Quando conceberam uma prequel da franquia Planeta dos Macacos que se inicia no fim dos anos 60, a idéia sempre foi ligar os dois pontos, como se fez em “Star Wars”, por exemplo. E talvez o grande êxito da franquia é que os filmes, sempre bem escritos e dirigidos – este por Matt Reeves também responsável pelo antecessor – é que eles pavimentam o caminho e com riqueza de detalhes (veja mais nas curiosidades).
Em “A Origem” descobrimos a droga inventada por cientistas que acabou dando inteligência aos macacos ao mesmo tempo em que criou um vírus que dizimou a raça humana. Em “O Confronto”, vimos que a relação entre humanos e macacos ficou cada vez mais delicada, o que desencadeou o tal confronto do título. Agora em “A Guerra”, isso é página virada e os exércitos aqui liderados pelo fanático Coronel (Woody Harrelson de “Quase 18”) travam uma batalha sangrenta com os macacos liderados por César (Andy Serkins, especialista em captura de movimentos desde seu Gollum de “O Senhor dos Anéis”). O que ninguém esperava é que uma mutação no vírus trouxesse uma reviravolta que explica muito do que acontece na antiga franquia.
Com essa produção, a tecnologia chegou num ponto em que parece natural criaturas digitais através de captura de movimentos interagirem com atores de carne e osso. E mais: chegamos no ponto em que os olhos das criaturas são tão cheios de vida quando os nossos (o que o Coronel até cita em uma cena) e assim suas expressões faciais são mais emocionantes do que muito artista de cinema por aí. Assim fica fácil se emocionar, criar afinidade e temer pela vida da tribo de macacos em confronto com os humanos, onde cada vida importa.
Da mesma forma, o roteiro confere ao Coronel, apesar de sua vilania, uma explicação para esse comportamento num monólogo que estranhamente faz todo o sentido do ponto de vista dos humanos e o público entende porque tantos se mobilizaram para acabar com a raça símia. Aliás, o personagem de Harrelson presta uma grande homenagem ao personagem de Marlon Brando (Coronel Kurtz) no clássico “Apocalipse Now” (que inclusive tem um trocadilho esperto com a palavra ape = símio numa determinada cena). Já o macaco César se encontra mais envelhecido e mais duro, tendo um arco de história que chega em seu ápice aqui numa analogia ao próprio Jesus que precisa guiar seu povo para guia-lo à Terra Prometida e também é crucificado (no filme numa cruz em forma de X).
O diretor traz consistência à história e esteticamente usa e abusa do revezamento de foco que contribuiu para o efeito 3D, mas também é interessante do ponto de vista da revelação posterior de elementos que já se encontravam presentes em determinada cena, como por exemplo, logo no início em que a selva fica desfocada para lentamente focar nos capacetes dos soldados com mensagens anti-macaco.
Destaque para a trilha sonora de Michael Giacchino (“Homem Aranha: De Volta ao Lar“) que parece saber exatamente a nota certa para cada momento, inclusive naqueles mais bem humorados, fazendo uma transição entre o humor, a tensão e a emoção de forma tão orgânica que parece que o áudio e o visual são uma coisa só, entremeando-se.
“Planeta dos Macacos: A Guerra” faz tudo certinho, tem boas reviravoltas (algumas previsíveis), traz elementos novos apesar da similaridade do tema com o antecessor, mas sua maior marca é pavimentar o caminho para definir toda a história que permeia a franquia desde os anos 60.
Curiosidades:
– Os macacos que se aliam às tropas humanas são chamados de Donkey (inglês para jumento ou burro de carga) porque são tratados assim e também em homenagem ao jogo Donkey Kong.
– A idéia de existir macacos desconhecidos com a mesma inteligência daqueles da tribo de César foi dada por um repórter que fez ao diretor exatamente essa pergunta numa entrevista sobre o filme antecessor: se poderia haver outros macacos afetados pelo vírus que trouxe inteligência a eles. Matt Reeves anotou a pergunta em um caderninho e colocou no roteiro.
– A garotinha que vai se chamar Nova, tem esse nome em homenagem a um dos personagens da antiga franquia.
– Caso não tenham reparado, as cruzes em forma de X são as mesmas que, na franquia antiga, delimitam a Zona Proibida.
– O Coronel nunca é chamado pelo nome, mas sabemos que seu nome é McCullough porque está escrito na insígnia em seu uniforme.
– Numa das cenas na neve, há uma grande construção que se parece com um hotel. É nada menos que uma recriação e homenagem ao Hotel Overlook do clássico “O Iluminado” de Stanley Kubrick.
– No clássico “Planeta dos Macacos” de 1968 vemos Cornelius que dá o nome de seu filho como César em homenagem ao pai me este dá a seu filho o nome de Cornelius novamente.
– Não é dito no filme, mas o personagem Malcolm (Jason Clarke) protagonista em “O Confronto” foi morto pelo Coronel nos eventos que antecederam “A Guerra”.
– A voz do orangotango Maurice foi feita a partira da recriação da voz de Charlton Heston de o primeiro “Planeta dos Macacos” de 1968.
– (SPOILER – Só leia se tiver visto o filme): Ao final fica implícito que Maurice, o Orangotango assume a liderança da tribo o que corrobora com o clássico de 1968 onde os orangotangos fazem parte do conselho máximo.
Ficha Técnica
Elenco:
Andy Serkis
Woody Harrelson
Steve Zahn
Karin Konoval
Amiah Miller
Terry Notary
Ty Olsson
Michael Adamthwaite
Toby Kebbell
Gabriel Chavarria
Judy Greer
Sara Canning
Devyn Dalton
Aleks Paunovic
Alessandro Juliani
Direção:
Matt Reeves
Produção:
Peter Chernin
Dylan Clark
Rick Jaffa
Amanda Silver
Fotografia:
Michael Seresin
Trilha Sonora:
Michael Giacchino