Não Olhe para Cima (“Don’t Look Up”)

Cinema geralmente é ferramenta de escapismo, mas também pode ser ao mesmo tempo uma crítica social aos nossos e outros tempos, pilares que caminham em paralelo nessa produção.

Sem entrar na discussão de valores, o mais importante sobre esse nosso momento sócio-político é que a nova obra de Adam McKay mostra que movimentos como o negacionismo, o projeto de poder dos políticos e as grandes corporações que são as que realmente mandam em todos esses projetos é um movimento mundial e não restrito a um determinado país ou governo, e mais: que esse movimento ultrapassa as fronteiras das tão ditas direita ou esquerda, democratas ou republicanos e qualquer outra ideologia que se venha a defender, já que esse movimento está enraizado na cabeça de quem está no poder e de quem quer o poder.

Dito isso, vamos ao filme.

Adam McKay começou entrelaça aqui dois momentos diferentes de sua carreira: o início, quando despontou em filmes besteirol principalmente em parceria com o comediante Will Ferrel como em “Tudo Por Um Furo” só que com a abordagem narrativa de seu momento mais recente de filmes premiados como “A Grande Aposta” e “Vice”. O interessante é que essa abordagem contribui para um besteirol equilibrado.

Reunindo uma trupe do altíssimo escalão de Hollywood, vemos Leonardo DiCaprio de “Era Uma Vez em… Hollywood” esbanjando talento e comédia como o cientista Dr. Randall que busca a Casa Branca após sua aluna de doutorado Kate (Jennifer Lawrence de “Operação Red Sparrow”) descobrir um cometa vindo em direção à Terra em rota de colisão que causaria a extinção da humanidade.

Para sua surpresa, a presidente dos EUA (Meryl Streep de “Adoráveis Mulheres”) não só não está interessada, como não acredita e depois ainda acha que pode usar o tal cometa a favor da reeleição. Até que o dono de uma grande empresa de tecnologia, Peter (Mark Rylance de “Os 7 de Chicago” numa óbvia paródia a Steve Jobs) tem planos ainda mais ambiciosos para o tal cometa.

O roteiro é uma enxurrada de referências pop bastante atualizada com os tempos atuais e do poder que as redes sociais, os memes e, logo depois, a mídia consegue ter sobre o povo e como ocorre a polarização das massas através dessa manipulação, onde valores falsos são implantados de forma subliminar para fazer pessoas em tese inteligentes acreditarem nas maiores bobagens, sendo assim controladas pelo governo e/ou mídia.

O elenco inteiro atua na forma de caricaturas dessas referências, sendo a personagem de Jennifer Lawrence o alter ego do espectador, pois é a única que entende a gravidade da situação e não se deixa corromper, sendo também a única a ser “cancelada” e desqualificada para que o povo se volte contra ela e suas idéias.

McKay explora bem o talento do seu time e capricha no besteirol, com edições rápidas que frequentemente quebram o ritmo para outro ainda mais acelerado, indo numa oscilação de velocidades como numa montanha russa de paródia o que, inclusive, contribui para esse tipo de humor.

O único ponto de atenção é que são tantas as referências e informações que o diretor quis abraçar, tanto conteúdo, que o filme pareceu um pouco longo demais. Muitas idas e vindas para provar pontos que já estavam previamente estabelecidos em outras cenas ou piadas, tornando-se um pouco repetitivo, mas sem negativar o ótimo resultado final que, por sinal, ainda consta de mais duas cenas pós créditos.

Não Olhe Para Cima” é uma forma divertidíssima de se falar da verdade, de como entender esse momento controverso e das bolhas onde cada um se encontra simplesmente para alimentar um sistema que só pensa em si. Ao mesmo tempo, é a mais pura forma de escapismo. Programaço.

Curiosidades:

– Jennifer Lawrence quebrou um dente antes da filmagem e por causa da pandemia não conseguiu ir ao dentista. Ela fez o filme inteiro de dente quebrado e a equipe consertou através de efeitos digitais na pós-produção.
– Na realidade, caso um asteroide batesse na Terra o fim do mundo não ia ser imediato como o filme prevê. O impacto iria levantar uma poeira de tal forma a cobrir o sol, o que iria mudar drasticamente o clima do planeta em alguns anos a vida seria extinta.
– O personagem de Timothée Chalamet de “Duna” teria cabelos curtos, mas por causa da pandemia e quarentena ele os deixou crescer. Numa vídeo conferência com o diretor Adam McKay, ele gostou e pediu para Timothée deixar crescer ainda mais para as filmagens.
– A equipe de maquiagem e figurino foi instruída para deixar o personagem de Leonardo DiCaprio o menos sexy possível.
– O telefone que o governo dá para os habitantes tirarem suas dúvidas sobre o cometa é de um disque-sexo nos EUA.
– Numa cena em 1h41min aparece um QR-Code que leva a ao clipe completo de Ariana Grande & Kid Cudi – Just Look Up.
– Todos os celulares usados no filme são de uma fabricante americana que faliu chamada Red.

SPOILER – SÓ LEIA SE JÁ VIU O FILME!!!

– A previsão do bilionário empresário de que Dr. Randall iria morrer sozinho não se concretizou, pois no momento do choque do cometa ele está com a família e amigos (a probabilidade seria de 96,7%).
– Depois do choque na Terra vários objetos aparecem orbitando no espaço. Tem o touro dourado de Wall Street, como uma clara crítica ao capitalismo, e o carro vermelho que representa aquele da Tesla que Elon Musk levou para o espaço.

Ficha Técnica

Elenco:
Leonardo DiCaprio
Jennifer Lawrence
Meryl Streep
Cate Blanchett
Rob Morgan
Jonah Hill
Mark Rylance
Tyler Perry
Timothée Chalamet
Ron Perlman
Ariana Grande
Kid Cudi
Himesh Patel
Melanie Lynskey
Michael Chiklis
Tomer Sisley
Paul Guilfoyle
Robert Joy
Jack Alberts
Ting
Lance A. Williams
Shimali De Silva
Hettienne Park
Chris Evans

Direção:
Adam McKay

Produção:
Adam McKay
Kevin J. Messick

Fotografia:
Linus Sandgren

Trilha Sonora:
Nicholas Britell

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