Ruído Branco (“White Noise”)

O cineasta Noah Baumbach fez o alicerce de sua carreira em cima de dramas de famílias disfuncionais como no sensacional “História de um Casamento”. Pela primeira vez adaptando uma história que ele não escreveu – é o livro do cultuado Don DeLillo – ele faz um novo enfoque justamente pelo drama abordar uma família aparentemente funcional. Existe um pano de fundo de um acidente químico que mexe com uma cidade inteira e daí focamos na família de Jack e Babette, Adam Driver e Greta Gerwig, queridinhos do diretor que também apareceram em “História de um Casamento”.

O primeiro ato exemplifica perfeitamente o grau de funcionalidade e explica o porque do ruído branco: é um barulho que combina e oscila diferentes frequências com o objetivo de atingir todo o espectro de som para mascarar qualquer tipo de frequência que esteja atrapalhando a pessoa.

Reparem que os diálogos entre os membros da família são tão desconexos e um por cima do outro que causa um análogo ao ruído branco dando a impressão de normalidade e assim mascarando todo e qualquer problema que a família tenha. Na verdade, esse recurso é a essência do filme e a chave mestra do diretor que o repete de forma inteligente em vários momentos, como na cena em que Jack “ajuda” um professor amigo, transformando uma palestra sobre Elvis em uma sobre Hitler onde ninguém mais consegue se situar, simplesmente para satisfazer seu ego. Nesse prisma o ego dos personagens é algo importante, pois ele funciona como uma espécie de chancela para a aparente normalidade frente ao ruído branco.

Ainda há o bom e velho capitalismo, tema recorrente nas obras do autor, que se mistura ao ruído e serve de muleta para que os personagens esqueçam dos problemas. Ao contrário de livro, a produção dá um foco especial nessa crítica social mais no desfecho, enquando que no desenvolvimento o capitalismo retratado pelo shopping / supermercado cumpre mais um papel coadjuvante, mas sempre presente.

Desmascaramos essa camada da narrativa no segundo ato, quando ocorre o acidente químico e a família – em especial Jack – demora para entender a gravidade da situação porque seu ego junto com o ruído branco (culpa de toda a família) minimiza o problema.

Longe de ser o cerne da história, o acidente químico serve como um choque para acordar o casal para que eles, aí sim, se deparem e enfrentem os seus problemas, o que abre espaço, (mais uma vez) aí sim, para uma comédia um pouco mais rasgada, mas bem voltada a diálogos expositivos que a maioria das vezes funcionam.

O elenco entrou numa abordagem teatral e que combina muito bem com o contexto, aliada a uma edição ágil que permite a construção de sequencias com cortes rápidos e que sabemos que tiveram que ser filmadas várias vezes para que as câmeras assumissem o posicionamento correto, mostrando assim o cuidado do realizador com a obra.

Ruído Branco” acaba pedindo uma duração maior do que a média do gênero, menos pelo conteúdo da história e mais pela maneira com que ela é contada, para tentar passar ao espectador a mesma energia que o livro passa. E de certa forma consegue muito bem.

De quebra temos os ótimos créditos finais ao som oitentista capturada por ninguém menos que o premiado Danny Elfman de “Dr. Estranho no Multiverso da Loucura” e que agora relembra seus dias de Oingo Boingo.

Ficha Técnica:

Elenco:
Adam Driver
Greta Gerwig
Don Cheadle
May Nivola
Raffey Cassidy
Sam Nivola

Direção:
Noah Baumbach

História e Roteiro:
Noah Baumbach

Produção:
Noah Baumbach
David Heyman
Uri Singer

Fotografia:
Lol Crawley

Trilha Sonora:
Danny Elfman

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