Nada de Novo no Front (“Im Westen nichts Neues”)

Um dos melhores filmes de 2022 (já até editei a lista de melhores e piores aqui) é a adaptação do livro homônimo de Erich Maria Remarque feito em 1928 e que já rendeu dois filmes: o clássico premiado “Sem Novidade no Front” de 1930 e menos conhecido e também chamado “Nada de Novo no Front” de 1979.

O retrato da 1º Guerra Mundial pelo lado de um jovem soldado no front alemão é visceral gráfica, histórica e contextualmente. O estreante Felix Kammerer interpreta Paul, jovem soldado que, junto com seus amigos, se encanta com a promessa de servir a Alemanha no front oeste da guerra para a invasão da França que, segundo o Kaiser, seria concluída em poucas semanas. Não demora muito para ele perceber que a guerra é muito pior que seus piores pesadelos, onde atrocidades são cometidas e sobreviver precisa estar no instinto automático de cada um.

O diretor Edward Berger basicamente divide a narrativa em três contextos: quando Paul está no meio da guerra e do caos interagindo coletivamente; Quando Paul está em momentos intimistas com determinado personagem; e os bastidores da guerra dividindo-se entre um general frustrado que quer o massacre e o líder abaixo do Kaiser que quer a paz (Daniel Brühl de “Kingsman: A Origem”, o mais conhecido do elenco).

De cara a fotografia de James Friend é surreal em conseguir cenários, ângulos e contraste de cores (principalmente com sangue) que com poucas ou nenhuma palavra consegue descrever toda uma sensação ou sentimento. A abertura é quase uma obra de arte com uma dinâmica que lembra o primeiro ato de “Resgate do Soldado Ryan” e tão violento quanto.

De fato, é a direção de fotografia com a coreografia das batalhas e efeitos especiais que conseguem com maestria uma dinâmica narrativa quase sem precedentes e, mesmo com as pausas mais intimistas (as negociações de bastidores ou diálogos intimistas), Berger mantém um ritmo equilibrado e ao mesmo tempo voraz onde o espectador se entrega totalmente à atmosfera.

Sem contar que a trilha sonora de Volker Bertelmann é quase um prenúncio à catastrofe misturado com batidas descompassadas de tambor que expressam o caos mesmo em cenas aparentemente paradas.

O desfecho é de partir o coração e manda uma forte mensagem do que significa um desperdício tão grande de vidas humanas.

Nada de Novo no Front” é uma orquestra afinadíssima entre narrativa, desenvolvimento e execução, desde já obrigatório e emocionante. Tem altíssimas chances de premiação.

Curiosidades:

  • As filmagens ocorreram em Praga num terreno do tamanho de 10 estádios de futebol. Para se ter idéia, um dos complexos de trincheiras construído tinha 1km de comprimento por 600m de largura para caber os personagens e o time de filmagem.
  • O título do filme se deve à transmissão feita no dia do armistício entre França e Alemanha onde o locutor disse “Não há nada para reportar no front oeste da batalha”.

***SPOILER – SÓ LEIA DEPOIS DE TER VISTO AO FILME***

  • Na cena do início do filme em que Paul e seus amigos se unem cantando alegremente a uma tropa de soldados, a câmera mostra os personagens exatamente na ordem em que eles vão morrer.

Ficha Técnica:

Elenco:
Felix Kammerer
Albrecht Schuch
Aaron Hilmer
Moritz Klaus
Adrian Grünewald
Edin Hasanovic
Daniel Brühl
Thibault de Montalembert
Devid Striesow
Andreas Döhler
Sebastian Hülk
Luc Feit
Michael Wittenborn

Direção:
Edward Berger

História e Roteiro:
Edward Berger
Lesley Paterson
Ian Stokell

Produção:
Edward Berger
Daniel Marc Dreifuss
Malte Grunert

Fotografia:
James Friend

Trilha Sonora:
Volker Bertelmann

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