Todos Nós Desconhecidos (“All of Us Strangers”)

Um dos filmes mais originais do ano passado é uma mistura de “O Segredo de Brokeback Mountain” com “Sexto Sentido”.

Andrew Scott de “1917” é Adam um roteirista isolado que começa um relacionamento com o vizinho do andar de baixo, Harry (Paul Mescal de “Criaturas do Senhor”) ao mesmo tempo em que revê seus pais mortos há mais de 30 anos na mesma casa em que cresceu.

Aparentemente dois fatos isolados, o roteiro começa com a ótima sacada de não revelar a natureza desse encontro, digamos espiritual, entre Andrew e seus pais. Seriam eles espíritos? Seria Andrew esquizofrênico? Seria apenas um desejo do protagonista transformado em narrativa? Seria algo parte do roteiro que ele está escrevendo baseado em sua família?

Enquanto o espectador simplesmente encara esse encontro sem saber como é possível, ele também se conecta com a emocionante situação de poder reencontrar entes queridos que se foram. Em particular no filme, a sexualidade de Andrew é um fator amplamente discutido de forma honesta, visto que seus pais (sejam eles espíritos ou imaginação) pararam nos anos 80 e têm apenas a noção daquela época, juntamente com os preconceitos.

Mas engana-se quem pensa que a produção é meramente uma discussão sobre sexualidade, sendo que vai muito além ao enquadrar o amor de pais e filho e, ao mostrar a relação de Andrew com Harry, tentar delimitar até onde o carnal encontra com o sentimento.

Eis que chegamos no último ato e há uma genial reviravolta dividida em dois momentos chave que revela a natureza desse encontro mágico – com muita emoção – e algo inimaginável que o desconhecido diretor Andrew Haigh transforma em puro amor e acolhimento.

Não bastasse um desenvolvimento narrativo exemplar, a trilha sonora oitentista dá um show com os ícones LGBT da época como Pet Shop Boys, Erasure, Frankie Goes to Hollywood, The Style Council, ente outros.

Todos Nós Desconhecidos” usa o impossível para fazer brotar conexões reais e emocionantes, retratando o amor, perdão e empatia. Recomendadíssimo.

Curiosidades:

  • Na cena em que Adam e Harry falam sobre família, Pedro Pascal teve um ataque de pânico e fugiu. Só mais tarde foram completar a cena.
  • A casa dos pais de Adam é na realidade a casa de infância do diretor Andrew Haigh.
  • Jamie Bell (“Retreat”) que interpreta o pai de Andrew usou lentes marrons para se parecem com os olhos de Andrew Scott.
  • A cena da boite foi filmada realmente numa boite gay de Londres chamada Vaulxhall Tavern.

***SPOILERS – SÓ LEIA SE JÁ ASSISTIU O FILME***

  • Na despedida dos pais, a ordem em que eles desaparecem obedece a o tempo em que eles morreram no passado.
  • Na cena final, Harry se deita na cama na mesma posição em que seu cadáver foi encontrado.

Ficha Técnica:

Elenco:
Andrew Scott
Paul Mescal
Jamie Bell
Claire Foy

Direção:
Andrew Haigh

História e Roteiro:
Andrew Haigh

Produção:
Graham Broadbent
Peter Czernin
Sarah Harvey

Fotografia:
Jamie Ramsay

Trilha Sonora:
Emilie Levienaise-Farrouch

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