Provavelmente “Meu Pai” não vai ganhar o Oscar, quando todas as apostas estão em “Nomandland”. Talvez “Meu Pai” não deveria ganhar um Oscar, mas sim um prêmio exclusivo para ele de tão bom que é. E o saudosíssimo Chadwick Boseman que me perdoe, mas é difícil ser páreo para a performance que Anthony Hopkins (“Dois Papas”) nos presenteia.
Mas vamos por partes: o filme parte de uma premissa tão simples quando a senilidade na visão de seu portador. O diretor e autor francês de teatro Florian Zeller transpôs a própria peça “Le Pere” feita em 2012 para a telona e escreveu o papel do protagonista especialmente para Hopkins. Tanto que o nome dele é Anthony, um senhor que vai ficando senil e acaba se mudando para a casa da filha Anne (Olivia Colman de “A Favorita”).
Sua rotina acaba ficando cada vez mais difícil com os constantes lapsos de esquecimento, o que materializa para o espectador como se fosse uma realidade alternativa construída pelo próprio personagem, enquanto do lado de cá, o público tenta juntar os pedaços de informação para entender o que é verdade e o que é fruto do avanço da senilidade em Anthony.
Mesmo com o elenco fantástico, Hopkins está fora da reta: ele se despe de qualquer vaidade para encarar de forma visceral o lado obscuro da velhice, das limitações físicas e mentais e de como seu frágil psicológico encara o fato de que há um conjunto todo se deteriorando.
A direção está afiadíssima e enquadra a história vista pelos olhos do protagonista com ótimas edições e abordagens bastantes criativas sobre como materializar em tela as deficiências, lapsos e confusões com pessoas de uma maneira em que há uma brilhante conversão para o desfecho.
“Meu Pai” é irretocável, Hopkins está no papel de sua vida, sendo que o conjunto da obra emociona a todos por um tema tão universal que é a família e o inevitável caminho para o fim.
Curiosidades:
– Florian Zeller disse que só escreveu em inglês o filme pensando em Anthony Hopkins. Se ele não aceitasse o papel, o filme seria francês. Zeller só começou os preparativos para a produção quando Hopkins aceitou.
– Quando o personagem Anthony diz a sua data de nascimento, 31 de dezembro de 1937, está é a data de nascimento de Anthony Hopkins mesmo.
– Olivia Colman interpreta Anne e concorre ao Oscar de melhor atriz coadjuvante. Quando ganhou o Oscar em “A Favorita” seu personagem também se chamava Anne.
– A idéia de Anthony escutar a mesma música todos os dias quando acorda foi do próprio Hopkins, sendo que aquela é uma das músicas preferidas do ator, a aria da ópera de George Bizet chamada The Pearl Fishes.
Ficha Técnica
Elenco:
Anthony Hopkins
Olivia Colman
Mark Gatiss
Olivia Williams
Imogen Poots
Rufus Sewell
Ayesha Dharker
Direção:
Florian Zeller
Produção:
Philippe Carcassonne
Simon Friend
Jean-Louis Livi
David Parfitt
Christophe Spadone
Fotografia:
Ben Smithard
Trilha Sonora:
Ludovico Einaudi