O Menino e a Garça (“Kimitachi wa dô ikiru ka”)

Um belíssimo filme mais ou menos. Hayao Miyazaki é o gênio dos estúdios Gimli, responsável por epopeias mágicas que flertam entre realidade e absurdo como “Vidas ao Vento”, “Ponyo” e “A Viagem de Chichiro” que há 10 anos anunciou sua aposentadoria, volta com um trabalho iniciado há 7 anos que se torna um dos visualmente mais ambiciosos ao mesmo tempo que retrata uma de suas histórias mais introspectivas e baseadas em sua própria vida.

Num Japão em guerra, o garoto Mahito perdeu a sua mãe num incêndio (tal qual o diretor) e junto com o pai empresário (tal qual o pai do diretor) vai morar no interior, em uma mansão com a sua tia. Tal qual é sua surpresa quando descobre que seu pai e sua tia estão juntos e ela está grávida, mas dias depois ela desaparece. Então descobre uma garça mágica que o leva a um mundo desconhecido e tenta encontrar sua tia que dias antes que seja tarde demais.

Encontrar o propósito de todos os eventos é complexo, mas é possível (veremos mais nos spoilers). O problema é que a jornada do protagonista de lidar com o luto e de autoconhecimento, seja na realidade ou seja no fantástico é pautada por elementos narrativos que não se combinam, mas que os críticos de plantão vão tentar diversos malabarismos intelectuais para explicar aquilo como sua genialidade.

O roteiro passa muito tempo focado nos problemas internos de Mahito, mas dispensa pouquíssimo tempo para focar nas soluções, ou desenvolver uma narrativa que as faça brotar de maneira natural. Por exemplo, a conturbada relação do ódio a aceitação de sua tia como sua nova mãe é ininteligível, sendo que também é um dos motores propulsores da trama, pois a aceitação significa também a diluição do luto. Mas o ímpeto de salvar sua tia surge do nada, a cena em que ela mesma mostra um ódio reprimido dentro de uma tumba mágica, mas logo depois passa, não faz o menor sentido.

O encontro que ele tem com a sua falecida mãe sob a roupagem de uma nova personagem no mundo fantástico é muito bonita, mas pouco explorada. E finalmente toda a magia e personagens mágicos são visualmente intrigantes, mas pouco desenvolvidos.

A única trama um pouco mais consistente é a do tio avô de Mahito que explica (ou pode explicar) o que atraiu tanto o menino quanto sua tia para esse seu mundo. Até mesmo a garça mágica fica sem uma explicação coerente como se trocasse de lado durante a trama, mas que o roteiro tivesse preguiça de explicar o porque.

O Menino e a Garça” é um emaranhado de meias histórias cobertas por uma arte incrível, mas que serve mais como experiência visual do que narrativa. Longe dos melhores trabalhos de Hayao Miyazaki.

Curiosidades:

  • O livro onde Mahito encontra a dedicatória de sua mãe, “Como Você Vive?” é real escrito em 1937 e um dos favoritos do diretor. Depois do lançamento do filme, o livro teve um pico de vendas.
  • Demorou 7 anos para ser feito, sendo que 2 anos e meio só de pré-produção.

***SPOILER – SÓ LEIA DEPOIS DE ASSISTIR AO FILME***

  • Fica claro que o tio avô de Mahito queria um substituto para continuar criando e cuidando daquele mundo fantástico que ele descobriu décadas atrás. Só que como poderia ser somente gente do seu sangue e, aparentemente homens (interessante esse cunho machista), ele enxergou duas novas possibilidades: o próprio Mahito, mas também o filho que sai tia ainda carregava em seu ventre e, por isso, atraiu ambos. Dá para entender que ele atraiu Mahito com a garça, mas o papel da garça vai se perdendo durante o filme, já que ela se mostra hora a favor de que Mahito assuma o mundo, hora contra, colocando-se do lado do menino.

Ficha Técnica:

Elenco:
Soma Santoki
Masaki Suda
Kô Shibasaki
Aimyon Aimyon
Yoshino Kimura
Takuya Kimura
Keiko Takeshita
Jun Fubuki
Sawako Agawa
Karen Takizawa
Shinobu Ôtake
Jun Kunimura
Kaoru Kobayashi

Direção:
Hayao Miyazaki

História e Roteiro:
Hayao Miyazaki

Produção:
Toshio Suzuki

Fotografia:
Atsushi Okui

Trilha Sonora:
Joe Hisaishi

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