Conta a história do primeiro lutador de luta livre abertamente gay na categoria exóticos. Pausa para explicação: a categoria exóticos se forma de lutadores que se fantasiam com roupas extravagantes e por tradição funcionam como alívio cômico nas lutas, geralmente perdendo para os oponentes mais sérios. Apesar das plumas e paetês eles costumam ser heterossexuais. Na época de Cassandro, apenas ele e mais outro eram gays, mas somente Cassandro quebrou as barreiras do preconceito das próprias regras da luta livre, tornando-se um ídolo, inclusive da comunidade LGBTQIA+.
Apresentando-se como uma narrativa urbana, o grande trunfo da produção é o protagonista Gael Garcia Bernal (“Tempo”) que entrega uma performance brilhante, como Saul, que era o lutador amador Topo, mas desejava mais. Assim, ele inventa o personagem Cassandro onde pode expressar sua sexualidade nos ringues e deve enfrentar o preconceito velado da classe, baseado no amor que tem pela sua mãe e na rejeição do pai.
A história se torna um veículo que vai criando as complexas camadas que formam o personagem e por isso é tão importante que Bernal atingisse o ponto certo, para que o espectador se identifique, crie conexão, mas entenda todos os erros e falhas – inclusive de caráter – que o personagem tem.
Destaque para a fotografia de Matias Penachino que consegue dar beleza ao mundano, que é justamente o universo onde vivem os personagens, com a saturação de cores mais escuras e inclusive o formato que se aproxima das transmissões de TV antigas, fugindo do padrão widescreen estabelecido.
O terceiro ato quebra um pouco o ritmo, mas tem algumas cenas impactantes como o depoimento do adolescente que “sai do armário” ou o encontro de Cassandro com seu pai e, daí cabe a Bernal costurar tudo com seu carisma para não deixar a bola cair.
Como todo bom filme de biografia, nos créditos finais vemos fotos e vídeos do lutador real. “Cassandro” é uma história de vitoriosos num universo de perdedores e, talvez por isso, chame tanto atenção a cada pequena vitória, pois, de certa forma, estamos todos no mesmo barco.
Ficha Técnica:
Elenco:
Gael García Bernal
Roberta Colindrez
Perla De La Rosa
Joaquín Cosio
Raúl Castillo
Gigántico
Yavor Vesselinov
Leonardo Alonso
Carmen Ledesma
Javier Escobar
Jorge Andrés Zerecero
El Hijo del Santo
Direção:
Roger Ross Williams
História e Roteiro:
David Teague
Roger Ross Williams
Produção:
Todd Black
David J. Bloomfield
Julie Goldman
Ted Hope
Fotografia:
Matias Penachino
Trilha Sonora:
Marcelo Zarvos
