O Homem dos Sonhos (“Dream Scenario”)

Se existia alguma dúvida de que Nicolas Cage é um gênio, agora não dá mais para negar. Pelo menos quando ele quer ser um gênio, ele é. Ainda se uniu a um roteiro sensacional que simplesmente disseca a cultura influencer da atualidade numa analogia brilhante.

Mas vamos por partes: Cage é Paul, um professor já na terceira idade que não tem talento nenhum e beira a mediocridade. É daquelas pessoas que ninguém notaria se ficasse numa mesma sala com ele. Só que inexplicavelmente, ele começa a aparecer no sonho das pessoas e a situação viraliza. Com um porém: em todos os sonhos, ele não faz absolutamente nada a não ser observar, o que incomoda bastante o nosso herói. Ele tenta lidar com a nova fama, mas quando os sonhos se transformam em pesadelos, o cancelamento vem pesado.

A crítica social é prefeita àquele influencer que nã tem nenhum talento e que por se expor em excesso, mesmo que sem nenhum conteúdo a agregar, começa a fazer sucesso, entrando numa roda viva de exposição (qualquer que seja ela) para engajamento. Da mesma forma, quando acontece uma adversidade, ou o que no mundo das redes sociais, podemos chamar de treta, muitas vezes, o influencer vai do céu ao inferno num ponto que se torna muito complicado e delicado a reversão dessa situação.

A produção sempre peculiar da A24 e dirigida pelo Kristoffer Borgli poderia ser só isso, mas é muito mais. E é aí que entra Nicolas Cage. Primeiro porque há uma conexão muito forte entre o ator e personagem, já que Cage foi o primeiro ator de Hollywood que virou um meme de Internet e talvez, continue sendo o maior meme de internet, sendo isto nada intencional e muito menos pela sua carreira, o que vai direitinho ao encontro de seu personagem, dando uma aura de verdade como poucas vezes se viu numa performance.

Segundo porque também é uma história de amor. De amor próprio, de amor à mulher de Paul e suas filhas. É a história de um homem que nunca se achou bom o suficiente para todos ou forte o suficiente (repare na cena do diálogo sobre o sobrenome de casado dele) e que, mesmo com a fama, não sabe lidar em sua relação familiar, muito menos com o cancelamento.

Cage emociona, apesar de ser quase uma comédia. A cena final é uma das mais bonitas do ano e consegue ser sólida e abstrata ao mesmo tempo, tendo tudo a ver com essa história de amor.

O Homem dos Sonhos” deveria ter pelo menos algumas indicações a prêmios como melhor filme, editor, roteiro, pois ator já tem. Que nem ganhasse, mas merecia muito. Conta com elementos narrativos que ao mesmo tempo emocionam e trabalham para uma inteligente crítica social, além de um domínio de direção e diálogo. Imperdível.

Curiosidade:

  • Como em todos os filmes de Nicolas Cage, foi ele que sugeriu o visual do personagem.
  • Na cena do jantar, o ator que é careca e que se parece com Paul é ninguém menos que o irmão de Nicolas Cage, Marc Coppola.
  • O produtor Ari Aster disse que uma das inspirações para “O Homem dos Sonhos” foi outro filme do Nicolas Cage, “Adaptação” de 2002.

Ficha Técnica:

Elenco:
Nicolas Cage
Julianne Nicholson
Lily Bird
Jessica Clement
Star Slade
David Klein
Kaleb Horn
Liz Adjei
Paula Boudreau
Marnie McPhail
Noah Lamanna
Tim Meadows
Dylan Baker
Maev Beaty
Marc Coppola
Krista Bridges
Sofia Banzhaf
Al Warren
Thomas Mitchell
Dylan Gelula
Michael Cera
Kate Berlant

Direção:
Kristoffer Borgli

História e Roteiro:
Kristoffer Borgli

Produção:
Ari Aster
Nicolas Cage
Tyler Campellone
Jacob Jaffke
Lars Knudsen

Fotografia:
Benjamin Loeb

Trilha Sonora:
Owen Pallett

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