O Soldado Que Não Existiu (“Operation Mincemeat”)

A invasão da Sicília pelos Aliados ocorreu em julho de 1943, quase 1 ano antes do conhecido Dia D, o desembarque das tropas aliadas na Normandia, retratado no clássico “O Resgate do Soldado Ryan”. Essa primeira invasão, apesar de não ter tido a relevância do Dia D, já iniciava a virada de chave para os Aliados e só foi possível por conta da maior operação de contraespionagem feita até hoje, chamada Operação Mincemeat, onde a Inglaterra plantou informações falsas num cadáver de um suposto espião, o que levou a Alemanha nazista a deslocar grande parte de suas tropas da Sicília para a Grécia e, assim, enfraquecer suas defesas frente à invasão aliada.

O filme conta essa história e tem algo em comum com a própria operação: deu muito certo, mas por pouco não dava errado. Ou melhor, deu certo, apesar de alguns erros e decisões questionáveis.

Colin Firth de “1971” e Matthew Macfadyen de “A Batalha das Correntes” são os cabeças da operação e acabam tendo que desenrolar o plano, mesmo encontrando resistência de seus superiores.

Dirigido por John Madden do ótimo “Armas na Mesa” fez uma peculiar divisão de tons dentro da narrativa: a primeira metade, na parte de planejamento tem uma quantidade excessiva de bom humor, quase descambando mesmo para uma comédia, enquanto a partir do momento da execução, aí sim, a produção meio que vira um drama de espionagem, num tom muito mais sério e exigindo mais dos atores. Ambas as partes são muito bem dirigidas, mas a junção delas ficou meio esquisita, principalmente na transição, a qual parece ser um tanto abrupta, ao invés de construir uma tensão ou gradativamente aumentar a seriedade ou gravidade da história.

O elenco está ótimo e é o que salva principalmente a primeira metade do filme, pois conseguem comprar o humor proposto pelo diretor sem comprometer a seriedade da trama, com Firth posando em seu habitat natural de personagem e com destaque para a ótima Kelly Macdonald de “Adeus Christopher Robin”, como assessora chave da operação e talvez a personagem mais complexa da obra.

Justo por terem alguns personagens chave, como a diligente Hester (Penelope Wilton de “O Bom Gigante Amigo”) – braço direito do protagonista – e ninguém menos que o agente que inventou James Bond, Ian Flemming (Johnny Flynn de “A Escavação”), o roteiro insiste em dar uma história para cada um e gera algumas cenas que alongam a duração do filme e, mesmo que alguma sejam emocionantes, como a leitura da carta que Hester escreveu que traz uma analogia com sua própria vida, pouco agregam à trama principal.

À parte dessas cenas, a maneira como a Madden conta a história da operação até o dia da invasão é acessível, há uma ótima e criativa reconstituição de época e design de produção, e deixa o espectador sempre interessado.

O Soldado que Não Existiu” começa patinando, mas vai criando uma boa dinâmica entre personagens e história e termina com ótimo resultado, tanto para interesse histórico quanto para os cinéfilos.

Curiosidades:

– Os dois personagens principais são interpretados por Colin Firth e Matthew Macfadyen. Ambos fizeram o mesmo papel de Sr. Darcy em “Orgulho e Preconceito” só que em versões diferentes. Firth em 1995 e Macfadyen em 2005.
– Ian Flemming é tido como o idealizador da Operação Mincemeat, pois foi ele quem escreveu o manuscrito que a descrevia. Ele também foi o criador do espião mais famoso de todos os tempos, James Bond. No filme inclusive há algumas homenagens a 007, como o fato do comandante central da unidade de espionagem ser chamado de “M”, que Flemming esclarece que a letra vem de “Mãe”, pois sua mãe sempre que o chamava pelo nome era para brigar.
– Ao contrário do que os créditos finais dizem, a operação não foi mantida em segredo logo após a guerra terminar. O que foi mantido em segredo até 1997 foi a identidade do cadáver que serviu de espião fake.
– Essa história já foi contada no clássico de 1956, “O Homem que Nunca Existiu”. Também serviu de inspiração para Alfred Hitchcock fazer sua obra “Intriga Internacional” em 1959 e para sua quase comédia “O Terceiro Tiro” de 1955. Além disso, foi tema de um documentário em 2010. Este filme e o documentário foram ambos baseados no livro sobre o tema escrito em 1998 por Ben Macintyre.
– Há uma cena em que Cholmondeley (Matthew Macfadyen) reclama que “agora todo mundo quer ser escritor”. Isso foi um fato, não só por conta de Ian Flemming, mas até o próprio Ewen Montagu (Firth) chegou a publicar posteriormente um livro de espionagem. Mas quem ficou com a fama foi Flemming pelo seu 007.
– Em outra cena, uma personagem diz que para o sucesso da operação vai rezar para São Judas. São Judas é o santo das causas perdidas.
– Apesar de terem o mesmo sobrenome peculiar, dois atores do filme Matthew Macfadyen e Lorne Macfadyen não tem parentesco algum.

Ficha Técnica

Elenco:
Colin Firth
Matthew Macfadyen
Ruby Bentall
Kelly Macdonald
Charlotte Hamblin
Jason Isaacs
Penelope Wilton
Johnny Flynn
Lorne MacFadyen
Rufus Wright
Mark Gatiss
Caspar Jennings
Hattie Morahan
Dolly Gadsdon
Simon Russell Beale
Michael Bott
Alex Jennings
Ellie Haddington
Paul Lancaster
Simon Rouse
Paul Ritter
Amy Marston
Jonjo O’Neill
Gabrielle Creevy
Nicholas Rowe
Will Keen
Alexander Beyer
Markus von Lingen
Nico Birnbaum
James Fleet
Mark Bonnar
Pedro Casablanc
Laura Morgan
Pep Tosar

Direção:
John Madden

Produção:
Iain Canning
Charles S. Cohen
Emile Sherman
Kris Thykier

Fotografia:
Sebastian Blenkov

Trilha Sonora:
Thomas Newman

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