O Contador de Cartas (“The Card Counter”)

O diretor Paul Schrader do ótimo “Fé Corrompida” é fã da velha forma de se fazer cinema, como se fosse um contador de clássicos. Isso muitas vezes o dá altos, como o filma já citado, e baixos como os inacreditavelmente ruins “Cães Selvagens” e “Vingança ao Anoitecer”. Isso porque Schrader funciona melhor como roteirista dos grandes clássicos de Martin Scorcese, do que propriamente como diretor.

Inclusive nessa produção ele quis, em essência, repetir o feito do icônico “Taxi Driver”, da dobradinha Scorcese na direção e Schrader no roteiro. Só que faltou o Scorcese na equação (se bem que ele financiou parte desse projeto).

Oscar Isaac de “Duna” é William Tell, um homem misterioso que depois de sair da prisão, passa a sua vida viajando pelos EUA e jogando baralho (black jack e poker), pois é um exímio contador de cartas. Sua vida muda quando encontra Cirk (Tye Sheridan de “O Recepcionista”) que tem uma ligação com o passado de William, fazendo-o repensar a sua vida.

A história apresenta dois mundos diferentes que tentam se conectar através da história pessoal do protagonista: o mundo do poker e dos cassinos com seus torneios pelos EUA, e o mundo do militarismo e dos traumas pós-guerra, em especial do episódio um tanto recente sobre o vazamento de cenas de tortura na prisão de Guantânamo. Apesar de ambos os temas serem bem apresentados, sua conexão mais atrapalha do que ajuda.

Claro, Isaac é bom, mas não é um De Niro, e seus conflitos internos são bem mais moderados, seja pelo desenho do roteiro, seja pela limitação de atuação. Ainda assim Schrader consegue construir uma narrativa intrigante à moda antiga.

Entretanto, faz um terceiro ato equivocado ao invocar uma das máximas do cinema, de que “o melhor é o que não é visto”. Enquanto Scorcese usa essa máxima de forma genial e equilibrada em “Taxi Driver”, aqui o diretor pisa fundo e exagera, deixando as cenas mais impactantes de fora. Praticamente todas. O espectador não tem nem um pedacinho gráfico para se apegar, mesmo que entenda perfeitamente o que aconteceu. Aliás, a tomada do amanhecer na casa de um determinado personagem no final seria genial, não fosse o fato de que nada mais explícito foi mostrado antes ou durante ou depois, deixando o conceito do fato etéreo demais.

O Contador de Cartas” é um bom exercício de cinema em todos os seus elementos para se poder aprender até com os erros que comete.

Curiosidades:

  • A contratação de Tye Sheridan foi sugestão de Nicolas Cage, que é amigo do diretor.
  • O orçamento para a produção foi tão pequeno que foi dividido em 20 pessoas que se tornaram produtores executivos. Ainda assim, cada cena só podia ser feito com no máximo 2 tomadas.
  • Para a preparação do filme Oscar isaac teve aulas de poker, black jack e caligrafia, porque seu personagem escrevia um diário todas as noites.
  • Não é explicado porque o protagonista sempre embrulha todos os móveis dos lugares que fica. Mas essa idéia veio por causa de um amigo do diretor, que tinha esse TOC.
  • Faltando 5 dias para terminar as filmagens, a produção teve que ser interrompida porque um dos atores pegou COVID, e só foi retomada 2 meses depois.
  • O livro que William lê na prisão é “Meditações” de Marcus Aurelius.
  • A tatuagem nas costas de William se lê: “Confio minha vida à providência. Confio minha alma à graça” (divina).

Ficha Técnica:

Elenco:
Oscar Isaac
Tiffany Haddish
Tye Sheridan
Willem Dafoe
Alexander Babara
Bobby C. King
Ekaterina Baker
Bryan Truong
Dylan Flashner
Adrienne Lau
Joel Michaely
Rachel Michiko Whitney

Direção:
Paul Schrader

História e Roteiro:
Paul Schrader

Produção:
Lauren Mann
Braxton Pope
David M. Wulf

Fotografia:
Alexander Dynan

Trilha Sonora:
Robert Levon Been
Giancarlo Vulcano

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