O Som do Silêncio (“Sound of Metal”)

Parte dos indicados ao Oscar estão na lista muito mais por alguns aspectos de sua mensagem ou abordagem do que pelo conjunto da obra. “Minari” é um exemplo e essa produção também.

Riz Ahmed de “Cidade das Luzes” é Ruben, um baterista de uma banda que namora a vocalista Lou (Olivia Cooke de “Puro Sangue”) e de repente perde a audição, arruinando todos os seus planos musicais. É quando ele vai para uma comunidade só de surdos ex-viciados e acaba conhecendo um novo e silencioso universo.

Existem dois aspectos importantes que elevam a obra a um reconhecimento maior: o primeiro é a maneira como a cuidadosa edição de som conseguiu trazer a experiência da surdez para a tela, criando uma afinidade com o expectador junto com a boa atuação de Ahmed que o faz sem maneirismos óbvios. Essa agonia que permeia praticamente todo o filme é o seu motor propulsor e evocador dos sentimentos do público.

O segundo aspecto é a comunidade dos surdos que é um ingresso para um universo novo que, inclusive lembra “Nomadland” como uma espécie de incursão a um mundo que muitos não conhecem. Até porque, com uma única exceção, todos os coadjuvantes da comunidade são realmente surdos e as atividades que eles fazem são reais e fazem parte de um programa estruturado para essa característica (eles não chamam de deficiência).

Analisando o roteiro tecnicamente, não deixa de ser previsível. Quem acompanhar com atenção a relação de causa e consequência das ações de Ruben, não vai ser difícil de imaginar com pelo menos 20 minutos de antecedência, qual será o desfecho do personagem, e portanto, a mensagem que se quer passar.

Destaque para Paul Raci que é o ator que faz o mentor da comunidade de surdos e ex-viciados. É o único da comunidade (além do protagonista) que não é surdo de verdade. Mas seus pais são surdos e ele é um membro ativo de ONGs para surdos e ex-viciados, até porque ele já foi viciado em drogas.

O Som do Silêncio” ganha muito como experiência multissensorial e jornada de conhecimento de uma realidade que nos escapa, onde nos demais aspectos, não se sobressai, porém mantém um equilíbrio de alta qualidade até o fim.

Curiosidades:

– O filme era um curta metragem em pós-produção 7 anos antes com elenco diferente e chamado “Metalhead”. Daí o roteirista convenceu o diretor do curta a deixar ele dirigir o filme em formato de longa metragem partindo do zero.
– Paul Raci coincidentemente também toca numa banda de rock, chamada Hands of Doom.
– Todo o elenco não surdo aprendeu libras para o filme.
– O filme foi feito para ter legendas para o cinema mesmo em inglês para que os surdos pudessem acompanhar também.
– Riz Ahmed passou 6 meses aprendendo a tocar bateria.
– A cena onde Ruben ensina crianças surdas a tocar bateria foi totalmente improvisada.
– A atriz que faz a professora surda foi Miss América Surda em 2000 e 2002.
– A edição de som na pós-produção foi tão cuidadosa que demorou mais tempo de ser feita do que as próprias filmagens, totalizando mais de 10 semanas.
– Um dos grandes plots do filme é que Ruben não pode pagar implantes auditivos por serem caros e em uma das cenas é dito que o seguro saúde americano não cobre. Essa parte não é verdade. O seguro saúde americano, tanto o público como o privado, cobre cirurgias de implantes auditivos.
– A produção foi filmada em ordem cronológica.

Ficha Técnica

Elenco:
Riz Ahmed
Olivia Cooke
Paul Raci
Lauren Ridloff
Mathieu Amalric
Domenico Toledo
Chelsea Lee
Shaheem Sanchez
Chris Perfetti
Bill Thorpe
Michael Tow
William Xifaras
Rena Maliszewski
Tom Kemp

Direção:
Darius Marder

Produção:
Sacha Ben Harroche
Bill Benz
Kathy Benz
Bert Hamelinck

Fotografia:
Daniël Bouquet

Trilha Sonora:
Nicolas Becker
Abraham Marder

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