O suspense escrito e dirigido pelo espanhol Oriol Paulo consegue trazer todos os elementos que o gênero pede e um pouco mais, aproveitando-se daquilo que os mágicos também usam para seus espectadores: a percepção.
Mario Casas (“Os 33”) é um empresário de sucesso que teve sua vida arruinada quando foi pego aparentemente logo após ter matado a sua amante, Laura (Bárbara Lennie). Para provar a sua inocência ele contrata a melhor preparadora de testemunhas da cidade, Virginia (Ana Wagener) e no curso de algumas horas, ele vai contar a sua versão da história sendo cada vez mais interpelado e pressionado pela advogada para saber toda a verdade e assim poder defende-lo a contento e livrá-lo da cadeia.
A beleza da idéia principal reside no fato de que toda a história é um testemunho, isto é, uma versão da verdade que não necessariamente confere com os fatos, por vários fatores que sejam. E a cada repassada, um mesmo fato pode se apresentar de diferentes formas com diferentes visões, cabendo ao espectador tentar extrair a verdade o qual das verdades corresponde à realidade.
Tão inteligente quanto é a própria cadeira de acontecimentos que envolve o casal de amantes, desde um acidente que tira a vida de um jovem, afetando profundamente seus pais que buscam por justiça, até uma chantagem que inicialmente parece óbvia, mas vai tomando contornos cada vez mais obscuros.
A montagem e edição da produção são intocáveis, somente revelando aquilo estritamente essencial no momento certo. Inclusive o diretor se dá ao luxo de ótimas rimas visuais, como na cena em que um isqueiro caindo na água se transforma num carro sendo afundado num lago.
Com a mesma preparação, o elenco entra em campo e cumpre a missão de ser personagens de personagens, isto é, transformam-se de acordo com a versão que é contada e até certas inexpressividades contribuem para o suspense de quem é culpado ou inocente.
A trilha sonora magistral de Fernando Velázquez (“Sete Minutos Depois da Meia Noite”) instala um clima de tensão crescente deixando o público sempre alarmado com o próximo acontecimento e praticamente homenageia grandes clássicos do suspense como “Dublê de Corpo” de Brian De Palma de 1984, entre outros.
“Um Contratempo” surpreende a cada minuto e muito mais do que ter reviravoltas e querer ser sempre imprevisível, é perfeito em contar uma história com elementos técnicos e narrativos que ao se somarem, acabam multiplicando o resultado. Imperdível.
Ficha Técnica
Elenco:
Mario Casas
Ana Wagener
José Coronado
Bárbara Lennie
Francesc Orella
Paco Tous
David Selvas
Iñigo Gastesi
San Yélamos
Manel Dueso
Direção:
Oriol Paulo
Produção:
Mercedes Gamero
Adrián Guerra
Mikel Lejarza
Eneko Lizarraga
Núria Valls
Fotografia:
Xavi Giménez
Trilha Sonora:
Fernando Velázquez