As Linhas Tortas de Deus (“Los renglones torcidos de Dios”)

O diretor Orion Paulo que fez o sensacional “Um Contratempo” e o excelente “Durante a Tormenta” volta com mais um suspense surpreendente, agora baseado na obra homônima de Torcuato Luca de Tena.

Bárbara Lennie, que já trabalhou com Paulo em “Um Contratempo” é Alice uma rica detetive particular que se interna num sanatório para investigar um suposto assassinato sem ninguém saber de suas verdadeiras intenções. Só que ela acaba sendo confundida com uma doente de verdade e fica presa tendo que provar sua própria sanidade.

Aqui o diretor usa dois elementos narrativos misturados: o primeiro é o duelo de narrativas onde ele mostra o que é dito sem necessariamente que isso seja um fato (usado bastante em “Um Contratempo”); e o outro – e que faz parte de uma das maiores reviravoltas – é o lapso temporal (usado no seu “Durante a Tormenta”) e que talvez seja a surpresa mais bem guardada.

Com uma belíssima produção e reconstituição de época, seu elenco está seríssimo ao vestir o papel, principalmente num cenário cheio de mentiras e algumas mentiras em que os próprios personagens acreditam ser sua versão da verdade. Todos os elementos e personagens importam tendo papéis que mais tarde se provarão fundamentais.

Então no terceiro ato chega a enxurrada de reviravoltas que vai desde a essência da história até em algumas tramas menores como a dos gêmeos. A atenção aos detalhes é tanta que é possível ver a raíz do cabelo da protagonista ficando mais preta com, denotando o tempo que ela passa no sanatório.

Só faltou uns 3 minutos a mais para o filme chegar ao mesmo patamar dos demais do diretor: o desfecho – os últimos segundos – não é suficiente para dar uma explicação detalhista do que aconteceu (ao contrário de seus trabalhos passados), deixando uma certa subjetividade que o espectador precisa complementar por si. E por mais que não haja tanto trabalho para fazê-lo, bastava o roteiro continuar na história do livro que ficaria quase perfeito (após ver o filme, leia o final do livro nas curiosidades).

Ainda há uma breve, mas interessante análise do próprio título sobre o que significa essas “linhas tortas”, comparando-as com o ditado “Deus escreve certo por linhas tortas”.

As Linhas Tortas de Deus” pavimenta a verve de suspense de seu diretor que deu uma leve deslizada por uma decisão autoral, mas que continua entregando um produto com uma qualidade muito acima do que se tem por aí.

Curiosidades:

  • O marido de Alice, personagem de Bárbara Lennie é interpretado por David Selvas que também atuou como marido de Lennie em “Um Contratempo”.
  • Os gêmeos  são interpretados pelo mesmo ator: Samuel Soler. Seus nomes foram inspirados no mito de Rômulo e Remo, irmãos gêmeos que teriam sido cuidados por uma loba e que estariam envolvidos na história da fundação de Roma de acordo com a mitologia romana.

***SPOILER – SÓ LEIA APÓS TER VISTO AO FILME***

  • No final do filme Alice é confrontada com seu médico, Dr. Donádio, provando que ela realmente é louca, mas pouco se fala do que realmente aconteceu e do seu futuro. No livro, após esse confronto, é dito que o marido dela realmente fugiu com a sua fortuna, mas porque aproveitou que ela tentou envenená-lo, vendo sua chance ao perceber que ela estava com um novo delírio investigativo, ajudando-a a se internar no sanatório. Após as explicações dadas, há uma segunda votação onde, mesmo sabendo de tudo isso, os médicos do sanatório liberam Alice para voltar para a casa sob os cuidados do Dr. Donádio por entenderem que ela se deu conta de sua própria condição. Só que então ela volta e se interna por conta própria justamente por, ao entender sua condição, não confiar mais na própria mente e então passa o resto dos seus dias lá.

Ficha Técnica:

Elenco:
Bárbara Lennie
Eduard Fernández
Loreto Mauleón
Javier Beltrán
Pablo Derqui
Samuel Soler
Federico Aguado
Adelfa Calvo
Antonio Buíl
Dafnis Balduz
David Selvas
Francisco Javier Pastor
Luis Sacristán
Lluís Soler

Direção:
Oriol Paulo

História e Roteiro:
Oriol Paulo
Lara Sendim

Produção:
Ángel Blasco
Mercedes Gamero
Adrián Guerra
Núria Valls

Fotografia:
Bernat Bosch

Trilha Sonora:
Fernando Velázquez

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