Começa com uma ótima premissa, mas seu final quase morre na praia (sem trocadilhos).
M. Night Shyamalan que acabara de completar sua trilogia “Corpo Fechado” / “Fragmentado” / “Vidro”, volta ao gênero do terror com um roteiro digno de um Stephen King (mas que na verdade é baseado numa graphic novel): um grupo hospedado num resort, vai a uma praia deserta e lá misteriosamente há um efeito que faz com que as pessoas envelheçam numa velocidade muito grande, além de ficarem presos no lugar, o que provoca efeitos físicos e psicológicos em cada um que os aproxima da insanidade e da morte.
O diretor sabe trabalhar muito bem os efeitos de câmera, ângulos e edições, deixando o espectador numa constante tensão sobre o que ele consegue ver dentro do cenário com a acertada fotografia de Mike Gioulakis (“O Mistério de Silver Lake”) combinada à sombria trilha sonora de Trevor Gureckis (“O Pintassilgo”).
O que geralmente costuma ser uma vantagem de Shyamalan, aqui nem sempre funciona: há momentos em que é preciso ser mais explícito para causar mais impacto, principalmente em um terror que se passa em grande parte durante o dia, como entendeu muito bem o colega Ari Aster em “Midsommar”. Ao “esconder” as partes mais chocantes, Shyamalan perde a chance de elevar o nível de terror e sem querer querendo, transforma a obra num suspense light.
Eis que chegamos no último ato e o ritmo desacelera, entra em ritmo de redenção, quase que num drama e quebra parte de tudo o que foi construído ao longo dos dois primeiros atos. A motivação por trás da visita à praia, a qual teve pistas suficientes para o espectador criar um rascunho mental, é uma mini reviravolta interessante, mas morna, e seus desdobramentos demoram mais do que o necessário (por exemplo, dá uma determinada explicação que já era óbvia pela própria cena final).
“Tempo” vale pelo ótimo enredo e desenvolvimento, mas não consegue materializar um desfecho com a mesma energia que foi acumulada ao longo da narrativa.
Curiosidades:
– Foi filmado durante a pandemia, mas ninguém do elenco ou equipe teve COVID.
– Como sempre o diretor M. Night Shyamalan faz uma ponta, como o motorista que leva o grupo à praia. Essa é a maior participação do diretor em um de seus filmes.
– Há um personagem que não para de falar num filme onde Marlon Brando e Jack Nicholson, mas não consegue lembrar o nome. O filme é “Duelo de Gigantes” de 1976. Apesar do fato do personagem citar a referência várias vezes, esse filme não tem nenhuma relação com o roteiro de “Tempo”.
Ficha Técnica
Elenco:
Gael García Bernal
Vicky Krieps
Rufus Sewell
Alex Wolff
Thomasin McKenzie
Abbey Lee
Nikki Amuka-Bird
Ken Leung
Eliza Scanlen
Aaron Pierre
Embeth Davidtz
Emun Elliott
Alexa Swinton
Gustaf Hammarsten
Kathleen Chalfant
Francesca Eastwood
Nolan River
Luca Faustino Rodriguez
Mikaya Fisher
Kailen Jude
M. Night Shyamalan
Direção:
M. Night Shyamalan
Produção:
Marc Bienstock
Ashwin Rajan
M. Night Shyamalan
Fotografia:
Mike Gioulakis
Trilha Sonora:
Trevor Gureckis