Still: Ainda sou Michael J. Fox (“Still”)

Os algoritmos das redes sociais confirmaram o que os telejornais praticam há tempos: tragédia dá engajamento. Muitas vezes não é tanto o engajamento positivo como a solidariedade convertida em ajuda, mas aquele em que o ser humano espia pelo buraco da fechadura o mundo cão, e muitas vezes se joga para fazer parte dele.

Na política tem a polarização, nas redes sociais tem o cancelamento e a lacração, no showbusiness tem a exploração dessa tragédia. Até então há dois nichos bem específicos principalmente concentrado no streaming: as séries sobre serial killers e assassinatos – quase todas as redes, inclusive a Globoplay, já produziram algumas – e os documentários de artistas e celebridades em seus piores momentos.

Nos dois últimos anos tivemos “Val” sobre o câncer na garganta do ator Val Kilmer (fez uma breve participação em “Top Gun – Maverick”), “Selma Blair: A Batalha contra a Esclerose Múltipla”, ambos da Prime Vídeo, e o mais conhecido até então que fica por conta da Apple TV+, “Still” sobre o Mal de Parkinson que acometeu um ainda jovem Michael J Fox praticamente no auge de sua carreira, um pouco depois de terminar de filmar a sensacional trilogia “De Volta Para o Futuro” no início dos anos 90.

Coincidentemente o diretor e documentarista Davis Guggenheim é marido de Elizabeth Shue, com quem Fox contracenou nas duas continuações de “De Volta Para o Futuro”, o que torna a interação entre os dois mais próxima.

A produção se divide em 3 partes que se revezam: uma é a entrevista onde Fox fica cara a cara com a câmera; a outra é sua rotina com a família, médicos e seu personal trainer para tentar se locomover melhor; e finalmente um histórico de toda a sua carreira desde antes de brilhar na série “Caras e Caretas”, até seus últimos e não tão bons filmes, onde já estava psicologicamente afetado pela doença a ponto de querer fugir de tudo, chegando finalmente ao inesperado sucesso de volta à TV, a série “Spin City” que durou 6 temporadas, até a doença não deixar mais Michael atuar.

Apesar da total empatia pelo protagonista, o documentário cria pouco, interage pouco com outras pessoas no entorno de Michael, colocando-as em “simulações” do dia a dia, quando muito, fazendo com que a entrevista até seja mais interessante.

Finalmente, o diretor se valeu de um recurso tão inusitado quanto questionável: para contar a história do ator, ele pegou cenas de seus filmes como se fossem a realidade e misturou com encenações junto a um ator que se parece com Michael J Fox para complementar os buracos. Acaba sendo poucos os momentos gravados de verdade dessa história e estes são os mais valiosos. Inclusive o mais tocante é quando o através das gravações, ele mostra em partes da série “Spin City” momentos em que o Parkinson atacava e ele disfarçava para ninguém saber.

“Still” tem como matéria prima mais valiosa um dos atores mais carismáticos de sua geração que conquistou o mundo com o icônico Marty McFly e, infelizmente a sua tragédia pessoal que engaja o público. Fora isso temos um arroz com feijão bem feito, mas que tinha potencial para muito mais nuances que vamos ter que viver sem.

Ficha Técnica:

Elenco:
Michael J. Fox
Tracy Pollan
Sam Fox Sam Fox
Aquinnah Fox
Schuyler Fox
Esmé Fox
Susan Bressman
Ryan Orser
Siobhan Murphy
Danny Irizarry
Hannah Galway

Direção:
Davis Guggenheim

História e Roteiro:
Michael J. Fox

Produção:
Will Cohen
Davis Guggenheim
Jonathan King
Annetta Marion

Fotografia:
Julia Liu
C. Kim Miles
Clair Popkin

Trilha Sonora:
John Powell

DIREÇÃO

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