Um Filho (“The Son”)

Depois do excelente “Meu Pai”, o diretor de teatro, roteirista e cineasta Florian Zeller adaptou mais uma de suas peças de teatro para o cinema. De quebra “Um Filho” é a pré-sequência de “Meu Pai” e se você quer saber o vínculo entre os dois vai lá nas curiosidades, mas cuidado que tem spoiler (apesar de parecer óbvio).

A sutileza entre os dois se encontra também nos títulos originais, onde um se chama “The Father” (O Pai, traduzido para os cinemas como Meu Pai) e o outro “The Son” (O Filho, traduzido para os cinemas como “Um Filho”). Também vamos examinar porque a troca do “O” para “Um”.

Enquanto “Meu Pai” falava do Alzheimer, “Um Filho” fala da depressão, mas sem a pretensão de ser uma depressão especial ou hollywoodiana. Simplesmente o ciclo da depressão, como ela consegue ser subjetiva o bastante para que nem o doente e nem seus entes queridos consigam entender gatilhos ou até mesmo materializar a doença racionalmente, sendo fundamental a ajuda de especialistas.

O novato Zen McGrath é Nicholas, o adolescente com depressão. Seu histórico familiar dá pistas dos motivos: vem de um casamento desfeito onde o pai que era seu ídolo, traiu sua mãe com outra e os deixou para viver com a nova mulher, onde no momento já tem outro filho recém-nascido.

A história tem início quando sua convivência com a mãe, Kate (Laura Dern de “O Conto”), fica insustentável e ele insiste em morar com pai, Peter (Hugh Jackman de “Caminhos da Memória”). Só que na casa, Nicholas se defronta com o fato do pai sempre ser muito ocupado e também com a nova esposa Beth (Vanessa Kirby de “A Sombra de Stalin”) e seu irmão por parte de pai e, daí para frente, as coisas só complicam sem que os próprios pais entendam.

Talvez a maior diferença entre ambos os filmes de Zeller é que “Meu Pai” fala da doença numa espécie de primeira pessoa, isto é, o filme se passa de acordo com a visão e a mente de seu protagonista, enquanto que “Um Filho” tem a abordagem narrativa mais comum em terceira pessoa. Como técnica há uma desvantagem, mas até isso tem justificativa, mas que entrar na cabeça de um depressivo seria antever os acontecimentos do filme, enquanto em terceira pessoa o espectador se torna o alter ego dos pais.

O título em português é “Um Filho” com artigo indefinido, explora Peter, não só como pai, mas também como filho de Anthony, interpretado por ninguém menos do que Anthony Hopkins de… “Meu Pai”!!! Então o sentido de filho vale tanto para Nicholas, quanto para Peter e como a dinâmica de Peter com seu pai, conseguiu afetar a dinâmica com seu filho também.

Com ótimas atuações, dessa vez o diretor coloca um pouco de gordura nos dois primeiros atos que poderia ter editada sem prejuízo do essencial. Às vezes essa gordura passa mensagens conflitantes, como a cena em que Peter elogia um estagiário ou então algumas tomadas contemplativas demais.

O último ato, por outro lado, é anos luz o melhor com direito a uma belíssima e ao mesmo tempo triste reviravolta no final que inclusive rivaliza com o que o diretor também fez no final de “Meu Pai”.

Um Filho” discute a depressão sem rodeios ou galanteios de cinema, colocando na pauta um grave caso e tão comum que o torna ainda mais impactante.

Curiosidades:

  • O filho recém-nascido de Peter e Beth é interpretado por dois irmãos gêmeos.
  • Além de “Meu Pai” e “Um Filho”, Florian Zeller escreveu uma terceira peça chamada “The Mother” (A Mãe em tradução literal) completando assim sua trilogia.

***SPOILER – SÓ LEIA DEPOIS DE VER O FILME***

  • Talvez você já tenha adivinhado, mas Anthony, o pai de Peter, interpretado por Anthony Hopkins é o mesmo Anthony de “Meu Pai” que também é feito pelo mesmo ator. Ou seja, os eventos de “Um Filho” se passam antes os eventos de “Meu Pai”.
  • Há algumas cenas em que personagens perguntam para Peter sobre a saúde do pai dele e, na cena do encontro dos dois, o próprio Anthony fala da doença sem dar a devida relevância, dizendo que ainda está no início e que nunca esteve tão bem. Concluímos então que a doença vai ficar grave e, por ter sido um pai tóxico, Peter vai abandoná-lo e a única pessoa a cuidar dele é a filha Anne que só aparece no próximo filme. Ela, como irmã de Peter não é citada em “Um Filho”, mas a relação é óbvia.

Ficha Técnica:

Elenco:
Hugh Jackman
Zen McGrath
Vanessa Kirby
Laura Dern
Shin-Fei Chen
William

Direção:
Florian Zeller

História e Roteiro:
Florian Zeller
Christopher Hampton

Produção:
Iain Canning
Joanna Laurie
Emile Sherman
Christophe Spadone
Florian Zeller

Fotografia:
Ben Smithard

Trilha Sonora:
Hans Zimmer

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