Uma das coisas que mais irritam na maioria dos filmes de terror é a falta de coerência principalmente naquela reviravolta final. Alguns roteiristas fracos e outros nem tanto resolvem mudar as regras do jogo achando que ao se contradizerem e às vezes insultando a inteligência do público, estarão provocando uma surpresa ao espectador. São poucos os filmes que estabelecem suas regras e conseguem – sem sair delas – provocar essa surpresa. Dois deles são “Sexto Sentido” e “Os Outros”. Felizmente “O Espelho” se encontra nessa última categoria, além de promover alguns ótimos toques de originalidade.
Começa por contar duas histórias em momentos diferentes ao mesmo tempo: a de uma família que compra o tal espelho e passa a ser atormentada por fenômenos sobrenaturais; e onze anos depois os dois filhos desta família já adultos encontram novamente o espelho na intenção de destruí-lo de vez. E as cenas se desenrolam revezando entre os diferentes espaços de tempo e às vezes se confundindo propositalmente.
Outro diferencial vai para a natureza da assombração: muito mais do que uma presença, o artefato age produzindo ilusões na cabeça dos personagens e o diretor explora todas as possibilidades dessa premissa com muita propriedade. E finalmente, apesar de breve, é muito interessante a discussão inicial dos irmãos já crescidos sobre a própria sanidade em responsabilizar o sobrenatural pelos atos ocorridos no passado. E nesse ponto, apesar de não muito maduros a dupla de protagonistas formada por Karen Gillan, a ruivinha linda da série “Dr. Who” e Brenton Thwaites de “Malévola” dão conta do recado.
E voltando ao roteiro, é um alivio ver já no fim do primeiro ato, as regras (ou o modus operandi do espelho) sendo literalmente descritas e constatar que até o final, elas são respeitadas, fazendo com que a platéia jamais se sinta lesada por algo fora do contexto. Falando em final, lógico que algumas pessoas devem sair torcendo o nariz. Entretanto ele é a penas um excelente produto da consistência adotada.
“O Espelho” é o tipo de terror original que muita gente espera, mas nem todo mundo identifica quando vê, superando-se em quase todos os aspectos narrativos, sem tanta necessidade de efeitos especiais e gerando ótimos momentos de tensão.
Ficha Técnica
Elenco:
Karen Gillan
Brenton Thwaites
Katee Sackhoff
Rory Cochrane
Annalise Basso
Garrett Ryan
James Lafferty
Miguel Sandoval
Kate Siegel
Direção:
Mike Flanagan
Produção:
Marc D. Evans
Trevor Macy
Fotografia:
Michael Fimognari
Trilha Sonora:
The Newton Brothers