Pixar, sendo cada relógio um filme diferente, tendo, por exemplo, “Toy Story”, “Uma Cilada Para Roger Rabbit” (dirigido pelo próprio Zemeckis), “O Rei Leão”, “Malévola”, “Dumbo”, Branca de Neve e os Sete Anões”, entre outros.
  • A parede de fundo do palco do show de marionetes tem pintado o Castelo de “A Bela Adormecida”.
  • No início do filme o Grilo Falante canta um pedacinho de “When You Wish Upon a Star”, tal qual no desenho de 1940.
  • Nesse remake fica implícito que Gepeto teve uma esposa chamada Constanza e um filho.

Ficha Técnica:

Elenco:
Tom Hanks
Joseph Gordon-Levitt
Benjamin Evan Ainsworth
Angus Wright
Cynthia Erivo
Sheila Atim
Lorraine Bracco
Keegan-Michael Key
Jamie Demetriou
Giuseppe Battiston
Kyanne Lamaya
Jaquita Ta’le
Lewin Lloyd
Luke Evans

Direção:
Robert Zemeckis

Roteiro:
Robert Zemeckis
Chris Weitz
Carlo Collodi

Produção:
Derek Hogue
Andrew Miano
Chris Weitz
Robert Zemeckis

Fotografia:
Don Burgess

Trilha Sonora:
Alan Silvestri

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