Até que consegue ser um bom filme, mas faz o inverso do livrinho de regras para uma boa continuação. Talvez Enola Holmes não o tenha lido, até porque adaptei de vários artigos sobre o tema e resumi em dois principais pontos. Vamos lá:
Regra 1: A Continuação deve ter um escopo maior que o primeiro, seja ele narrativo, geográfico ou psicológico.
O primeiro “Enola Holmes” apresenta a origem da personagem, o que já é um grande escopo, mostrando de onde vem todas as suas qualidades e habilidades, além de haver um caso que envolve os mais altos graus da riqueza britânica. Já na continuação, ela simplesmente precisa resolver um caso que ainda é menor comparado ao seu antecessor. Fica no vai e vem com seu interesse amoroso, Tewkesbury, e só.
Regra 2: Conserve o que deu certo. Retire o que deu errado.
Um dos destaques da abordagem narrativa do “Enola Holmes” antecessor é que ela quebra o quarto muro para falar diretamente com o espectador, o que deu um curioso e grande charme à produção. Ao invés de conservar, o diretor Harry Bradbeer, também responsável pelo primeiro, exagerou demais. Não se passa 5 minutos sem que Enola olhe para a câmera, chegando a ser arrogante e pedante em alguns momentos e de forma a parecer que ela sabe que o filme é dela e que tudo vai dar certo no final. Há poucas reviravoltas, até mesmo do que já sabíamos das cenas pós créditos do primeiro sobre Moriarty, mas não empolga.
E o que dá certo? Claro que a produção é feita com espero e muito dinheiro, contando com todos os requisitos técnicos, design, reconstituição de época pop, figurino e por aí vai. A narrativa é menor, mas ainda assim é dinâmica, não deixando o espectador cansado nas suas 2 horas de projeção.
Mas quem salva a humanidade aqui é Superman, ou melhor, Henry Cavill, com o seu Sherlock Holmes mais humano e introspectivo que sai dessa continuação pedindo uma inversão de protagonismo para que ao invés de haver uma “Enola Holmes 3”, tenha sim o Sherlock Holmes de onde parou o filme (aliás, numa ótima cena pós créditos).
Cavill está mais que confortável no papel e mesmo com corpanzil consegue transmitir a fragilidade e humanidade requeridas. Sem contar que Holmes é quem praticamente resolve oque há de mistério para resolver, ficando Enola com as partes mais de execução, ação e de olhar para câmera.
“Enola Holmes 2” preenche talvez a lacuna temporal que a Netflix precisava para soltar uma continuação, não deixa de ser bom divertimento, mas ainda vão precisar se esforçar muito para alcançar a qualidade do primeiro.
Curiosidades:
- O ator Sam Claflin não conseguiu voltar para interpretar Mycraft o outro irmão de Enola por causa de conflitos de agenda, mas o diretor torce para que ele possa voltar caso haja uma terceira parte.
- No filme toca-se a música “Where Did You Get that Hat?” que também foi tema de outro filme com Sherlock Holmes, “Sherlock e Eu” de 1988 com Holmes sendo interpretado por Michael Caine.
- A história não é baseada em nenhum dos livros de Enola Holmes por Nancy Springer e foi escrita especificamente para o filme e aproveitou-se de um evento real, a chamada “Revolta dos Fósforos” para ser sua premissa criativa.
Ficha Técnica:
Elenco:
Millie Bobby Brown
Henry Cavill
David Thewlis
Louis Partridge
Susan Wokoma
Adeel Akhtar
Sharon Duncan-Brewster
Helena Bonham Carter
Sofia Stavrinou
John Parshall
Himesh Patel
Hannah Dodd
Abbie Hern
Róisín Monaghan
Gabriel Tierney
Catriona Chandler
David Westhead
Tim McMullan
Lee Boardman
Serrana Su-Ling Bliss
Direção:
Harry Bradbeer
História e Roteiro:
Harry Bradbeer
Jack Thorne
Produção:
Millie Bobby Brown
Paige Brown
Alex Garcia
Ali Mendes
Mary Parent
Fotografia:
Giles Nuttgens
Trilha Sonora:
Daniel Pemberton