Negação (“Denial”)

Estamos em pleno 2018 e existem pessoas que acreditam que a Terra é plana, mesmo com isso provado pela ciência há mais de século. Tão surpreendente quanto é saber que na década de 90 ainda haviam alguns historiadores que negavam a ocorrência do holocausto na Segunda Guerra Mundial e, alguns deles, como David Irving o faziam deliberadamente por ser simpatizante de Hitler e do antissemitismo.

Baseado numa história real a trama acompanha um famoso julgamento onde Irving (Timothy Spall de “Um Plano Brilhante” que aparentemente passou por uma cirurgia de redução de estômago) processa por calúnia e difamação a professora Deborah Lipstadt (Rachel Weisz de “Minha Prima Raquel”), especialista em Segunda Guerra – e judia – que em seu livro expõe Irving com charlatão e racista. Por uma peculiaridade dos tribunais britânicos, no caso de calúnia e difamação, é o réu que deve provar sua inocência. Assim, um time de advogados liderados por Richard Rampton (Tom Wilkinson de “Snowden: Herói ou Traidor”) é reunido para provar não só a inocência de Deborah, mas por consequência a própria existência do holocausto.

A trama é muito rica e as investigações e o próprio processo decorrido no julgamento mostram detalhes quase surreais do quão longe as pessoas podem ir para fixar uma idéia errada na cabeça das pessoas (até hoje vemos isso acontecendo na política). Inclusive, como mostra o último ato, até um resultado claro pode ser interpretado de forma diferente quando faltam escrúpulos e sobra malícia.

Só que a direção de Mick Jackson prestou um desserviço romantizando demais a narrativa. Como exemplos, o próprio veredito que ele enrolou vários minutos desnecessários ou o desfecho querendo extrair alguma emoção por simplesmente filmar o campo de Auschwitz, quando no segundo ato, uma sequencia passada lá já era consistente com a narrativa e provocou muito mais afinidade do público.

A consequência dessa decisão do diretor é o mau aproveitamento da protagonista. Por ser Rachel Weisz, era esperado que ela tivesse uma participação decisiva. Entretanto, na história real, sua participação – digamos presencial – em todo o processo foi mínima. Então no filme quiseram transformá-la no centro emocional da narrativa através de artifícios e subtramas que tem pouca relevância pra trama e acabam numa tentativa frustrada de extrair emoção na marra. E o que é pior: transformaram Deborah na personagem mais chata da produção, como se ela quisesse se intrometer em todos os momentos, muitos que não dizem respeito a ela. Assim, seu protagonismo se torna mais um fardo para o roteiro do que uma vantagem.

Negação” é válido como um ponto crucial de reconhecimento histórico, apesar de derrapar num melodrama bem acima do que a própria trama pede. Parte relevante, parte desnecessário.

Curiosidades:
– Todos os diálogos do tribunal foram tiradas palavra por palavra do julgamento original.
– A história que Deborah contempla duas vezes durante o filme é a de Boadicéia e Suas Filhas no Pier de Westminster. Boadicéia foi uma rainha guerreira e um dos primeiros exemplos do empowerment feminino da antiguidade. Entretanto, sua tribo foi derrotada pelo império romano.
– O advogado Richard diz numa cena que seu último caso foi contra o McDonalds. Esse caso ficou muito conhecido nos meios jurídicos como McLiebel onde o MdDonalds processou duas pessoas comuns por calúnia e difamação, mas perdeu.

Ficha Técnica

Elenco:
Rachel Weisz
Tom Wilkinson
Timothy Spall
Andrew Scott
Jack Lowden
Caren Pistorius
Alex Jennings
Harriet Walter
Mark Gatiss
John Sessions
Nikki Amuka-Bird
Pip Carter
Jackie Clune
Will Attenborough
Max Befort

Direção:
Mick Jackson

Produção:
Gary Foster
Marta Habior
Russ Krasnoff
Marta Lewandowska

Fotografia:
Haris Zambarloukos

Trilha Sonora:
Justine Wright

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