Nunca gostei de realities show. Não gosto de ver uma realidade que é fabricada. Pra mim ou é real (ou baseado em fatos reais) ou é ficção. Mas vendo “Sing” fica fácil de entender porque tanta gente se rende a programas como The Voice, Masterchef e até – Deus me perdoe – BBB.
Nessa animação que poderia muito bem se passar no mesmo universo de “Zootopia”, o Koala Buster Moon é dono de um decadente teatro que para não fechar, resolve fazer um concurso de canto (tipo The Voice) dando uma recompensa ao vencedor. Por um erro de datilografia, a propaganda sai com uma recompensa dez vezes maior, o que lota o teatro de competidores e quando Moon descobre, já é tarde demais e ele tem que se virar pra fazer o negócio acontecer.
Só que o cerne narrativo está justamente nos finalistas onde seus dramas pessoas competem com a vontade de vencer: a porquinha Rosita, cheia de filhos e com um marido ausente; o gorila Johnny, filho de um ladrão e dividido entre o canto e a vida de crime; a elefanta Meena com uma voz tão poderosa quanto a sua timidez; a porco-espinho Ash, sempre negligenciada pelo namorado supostamente mais talentoso e intolerante; e o egocêntrico e ganancioso ratinho Mike.
O diretor Garth Jennings que assume essa posição quase dez anos depois de dirigir o sensacional “O Filho do Rambo” conseguiu o feito de dosar perfeitamente a participação de cada personagem para que o espectador absorva igualmente as histórias em conjunto independente da afinidade. Mesmo com um primeiro ato meio atropelado, ele põe a trama nos eixos e consegue se conectar com o espectador de forma emotiva sem nunca perder o bom humor.
E numa produção de música, impossível não ter muito disso. Melhor ainda é as pouco mais de 85 músicas nas quase duas horas de produção não só ficam aderentes à proposta, funcionam de maneira orgânica, como também são escolhas acertadíssimas de Joby Talbot (“Circuito Fechado”) e os realizadores, com canções que vão da década de 40 até a atualidade, passando por Beatles, Frank Sinatra, Van Halen, Beyoncé, Katy Perry, Carly Rae Jepsem, Major Lazer, Queen, David Bowie, George Michael, Seal e com direito a uma homenagem ao o maestro Enio Morricone.
Se o arco de história não difere tanto das demais animações, a condução, a trilha e os personagens são só carisma e fazem de “Sing”, uma animação diferenciada com direito a ver mais de uma vez.
Curiosidades:
– Se você prestar atenção o acidente que faz com que Johnny fique preso no trânsito é causado por ele mesmo.
– Há 3 referências de De Volta Para o Futuro no filme:
1. O solo de guitarra de Ash que remonta a mesma cena da escola com Marty McFly.
2. Buster Moon tentando roubar energia só que na hora em que ele vai encaixar na tomada, percebe que o cabo não chega lá.
3. O walkie talkie na jaqueta de Johnny que é quase que uma cópia usada por Marty McFly em “De Volta Para o Futuro 2”.
Ficha Técnica
Elenco:
Matthew McConaughey
Reese Witherspoon
Seth MacFarlane
Scarlett Johansson
John C. Reilly
Taron Egerton
Tori Kelly
Jennifer Saunders
Jennifer Hudson
Garth Jennings
Peter Serafinowicz
Nick Kroll
Beck Bennett
Jay Pharoah
Nick Offerman
Direção:
Christophe Lourdelet
Garth Jennings
Produção:
Janet Healy
Christopher Meledandri
Trilha Sonora:
Joby Talbot